Baú: Claudio Bojunga

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Segundo Renato Archer, com poucas exceções, nenhuma chefia tradicional da época falava em desenvolvimento, planejamento, quilometragens. De repente, a população começou a ouvir expressões como quilowatt per capita que assustavam os políticos tradicionais de todas as correntes. É conhecida a frase do coronel maranhense Vitorino Freira: “Quero lá saber de quilowatt, quero saber é de meus amigos”. Juscelino usava outra linguagem. Queria quilowatts, luz, força, estradas. Queria tirar o bolor de Minas. Os rotineiros o chamavam de leviano, mas o povo gostava que estivesse de bem com a vida, da sua gargalhada franca e ruidosa, do seu desassombro em face da inveja, de como saboreava as viagens e serestas.

Em Poços de Caldas, Juscelino entrava nas serestas do prefeito Agostinho Junqueira. Em campanha, era capaz de fazer cem quilômetros para garimpar um voto no distrito de Capim. Gostava de desarmar os espíritos, não perseguia, fazia visitas a ex-adversários da UDN, gostava de flores e de mulher bonita, mas graduava sua sensualidade e galanteria, aquém da concupiscência, pela prudência política, pelo background religioso, pela crença de que “quem escolhia era a mulher”. Mais importante ainda: não atendia políticos só interessados em nomear inspetores de quarteirão e transferir delegados e professoras. Seu clientelismo era de resultados.

Claudio Bojunga, JK: o artista do impossível, 2001 (ed. Objetiva).