Editorial: Enclave #100

Extraído da edição 100 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.

Esta é a edição #100 da Enclave, a newsletter que completa, oras, 100 edições.

Começamos em março de 2015 e, desde então, passamos por algumas interrupções, bem como evoluções de formato (quem diria que escrever textos diferentes, semanalmente, tomaria muito tempo). Desde a edição #49, em março de 2020, não paramos.

A Enclave, como um… enclave, localiza-se inteiramente dentro do Jornal RelevO, mas é conduzida por conta própria. Buscamos tornar o RelevO mais presente no cotidiano digital.

Nenhum de nós (isto é, eu, Mateus; e o editor do RelevO, Daniel Zanella) tem o menor interesse, traquejo ou competência para participar da dinâmica de conquista de mercado digital, o que ora dificulta a expansão do RelevO, ora consolida nossa linha discreta de atuação.

Dessa forma, tentamos nos limitar a nosso já limitado círculo de competência. Nosso site é limpo e oferece todas as informações essenciais a quem procurá-las; nossa newsletter é um mero apanhado de observações sobre a estética em geral; nossas redes sociais prezam por não poluir.

Nos últimos anos, depois de muita prática – e de grandes ensinamentos de grandes amigos –, sentimos ter finalmente encontrado uma dinâmica que não nos toma um tempo exagerado (afinal não vivemos disso), não nos traz a sensação de ridículo e, ao mesmo tempo, gera conteúdo suficiente para manter o RelevO vivo para além de sua distribuição física.

Além da Enclave (gratuita), temos a Latitudes (exclusiva para assinantes do RelevO), editada pela jornalista Amanda Andrade, e as circulares mensais do próprio Zanella, enviadas diretamente aos assinantes. Nas redes sociais, fazemos o mínimo possível publicamente, mas estamos sempre lá, respondendo a perguntas e a qualquer coisa que nos enviam.

Reitero que a assinatura do RelevO custa R$ 60 por ano. Não por mês. Por ano. Hoje, pagamos a todos os colaboradores: ilustradores, escritores, diagramador, mídias sociais etc. Se você bobear, o RelevO está te pagando por alguma tarefa.

Não temos nenhum órgão, empresa, concurso, edital, absolutamente nada por trás. Também não temos família rica. Apenas tentamos ser estúpidos de forma séria e, com esse modelo leve, conseguimos sobreviver e, curiosamente, carregar (sentindo na própria pele) a bandeira da profissionalização em um meio tarado pelo favor.

Ainda temos muito a melhorar, mas gostamos do que fazemos e, mais do que isso, continuamos a fazê-lo. Se você já conduziu qualquer projeto de qualquer esfera, sabe como essa é a parte mais difícil.

Paga que dá tempo

Extraído da edição 66 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.

O RelevO começará a pagar seus escritores e escritoras a partir da edição de setembro. 135 edições depois, mais de 2000 pessoas publicadas, a uma edição de completar dez anos de existência, circulando mensalmente e de modo ininterrupto, finalmente começaremos a pagar os autores e autoras que publicarem no RelevO.

Não é uma remuneração de porte: R$ 60 por publicação, o equivalente a um ano de assinatura do jornal ou a uma boa oferta no Ifood. Contudo, esse é um passo importante na direção de valorizarmos mais a produção intelectual e fugirmos do regime de gratuidade, colaboracionismo e desvalorização da categoria. Passamos quase dez anos tendo o escritor, aquele que dá sentido ao nosso trabalho, como um colaborador, mandando muitos e-mails de negativas de publicação sem sequer oferecermos algo quando publicamos.

Agora vamos pagar quem publica conosco. Não vamos ter qualquer direito sobre o material do autor – vamos apenas pagar pelo direito de usá-lo – e não vamos aceitamos mais chamar quem publica conosco de colaborador.

Nossos passos sempre foram lentos e medidos. Acredito que a nossa estrutura conseguirá absorver os novos custos, em torno de 600 reais a mais por edição, principalmente por conhecermos tão bem quem nos financia e acredita em nosso projeto editorial. É um risco em tempos de crise sanitária e do setor cultural? Certamente. Mas tenha certeza de que para mim sempre foi difícil dormir sob um negócio que vem crescendo aos poucos e que sempre dependeu de quem escreve. É impossível não pensar no absurdo que é o negócio de escrever no Brasil. A lógica compulsória da gratuidade é terrível.

(E, bem, há projetos e projetos. O RelevO não remunerava antes porque realmente não conseguia: temos contas públicas na página 2 a comprovar isso, mas sei que tá cheio de tubarão do meio cultural que se especializa em precarizar o capital intelectual e constrói patrimônio assim, arregimentando colaboradores que trabalham de graça. Lembrando que não somos bancados por ninguém além de nossos próprios assinantes.)

Entramos, portanto, para a categoria das instituições que remuneram mal todo o seu capital intelectual envolvido. De acordo com nosso crescimento, vamos melhorar as remunerações. Obrigado a todos que nos proporcionaram isso tudo. Não teremos festa de comemoração, mas sou imensamente grato por estarmos aqui, vivos e contemporâneos. Considero este o passo mais importante da nossa trajetória de dez anos. Estou muito feliz mesmo.

Em tempo: quem quiser publicar conosco ou nos assinar pode entrar em contato respondendo a este e-mail. Mesmo com o site fora do ar, ainda temos acesso aos mais variados meios de pagamento.

por Daniel Zanella