Na falta de um francês melhor, ser guache na vida

Editorial extraído da edição de outubro de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


No editorial de setembro, mencionamos a revolução silenciosa do impresso em tempos digitais. Temos alguns motivos para acreditar em uma espécie de reposicionamento do impresso em tempos de adoecimento pelo uso excessivo de telas.

Ao mesmo tempo, tal qual o time pequeno que perde inúmeros gols fora de casa e sai derrotado por 1×0 no final em um lance isolado, fomos punidos pelos deuses do papel-jornal por arriscar tamanho otimismo: tivemos, no mês passado, um dos mais difíceis períodos de arrecadação para o custeio geral da nossa operação.

Diferentemente do impresso, em que sintetizamos um período a partir de textos e entregamos números finais, nossa presença digital acompanha um tanto das oscilações de caixa, do espírito do tempo mais curto, essa coisa do dia a dia mais repetitivo, necessário e desinteressante. Chegamos, e sabemos disso, a exagerar na passada de chapéu —que falta nos faz um sobrenome melhor… E cada novo assinante representa mais um voto de confiança, o que soa ao mesmo tempo simbólico e efetivo. O assinante é quem paga a conta.

Nas edições de julho e agosto, atingimos aproximadamente 95% da meta de arrecadação. Um prejuízo aceitável, do jogo e das oscilações da vida financeira de um negócio de pequeno porte. Então, veio setembro… E o resultado é perceptível na página 2, com o balanço geral da edição. Aliás, no Brasil, somos o único jornal impresso que apresenta publicamente as próprias contas.

E quanto custa, afinal e mensalmente, a operação RelevO? Em torno de R$ 10 mil, puxados, sobretudo, pelo custo de gráfica e de distribuição. O custo de pagamento de autores, além da equipe editorial, não pesa tanto porque, enfim, não remuneramos bem, embora não exista alguém não remunerado nos processos internos do periódico, dos autores aos empacotadores.

Por coisas que poderiam ser explicadas, quem sabe, pela projeção de signo, o editor acumula as funções de curadoria e pagador de boleto — em inglês soa mais imponente: publisher. Ou seja, seleciona textos, com o auxílio do editor-assistente e criador-culpado pelos textos da Enclave; encaminha dúvidas ao Conselho Editorial; conversa com possíveis ilustradores; questiona a resolução das imagens com a gráfica, o corte das páginas, “segue foto em anexo”. Essa é a parte realmente divertida.

E para lidar com tantas oscilações de nascimento & desenvolvimento, o lado B de gerirmos um pequeno negócio para seguir gerando divertimento, contamos com o senso de comunidade do RelevO, essa coisa que, ao longo do tempo, fomos criando, um certo jeito de se relacionar com as coisas que envolvem a escrita, a leitura e a discussão literária. Em suma, nosso senso de comunidade se constrói a partir de um ecossistema de trocas, apoio mútuo e pertencimento em torno de uma palavra ligada na outra, pagando contas e virando páginas.

Uma boa leitura a todos.