Editorial extraído da edição de dezembro de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.
2024 foi e ainda é um ano que merecia virar personagem do RelevO: cheio de nuances, tropeços e desvios, daqueles que a gente acompanha com uma mistura de desconfiança, preocupação e esperança, torcendo para um bom ponto de virada, como se o arco narrativo estivesse próximo do final feliz. No limite, como todo bom personagem de humor caricato, 2024 conseguiu arrancar um sorriso de leve e alguma faísca de otimismo. Nos vemos na canção ‘Aprendizagem’, de Yamandú Costa (não confundir com o personagem Yamancu Bosta, que já constou em nossas páginas): “Quando lembro cada página do meu passado / Nunca me arrependo / Do que foi lembrado / Do que foi riscado / E dado pra viver”. Todos temos o nosso tempo de aprender.
No aspecto financeiro, foi especialmente desafiador. A instabilidade nos obrigou a fazer malabarismos que dariam inveja a qualquer trapezista. Mas sobrevivemos, sobreviveremos. Aliás, sobreviver parece ter virado nossa especialidade desde 2010 – e assim pensamos até quem sabe termos o mínimo controle dessa trama, apesar de não vivermos uma semana sem alguém sugerir que sejamos um periódico online.
Aprendemos muito. Descobrimos que consistência e teimosia são ferramentas indispensáveis quando os recursos estão em falta. Com mais coragem que precisão, seguimos publicando. Fomos em diversas feiras literárias independentes pela primeira vez – e não passamos vergonha. Aliás, até fizemos bonito, se nos permitem a modéstia de quem levou uns “não” educados antes de ouvir alguns “sim” pelo caminho. O RelevO tem 14 mil seguidores no Instagram e uma coleção de mais de 27 mil negativas ao longo de sua história. Somos especialistas em obter recusa. Outro número interessante: depois da assinatura, mais de 3.500 indivíduos desistiram de seguir conosco ao longo de quase 15 anos.
Outro marco importante foi ampliarmos nossa distribuição. Agora, temos leitores em lugares onde nem sabíamos que chegaríamos, além de estarmos cada vez mais próximos de chegar ao patamar logístico que tínhamos antes do início da pandemia. E sim, ultrapassamos a marca de 1.000 assinantes. Sabemos que isso não nos torna nenhum gigante do mercado, mas, para nós, é um feito enorme. A cada assinatura renovada, a gente festeja como quem desenterra um tesouro escondido no quintal. (Ok, sem exageros – é algo mais prosaico, como encontrar dinheiro esquecido no bolso do casaco.)
Queremos que 2025 seja o ano do Jornal. Nosso plano é participar ainda mais de eventos independentes. Queremos que a nossa lojinha finalmente saia do papel e comece a funcionar – e queremos lançar o livro dos 15 anos do RelevO, com os nossos melhores textos publicados de 2015 pra cá. Afinal, temos o RelevO 5 Anos, que, inclusive, pretendemos relançar no pacote de novos erros editoriais.
Também estamos de olho em algo ousado: ter menos prejuízo. Quem sabe até um dia chegar no tão sonhado “se pagou”. O breakeven constante. 2024 foi um ano de nove meses no vermelho. Mais que isso, queremos continuar nos divertindo. Publicar bons textos, seguir como um espaço onde leitores e escritores se sintam em casa, mas não a ponto de querer trocar assinatura por texto publicado.
Que venha 2025, portanto! Continuaremos aqui, materializando o calendário, rabiscando futuros, inventando projetos e provando que um jornal independente pode, sim, seguir em frente – mesmo com alguns descompassos. Quem sabe, no próximo editorial, estaremos comemorando não só a sobrevivência, mas também o encontro leve entre a incerteza e a nossa narrativa.