Música para ouvir no trabalho

Editorial extraído da edição de abril de 2023 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


De maneira quase iconoclasta, o editorial do Jornal RelevO de abril não falará de dinheiro, nem reclamará da falta de dinheiro, apesar de, apesar de. De fato, o Jornal RelevO gosta de música. Muito. Mais do que literatura? Talvez. Ao longo da nossa trajetória, certamente nos envolvemos mais em coberturas de shows do que estivemos em festivais literários, e realmente gastamos mais do que ganhamos, solapando o mais básico dos conselhos econômicos. Ao menos, nos mantemos longe das apostas e não acumulamos bens dignos de serem confiscados.

Temos alguma experiência com festivais não literários: cobrimos o Dekmantel 2017, o DGTL 2018, o Dekmantel 2018, a TribalTech 2018 e a Gop Tun 2022. Em todos, produzimos relatos nas páginas centrais – as de maior destaque do periódico. Todos os envolvidos com o RelevO já escreveram sobre música em outras frentes; e aguardamos, ansiosos, por escritores e escritoras que nos digam: “Topam uma pauta sobre o festival de tamborim invertido de Sertão de Camanducaia?”. Acreditamos que escrever sobre a música calha de juntar duas boas formas de expressão e divertimento.

Nossa newsletter de generalidades, a Enclave, também se aventura regularmente a falar de música, de Debussy a Skank – banda que, nesta edição impressa, surge com uma cobertura de quatro páginas. É provável que, a cada dois meses, seu editor se sinta obrigado a tecer comentários sobre algum lenço que serviu de inspiração para determinado clássico do Tom Jobim, ou qual fruta David Bowie comeu no terceiro dia da mixagem de Low [nenhuma].

Nossas centrais também trataram de música muitas vezes, como na edição de fevereiro de 2021, com o Acústicos RelevO: grandes encontros para ideias medianas ou o contrário (recentemente resgatada no nosso Substack). De “Alanis Lorenzetti” a “Noel Rosa por Noel Gallagher”, nos orgulha especialmente o trecho “DJ Marlboro apresenta ‘Águas de maço’”. Também nos deixou muito felizes o projeto Excursão: Aparefrita do Norte para gente sem norte, da edição de março de 2021, o que talvez até comprove nossa tendência à repetição (outra vez saturada com C_D_Sky, nosso DJ de eutanásia das centrais de outubro de 2019). O Jornal RelevO evita bares com voz & violão – inclusive já publicamos o Mapa da Violância nas centrais de novembro de 2019.

“Nele [Mapa da Violência], expomos os estabelecimentos com maior perigo de ocorrência de voz & violão de sua cidade – qualquer cidade, pois a voz & violão é imanente, pervasiva e destrutiva. Nosso intuito é claro: queremos que o cidadão digno se proteja. Não queremos que você seja convidado para um aniversário do seu amigo que é, na verdade, uma apresentação de voz & violão do seu amigo – a 10 reais de entrada! Fuja dos tocadores de violão. Não seja amigo de tocadores de violão. Não consuma voz & violão.” (RELEVO, novembro de 2019, páginas centrais).

“SOBRE O BUSLOOP

Família, silêncio, paz e harmonia com a natureza: nada disso faz o menor sentido para o BusLoop, que se projeta para o desgraçamento mental mais violento da sociedade desde as Cruzadas. Visando à completa deterioração do corpo, da cabeça e da alma, a excursão promete uma viagem só de ida para os pesadelos individuais com os melhores beats e synths e drops de qualquer imaginação impulsionada por enteógenos” (RELEVO, março de 2021, páginas centrais).

“Ninguém precisava de um DJ de eutanásia até eu soltar uma virada cabulosa nos segundos derradeiros de Alessandra Pierini Domingues, vítima de uma raríssima doença crônica degenerativa. Foi sinistro. E não só porque a avó dela, aos prantos, berrava ‘por que isso tá acontecendo, pelo amor de Deus?!’. Foi realmente sinistro. Na moralzinha. A véia ficou ali urrando qualquer coisa abafada pelas minhas caixas Pure Groove.” (RELEVO, setembro de 2019, páginas centrais).

Diferentemente da curadoria de textos, que busca estabelecer critérios de diversidade de estilos e de autores – senão teríamos um jornal inteiro de trocadilhos como “Pato Fu Fighters” e “Yamancu Bosta” –, nossa cobertura musical é aleatoriamente consistente: apenas seguimos alguns instintos primitivos de diversão e som torando. Não somos muito diferentes da estudante de Jornalismo que idolatra Harry Styles.

Uma boa leitura a todos.