Whisner Fraga: Qual é o meu papel?

Coluna de ombudsman extraída da edição de agosto de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Você, leitor, em uma pesquisa básica, poderá constatar que o papel principal de um ombudsman é justamente defender seus direitos. Pensando em um jornal literário, há que se reinterpretar essa função. Qual seria meu papel? Como escrever um texto com a intenção de assegurar a você, leitor, uma publicação de qualidade? Sim, porque não existe lógica ao se falar de isenção, de imparcialidade, quando o suporte é a ficção e a poesia. É evidente que até os critérios de qualidade acabam se tornando frágeis se tratamos de obras de arte.

Ao mesmo tempo, não podia descambar para a minha zona de sossego, que é a crítica. Não é objetivo deste ombudsman confeccionar qualquer tipo de estudo sobre a qualidade literária ou os méritos do que é publicado neste jornal. Todavia, não há como fugir inteiramente ao tema. Então, a pergunta mais óbvia é: como os textos publicados são selecionados? A julgar pelo expediente, há um pequeno conselho editorial, formado por alguns idealistas, que acreditam que nosso país necessita de cultura. Não é pouco. Entretanto, penso que, com quatro anos de existência, está na hora do segundo salto.

Assim, é urgente que se pense em um conselho editorial mais amplo e heterogêneo, para que o jornal cumpra outro papel importante: o de descobrir novos talentos. Há uma temerária alternância no padrão dos textos publicados, o que não é bom para o leitor. É necessário que se proponha alguma saída para tal desafio. Que tal pedir aos assinantes que ajudem na seleção? Imagino que um concurso literário ajude não só com o aprimoramento das crônicas, contos, poesias e outras narrativas publicadas, como também com a publicidade. O RelevO precisa chegar até mais pessoas interessadas em literatura.

A partir do inevitável destino de crescer, é necessário pensar o verdadeiro objetivo da publicação. A meu ver está claro que o periódico quer investir em ficção e em poesia. Ao se dedicar à literatura, dá mais espaço a revelações, o que é fantástico. Os medalhões que vira e mexe aparecem nas páginas servem de atrativo ao leitor. Ótimo. A ressalva fica por conta da arte visual. Neste sentido, está servindo apenas de moldura para a palavra, o que talvez precise ser mudado.

Vinha trabalhando nesta estreia quando descobri que me faltavam dados: o que o leitor deste jornal pensa? O que o RelevO publica, de fato? Ataquei inicialmente a segunda questão, tratando de ler todas as páginas do periódico, publicadas desde outubro do ano passado. Assim fiz. A primeira pergunta enviei ao editor, que me respondeu prontamente com algumas indicações. Posso, portanto, continuar a dissertar sobre as necessidades dos leitores.

Sobre as minhas leituras, posso defender que a diagramação tem avançado. As páginas limpas nos permitem uma leitura sem traumas. Sugiro, entretanto, que se aumente o número de artistas visuais e que, como já foi escrito, se repense o papel deles no periódico. Às vezes se torna um pouco cansativo encontrar o mesmo traço, página após página. A fotografia, por exemplo, é pouco explorada pelo jornal. Nem preciso dizer que há muita gente de talento por aí e não é difícil encontrá-las. Mesmo quando um poeta engasga com os versos ou um contista tropeça em lugares-comuns, é possível encontrar alguma arte em aquarelas, em desenhos. Fica a recomendação.

Outro ponto positivo é a prestação de contas apresentada logo no início, em todos os números. Neste sentido, também é necessário construir o segundo passo. O jornal precisa crescer e, para tanto, deve buscar mais assinantes, mais patrocinadores. É muito interessante perceber que existem algumas propagandas de livros no periódico, acho mesmo que os autores deveriam abusar desse expediente. Assim, seria igualmente importante o apoio de editoras – as independentes, principalmente, que vêm ganhando espaço no Brasil, pela qualidade de suas publicações.

Espero poder começar um debate sobre o papel de um ombudsman em um jornal independente. Assim, gostaria de estar mais próximo do leitor, para construirmos alternativas para que o RelevO avance e ganhe cada vez mais importância no cenário da cultura brasileira, tão carente de publicações. Peço aos colaboradores, editores e leitores, que me enviem mensagens, para que comecemos a discussão a respeito deste jornal. Deixo meu e-mail: wf@whisnerfraga.com.br. Muito obrigado aos editores, pelo convite. E, querido leitor, espero que eu não o decepcione nestes meses em que estarei desempenhando esse trabalho de ouvidor-geral.

 

Nota do editor:

A partir de setembro estrearemos um novo projeto gráfico com o intuito de aprofundar as relações entre palavra e imagem. De fato, está mais do que na hora de transparecer os critérios de seleção de textos e envolver leitores e nossos assinantes no processo. A próxima reunião do conselho editorial tratará de como colocar isso em prática, assim como as demais sugestões, imprescindíveis para o futuro e crescimento do periódico.