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Para entendermos por completo essa peculiar página, vale a pena contextualizá-la. Conforme anuncia a assinatura, seu autor é Terry Gilliam, consagrado como membro do Monty Python.
Enquanto integrante do grupo de comédia, ele também codirigiu o filme Monty Python: Em Busca do Cálice Sagrado (1975) com Terry Jones. No começo de 1985, pois, Gilliam lançou seu filme Brazil na Europa. Não à toa, o filme é altamente inspirado por 1984, de George Orwell.
Quem já assistiu à obra, cujo elenco reúne Jonathan Pryce, Robert De Niro e até Michael Palin, tem ideia de que o final da película é no mínimo atípico. Somado ao fato de conter mais de 140 minutos de duração, seu desfecho não agradou nada aos distribuidores norte-americanos da Universal, que atrasaram o lançamento de Brazil.
Sid Sheinberg, diretor da companhia, queria revisar o longa-metragem até que esse totalizasse 90 minutos e oferecesse um final mais positivo.
Sendo assim, Terry Gilliam, com seu trabalho já rodando a Europa e sem previsão de lançamento nos EUA – mais de um semestre havia se passado –, desafiou a Universal de duas maneiras. Primeiramente, questionou Sheinberg por meio da página acima, um anúncio comprado na revista Variety.
A resposta do ricaço, claro, não foi nada positiva: “se o filme é tão bom em sua forma atual, arranje outra pessoa para comprá-lo”. Ele considerava a película totalmente desprovida de potencial comercial.
E então, para enfrentar os distribuidores na prática, Gilliam simplesmente exibiu o longa-metragem diretamente para a associação de críticos de Los Angeles, sem autorização alguma para tal. E o filme começou a ser premiado. Reiteramos: sem ter sido lançado.
A Universal se rendeu diante do contexto bizarro, liberando uma edição de 132 minutos supervisionada por Gilliam. E o lançamento, aliás, de fato conquistou um prejuízo de milhões nos Estados Unidos.