Pedintes

Editorial extraído da edição de maio de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Ao longo de quase 12 anos de existência & suas consequências, o RelevO fez algo além de circular mensalmente e colaborar para o desmatamento de reservas de reflorestamento: pedir.

Desde o dia da criação mental do Jornal, o que mais fazemos é pedir. Foi assim em agosto de 2010, quando conseguimos dois anunciantes para custear a impressão (quando conseguíamos imprimir 1000 jornais com R$ 200). Quinze dias depois, o Jornal começava a circular em não mais do que dez lugares do Paraná, diversos exemplares soltos no banco de passageiros do mesmo Gol 1994 que ainda hoje transporta os fardos coletados na gráfica (com custos que agora aumentam a cada três meses).

Em 2012, ambicionando a estabilidade e o fim da dependência exclusiva de anunciantes, começamos a vender assinaturas, que custavam, então, R$ 50 ao ano. Em pouco mais de dois meses de prospecções, tínhamos 100 assinantes e a esperança de que conseguiríamos mesmo imprimir um jornal de literatura com alguma regularidade. Neste período, demos alguns saltos que podemos considerar, hoje, como excessivamente arrojados para o nosso perfil de investimentos em mais de uma década.

A entrada de assinantes nos levou a tomar medidas de cunho organizacional. Precisávamos entregar os jornais e justificar a confiança daqueles que adquiriam 12 edições antes mesmo de receber a primeira. Ali, aprimoramos nossas planilhas, ampliamos nossa rede de distribuição para angariar mais leitores e chegamos a ter 25 anunciantes em 2015, com edições de 32 páginas e seis mil exemplares de tiragem.

Aí percebemos nosso teto de produção. Com fechamentos confusos e altos índices de erros de checagem, vimos que 32 páginas eram um excesso; também enxergávamos de maneira mais notória os efeitos da crise de formato, com o predomínio do digital e o fechamento de diversas marcas conhecidas da dita mídia tradicional. Tínhamos alguns sinais oscilantes: crescíamos, mas também gastávamos mais energia.

Em 2015, com o aumento de diversos custos (pois veja), como combustíveis e gráfica, começamos campanhas mais agressivas para ampliar o nosso fluxo de caixa. Não foram poucas as noites em que o editor do periódico escreveu para amigos, conhecidos, contatos e qualquer ser humano que pudesse gostar do nosso projeto editorial. “Que acha da ideia de assinar o Jornal RelevO?”. Foi em 2018 que chegamos a 1000 assinantes e pensamos: será possível ter mais assinantes? Acreditávamos que sim – e ainda acreditamos, hoje, com pouco mais de 1100 assinantes (patamar que não conseguimos ultrapassar desde 2019 e que não sofreu quedas severas com as permanentes crises econômicas).

Desde então, o cenário mudou muito. Os custos cresceram ainda mais, os hábitos de leitura mudaram — nos chamam de “experiência offline” —, tivemos uma pandemia, os índices de renovação caíram, as reclamações aumentaram. Ao mesmo tempo, solidificamos nossos processos, nos tornamos ainda mais antifrágeis e convivemos com alguma resiliência com o nosso cinismo, sem fazer clima de terra arrasada, mas também sem deixar de considerar os desafios do nosso meio de atuação.

A pandemia, sem dúvida, foi o momento em que mais pedimos, em que mais apelamos para o nosso senso de comunidade. Ao diminuir a tiragem, cessar a distribuição em pontos físicos e ter os custos aumentados em cadeia, temos cada vez mais dificuldades para abrir novos mercados e dependemos sobremaneira de nossos assinantes.

Não temos vergonha de pedir. Em nossas circulares, destinadas apenas a assinantes e colaboradores, contamos os nossos percalços e os esforços para manter em circulação o periódico que gostamos de seguir produzindo. Não são poucos os dias em que nos perguntamos se não estamos exagerando no drama. E 2022 está mesmo complicado.

Enquanto interessarmos como produto e como projeto literário, pediremos. Quando não for mais possível manter a Operação RelevO, ainda assim seremos gratos por tantos anos e anos em que os nossos pedidos viraram o pagamento de contas, a edição seguinte, a manutenção de nossa circulação. Somos mesmo muito gratos.

Uma boa leitura a todos.