Coluna de ombudsman extraída da edição de outubro de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Antes de tudo, meu apoio à greve dos trabalhadores dos Correios. Ódio e nojo à política de aviltamento e desmanche deste serviço público. Falo por mim, não pelo RelevO.
Otimistas com a agora inevitável venda dos Correios — como, aliás, quaisquer otimistas — não perdem por esperar. Sei, contudo, que, em razão dessa circunstância, muita gente não recebeu a edição de setembro.
Foram privados de uma das mais desbragadas publicações do jornal, que começa se oferecendo em editorial como uma bola na boca à tacada da multinacional do xarope de taurina gaseificada.
Pensem comigo: que uma parcela da população que mistura esta desgraça na bebida seja grande o suficiente a ponto de gerar lucros torrados com patrocínio a equipes idiotas de futebol e Fórmula 1 é sinal de que a civilização ocidental é apenas luz de uma estrela morta. E já vai mesmo tarde a civilização ocidental.
Voltando ao RelevO de setembro, há uma seleção poética alta, com destaque aos textos de Júlia Raiz e Nathália Fernandes que ficam mais belos com a fina diagramação de motivos urbanos.
A boa reflexão filosófico-literária de Lucas Sanches Lima, daquelas que eu sempre gostei de ler no RelevO (e quem mais publicaria?), só perde o posto de melhor texto do mês para a entrevista imaginária com o tenista ilhéu.
Sou devoto antigo deste gênero renegado. Na página central, as melhores qualidades de uma boa “imaginária” brilham a arcada dentária da cabra vadia no terreno baldio: vileza, blasfêmia, grosseria e despropósito. Muito bom. Que se repita.
pita. O Jornal teve a fineza de dar grande espaço aos leitores e agradecer a cada um de seus colaboradores da década passada. Como em qualquer rol longo de nomes, abre-se a chance para uma divertida busca de antigos parceiros e parceiras sexuais, credores e desafetos literários em ordem alfabética.
Este é o caldo da edição de setembro: a mais cara e invisível da história do RelevO. Poética e autolaudatória. Efusiva e vazia. Como uma festa de aniversário nas férias na qual os coleguinhas convidados não apareceram.