Editorial extraído da edição de setembro de 2023 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.
A vida financeira do RelevO é dividida em quatro faixas. Por meio delas, estabelecemos metas de arrecadação, partindo do 1º dia do mês até a última semana – quando imprimimos o Jornal. Com este controle, conseguimos observar as quedas de arrecadação e os períodos de maior fluxo de caixa.
Ter um controle básico de entradas e saídas nos permite averiguar meses mais complicados e outros mais tranquilos, quando até podemos colocar contas em dia com antecedência ou planejar o aumento de tiragem. 2023 tem sido um ano mais complicado, apesar do cenário mais otimista previsto no início do ano.
Temos muitas especulações possíveis a respeito das dificuldades financeiras pelas quais passamos — e já falamos sobre isso diversas vezes, sob o risco reconhecido de sermos repetitivos. Contudo, queremos trazer um novo aspecto dessa faceta administrativa que tanto nos suga energia: a nossa falta de causa.
O RelevO, como alega nosso projeto editorial, não é financiado por nenhum partido, nenhum banco, nenhum coletivo literário ou grupo que resolveu ter um Jornal pra chamar de seu. Muito menos algum herdeiro entediado, infelizmente (se você é um, entre em contato conosco – não estamos brincando!).
Os motivos do nosso surgimento não são necessariamente nobres: vontade de ler; vontade de escrever (menos); vontade de encontrar diversão num mundo com tédio, mas sem herança. Será a falta de um propósito mais elevado a principal razão para causamos menos interesse quando estamos em dificuldades?
Seguindo a mesma lógica, mas pela rota contrária: será que as pessoas têm menos propensão a “ajudar” em comparação com participar de uma campanha vitoriosa? Isto é, se mascarássemos nossa contabilidade e concentrássemos nossas forças em parecer muito legais, um projeto mega impactante, será que conseguiríamos apelar para o “FOMO” de cada um? Quem quer financiar uma barca furada?
São perguntas honestas, não retóricas. Se tivéssemos as respostas, pouparíamos todos nós (como dito, não gostamos tanto assim de escrever). Sem muita paciência para estratégias, métricas, indicadores, buzz, conversão, leads, lead magnets, lides (“f*d*-se que a Britney Spears tá grávida de um cavalo”), metas, redes sociais em geral e, basicamente, qualquer coisa que permita alimentar a doença do crescimento na nossa realidade, seguimos assim. Isto é, com organização e disciplina, mas sempre meio à deriva. Os instrumentos são baratos e improvisados, mas familiares. Produzem melodia. Acompanhamos o baixista e nos viramos. Quando as luzes se apagarem e o bar fechar, não insistiremos. Ninguém vai se jogar no chão e espernear. Em 14 anos de existência, conseguimos evitar o proselitismo e a demagogia. Também conseguimos nos divertir. Parafraseando Paulo Leminski – o que, incrível e ironicamente, talvez nunca tenha acontecido nesse jornal de alma e CEP curitibanos –, isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar ao buraco. Uma boa leitura a todos.