Baú: Fernanda Torres

Extraído da edição 129 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.

“O Brasil é uma ilha continental, e a gente é isolado pela nossa língua. Ao mesmo tempo, a gente consome a nossa própria cultura. A gente tem total interesse por nós mesmos, porque nós somos uma potência de 200 milhões de pessoas. Somos um país complexo – a gente não é um país periférico. A gente tem as nossas próprias questões. Eu conheço a cultura francesa, a americana, a russa, a alemã, a italiana, mas eles não conhecem muito a brasileira. E às vezes eu tenho pena de quem nunca leu Machado de Assis, de quem não conhece o Eça de Queiroz. Agora as pessoas descobriram a Clarice Lispector e escrevem assombradas. Como é que eu posso falar com alguém que não sabe quem é Nelson Rodrigues, que não sabe quem é Candeia? Então, ao mesmo tempo, o Brasil tem esse complexo de vira-lata dessa não comunicação com o mundo; por outro lado, o Brasil tem pena de o mundo não saber o que a gente sabe. Quando alguém fura a fronteira e leva algo que nos é pessoal para fora, é essa espécie de sentimento de ‘olha o que a gente tem de rico’. É um sentimento de orgulho nacional bacana, bom de sentir.”

Fernanda Torres, esses dias, Uol Prime.