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Há algo de adolescente masturbador, sexualmente virginal ou travado e bobo nas maiores fantasias de Lovecraft, para ficar só nele, pai espiritual de toda essa gente. Livros (e filmes, claro) de terror, na verdade, impressionam mais, quando se os olha friamente, pela força que as superstições, as paranoias sexuais, os atavismos, as criações familiares rígidas e puritanas, as infantilidades persistentes, podem ter. A gente fica com a impressão de que esses autores simplesmente exorcizam, indefinidamente, infâncias povoadas por monstros que, se abertos o armário, se dissipariam, ou por criaturas demoníacas (sic) que, se o criador delas fosse mais sincero e mais audacioso ou menos indulgente com os próprios medos e hesitações, se dissolveriam depressa num ato sexual bem praticado, com o devido prazer e com o devido conhecimento de genitais que, em fantasias paranoicas, assumem até tentáculos e antenas e tecem enormes fantasias de grotesco com secreções, viscosidades, etc. O filme de terror típico sempre traz algum jovem crédulo ou tecnicamente ignorante (porque o gênero ficou decididamente adolescente) que tateia diante de uma realidade assustadora, punitiva, ligada à repressão sexual ou a algum terror racista ou xenofóbico, que lhe foi inculcado por uma educação torta, com base na excessiva correção WASP. Seus pais reais, com seus preconceitos, rigores e fanatismos (basta lembrar a mãe de Carrie, a Estranha) são muito mais horrendos e talvez sejam os únicos verdadeiros horrores a produzir outros tantos, de fantasia. A puerilidade desses livros e produções, que se prolonga e rende muito dinheiro, dá o que pensar. Para ficar apenas nos filmes que adaptam obras de Lovecraft, como são ruins! Quanto mais pomposo e “ciclópico” (é outro dos adjetivos constantes do autor) o horror, mais a tendência a ficar ridículo, risível, na tela. Só se assustam os pouco sofisticados.
Chico Lopes, Revista Germina, 2014.