Dívidas, juros, dividendos, música

Editorial extraído da edição de junho de 2023 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


O Jornal RelevO, em um esforço quase acima de suas capacidades papelísticas, não mencionará, em seu texto-apertura de junho, as causas e os efeitos de nossas dificuldades financeiras. Falaremos de música.

Quando fundamos o Jornal, em agosto de 2010, desejávamos ser um periódico de cultura, sobretudo de literatura, principalmente pela relação (tóxica) do editor com a escrita, mas também queríamos publicar textos sobre música, cinema, teatro, ensaios, aleatoriedades (essa palavra boba…) divertidas para quem estivesse em busca de um texto saboroso.

Criando crônicas, perfis e obituários, o editor ocupava com regularidade um espaço que podia ser destinado a outros escritores e escritoras, usuários melhores da língua portuguesa. Felizmente, o hábito de preencher obrigatoriamente as páginas com o próprio nome foi abandonado com o tempo (ou com a maturidade). Aí já estávamos em 2014 e começamos a abrir espaço para o humor nas páginas centrais, sem precisar destacar quem escreveu, RG, CPF, se estudou na USP. Talvez tenha começado nesta época a nossa aversão a bios e a nossa busca por diversão sem pedigree.

Reparamos também, ao longo desses quase 13 anos, que sempre publicamos muitos textos com relação direta com a música, de relatos de festivais a trechos de canções na contracapa. Nunca assumimos essa faceta como um de nossos norteadores editoriais. Não sabemos dizer bem o porquê, mas sentimos que este é o momento de nos entendermos melhor com o passado e o futuro de nossos desejos, aprofundando nossa relação entre música e literatura.

A música sempre fez parte do Jornal como uma espécie de região sem fronteiras, aberta às experiências, uma ferramenta de conexão. Recentemente, em abril, publicamos um especial de quatro páginas sobre o Skank escrito pela Marceli Mengarda, responsável pela Burocrata Carimbos e projetista gráfica da página impressa da Enclave – que, aliás, trata de música com apuro (não confundir com apuração) e regularidade.

Queremos abrir, portanto, mais espaço em nossas páginas para relatos peculiares, quem sabe em um reencontro entre texto e ritmo. Notamos, ainda, uma notória falta de cobertura musical um pouco menos… como podemos dizer… caça-clique. (Não podemos esquecer o nosso peculiar projeto, o sensacional Brazilliance, descontinuado – por ora – para descanso do alemão.)

Nesta edição, trazemos um relato de quatro páginas sobre a nossa cobertura do C6 Fest, que aconteceu em São Paulo entre 19 e 21 de maio. O evento teve Kraftwerk e Underworld como os líderes da programação. De modo geral, gostamos muito de música, gostamos de música eletrônica e acreditamos que os relatos de quem estava lá podem proporcionar experiências interessantes para os nossos leitores. Esperamos que se divirtam.

Uma boa leitura a todos.