Coluna de ombudsman extraída da edição de outubro de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Quando nos tornamos entusiastas da literatura e dos livros, há uma lista de “bandeiras” para carregar além do ato da leitura em si. A instabilidade do mercado editorial, a visibilidade de novos autores e de pequenas editoras, a baixa remuneração dos profissionais, a qualidade dos textos ou da crítica são alguns temas que também merecem atenção.
É preciso reconhecer, por exemplo, que visitar bibliotecas, livrarias, sebos e feiras nos proporciona um tipo de experiência cultural insubstituível. Nós criamos uma “cartografia sentimental” (para usar um termo explorado por pesquisadores da área). A falência de uma livraria, por exemplo, nos atinge como leitores, já que com ela perdemos, inclusive, um possível ponto de distribuição de periódicos. E há quem conheça jornais ou revistas de literatura apenas porque frequenta tais ambientes.
A edição de setembro do RelevO publicou uma carta do leitor que se aproxima dessa ideia. “Se uma guria ou piá forem todos os meses na biblioteca pública da sua cidade buscar um exemplar do RelevO pra ler de cabo a rabo, e eu puder proporcionar isso, já tô felizona”. O depoimento da leitora ajuda a explicar por que, mesmo com distribuição gratuita, o jornal precisa de assinantes: para proporcionar experiências para mais pessoas, não somente para quem recebe o impresso em casa. Na coluna Maidan da mesma edição, encontramos outra questão preocupante: Mitie Taketani, a curadora da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, alerta para a invisibilidade desse tipo de narrativa, seja em editais públicos, feiras ou editoras.
E já que defendemos a valorização da produção literária em diversos âmbitos, acrescento que uma das formas de incentivo é por meio da informação, da memória. Nesse aspecto, sinto falta de ver no jornal mais informações sobre os autores que colaboram em cada edição. De que cidade eles são? Já têm alguma obra publicada? Hoje, não sabemos mais do que seus nomes. Se um dia o RelevO se tornar objeto de estudo acadêmico, o pesquisador terá dificuldades para entender qual é o perfil dos autores publicados. Incluir esses dados seria uma contribuição à história do jornal e aos escritores.
Fortalecer os periódicos literários, remunerar os autores (sei que o RelevO tem essa pretensão) e cobrar cada vez mais qualidade das produções são caminhos necessários. Políticas públicas, quando existem, também podem funcionar como estímulo à produção e à circulação de bens culturais. Mas, infelizmente, neste caso andamos a passos lentos: sugiro uma busca por tópicos relacionados ao incentivo à leitura nos planos de governo dos candidatos à Presidência da República. Já adianto que o leitor vai se decepcionar.
Da redação:
Gisele Barão, passaremos, a partir da próxima edição, a publicar um pequeno perfil de cada colaborador, com cidade de nascimento, cidade atual, principal livro ou espaço de divulgação do trabalho. Não fizemos isso antes por mera implicância com os autores/as que nos mandam, em vez de informações sobre o próprio trabalho, dicas de lugares para viajar ou nos contam sobre seus apreços por vinhos baratos ou por animais de pequeno porte. Vamos resolver isso com um pequeno guia de envio de bios no site.