Sobre o fraque

Extraído da edição 44 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.

Na próxima vez que chamarem O Editor para qualquer evento diurno – um chá de bebê, uma volta no parque ou a comemoração de habeas corpus da Tia Lúcia –, carregue a certeza de que O Editor usará um fraque. Se você não sabe, ou não se lembra daquilo em que consiste um fraque, seu plebeu medíocre, permita-me reforçar sua memória:

Tratado de Versalhes, 1919: 3/4 dos integrantes utilizaram fraque. Você, que não assina Tratado algum, usa zero fraque. Coincidência???

Brincadeiras à parte – Tia Lúcia certamente apodrecerá na cadeia –, um fraque é a composição que a etiqueta formal exigia até o pôr-do-sol. Não à toa, este traje é conhecido como morning dress, embora a palavra em português provenha do frock, que pode ser entendido como a peça isolada deste terno (qual o tailcoat), ou como uma espécie de sobretudo aristocrático (justaucorps) que hoje mais remete a um cosplay de Dr. Who.

O fraque, enfim, requer de seu usuário um colete da cor do terno. Sob a gravata, aceita camisas de gola removível, as quais hão de ser lembradas na próxima vez em que esta newsletter oferecer páginas de estilo. Também orna perfeitamente com bengala, cartola e boutonnière. Não sabe o que é uma boutonnière? Ha-Ha-Ha, como é penoso dialogar com mendicantes. Aliás, que não passe batido: você de fato leu a palavra “orna” na Enclave, seu carrapato desvalido.

Em suma, não há maior caricatura de riqueza do que um fraque, e é justamente por isso que, a partir do momento em que a gelatina circular da moda o redescobrir, você se lembrará do nosso manifesto pelo retorno imediato do traje em questão. P.S: Dos quatro representantes na fotografia cima, adivinha qual acabou apelidado de “chorão” e ainda abriu caminho para Mussolini? Pois é. Usem fraque, oras.