Coluna de ombudsman extraída da edição de dezembro de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
No começo da carreira convivi com um jornalista da antiga que tinha fama (exagerada) de polemista e vivia em guerra aos leitores que escreviam cartas à redação. “Escrever para um jornal é a pior forma de solidão”, repetia. Sua rotina sadomasoquista começava com desaforos matinais aos críticos até o dia em que desafinou com a pessoa errada (“vá chupar o pau do Felipão”), o que lhe custou o emprego.
Em geral, os leitores são odiados pelas publicações. Em especial, quando cobram erros e posições. Não acontece neste RelevO, que, se pudesse, levava cada um de seus leitores para jantar fora. Aqui, não há a figura do editor que responde as reprimendas com ironia arrogante. A maioria das publicações que precisam de assinantes mantém um.
Em revistas como Mad, Placar e Piauí — para falar de tempos e públicos diferentes —, a voz que confrontava os leitores era uma das mais lidas. No Pasquim, Henfil e Jaguar, estrelas da companhia, faziam este trabalho.
O RelevO terceiriza a função ao seu ombudsman, órgão impessoal e transitório, que deveria fazer a defesa dos interesses dos leitores expressos principalmente em suas cartas, mas hoje falha por inépcia e preguiça.
Na edição de novembro, porém, uma carta se destaca. A leitora Rosilene Gomes, com a gravidade de sua prosódia lusófona, faz a pergunta fatal: “Boa tarde !! podes me dizer o que é o Relevo ?”
Que grande questão. Existencialismo no Estácio. Não pode ficar sem resposta.
Em parte, o editorial se ocupa de respondê-la: um jornal literário sem mecenas e que não encosta em dinheiro púbico. E que, portanto, não precisa lamber botas e puxar sacos. Nem se fazer de descolado para agradar ninguém. E que às vezes (pode, por que não?) é paneleiro, desagradável, pornochanchável. Abre páginas para quem não escreveria em nenhum outro lugar e fecha para quem mais queria aparecer.
É uma amálgama desigual que mistura textos de hierarquia como os de Ranieri Carli, Racuel de Queiroz e do grande Rodrigo Madeira a outras prosas mais juvenis. Assim é que deve ser à “moda do lobo, sem amigos, sem mulher e filhos”. Termino destacando as páginas das duas poetas Julia Raiz e Maria Luiza Artese, que me foram apresentadas aqui e torcendo para que este ano de merda termine sem matar mais amigos meus.