Rafael Maieiro: Kamehameha de papel

Coluna de ombudsman extraída da edição de maio de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


O RelevO (orelhas de abano?) que você tem em mãos já não é apenas um impresso, é uma plataforma transmídia que encontra seu auge no formato de bolinha de papel.

Esse formato, poderia dizer, essa persona do ser social rs), nos acompanha desde o simples jogo escolar, bem antes da 5ª série, e até agora, como protagonista de atentados terroristas.

Faz a janelinha! Bem me lembro, jovens leitores, quando ela acertou a careca de um candidato à Presidência, o levou ao hospital, com cobertura de toda a mídia. Olhando de hoje, posso afirmar que foi a polêmica jamais vista do VAR. Daquela vez, a simulação foi revelada. Não entendeu? Transmídia? Dá um Google. Ou pede um QR Code.

Por isso, senhoras e senhores, não se enganem: o RelevO, com suas armas de destruição em amassa, é uma célula literário-humorística (CeLiHumor) que põe em risco a segurança nacional. Golpistas de plantão, neonazis e afins: abram o olho sobre as intenções deste Jornal! Esqueçam o Lula e o Xandão!

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Já que não taxam as grandes fortunas, vamos tachar os grandes escritores:

— Eu queria ser palhaço.
— Você? Não seja ridículo. Vida de palhaço não tem graça. Você acha fácil fazer cem pessoas caírem na gargalhada? Continue dando capim aos elefantes e carnes ao tigres.
[…]
Um dia, o palhaço, seu amigo, chegou e disse, bem baixinho:
— Vamos fugir daqui.
— Mas não é perigoso?
— Afinal, garoto, você quer ou não aprender a arte da guerra?
Só então o garoto reconheceu no palhaço o velho da ponte. E ficou muito confuso.
— Quando você acha que a gente deve tentar fugir? – perguntou o velho.
— Bem, de noite, quando todo mundo estiver dormindo e tudo estiver escuro.
— Você não aprende mesmo, hein? De noite é a hora em que os guardas estão com os ouvidos como os de um tigre. Qualquer movimento, qualquer ruído, estamos perdidos. Vamos fugir amanhã de dia, na hora que ninguém imagina que alguém iria fugir. É a nossa única chance.
— E se não der certo?
— Então os tigres vão ter cozido no almoço.
(LEMINSKI: Guerra dentro da gente, Editora Scipione, 1990, p. 19-20)

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Outros comentários sobre a edição passada (abril) ou quase:

[bolinha de papel standard] • p. 23

Sim, o RelevO tem QR Code. Evitem esse recurso: ele nos rouba a alma.

[bolinha prateada de papel de cigarro] • p. 8

“santa maré, mãe das rochas / e lantejoulas caídas de estrelas”. Este verso, aquele poema de Piera Schnaider valeu por quase tudo que eu já li no RelevO.

[pequena bolinha de papel na agulha de um zarabatana-bic] • p. 3 [cartas]

Centrar fogo na orelha direita dos coleguinhas do Rascunho!

[recorde mundial de embaixadinhas com bolinha de papel] • todas as páginas

Tá repetitivo, eu sei. Mas a integração entre artistas visuais (na edição em questão, Oli Maia) e projeto gráfico (Bolívar Escobar) está cada vez melhor. Uau de uau mesmo.

[bolinha bet] • página secreta

Um dos contos me irritou bastante. Odd 171. Adivinhem!

[a bolinha de papel de Zenão] • p. 5

Os inúmeros arremessos deste colunista nunca chegam ao alvo, a testa do leitor. Mais um engarrafamento no Rio de Janeiro.

Não assassinado,
Defunto autor