Extraído da edição 26 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.
MacGuffin, MacGuffin, MacGuffin. Eis um termo utilizado a rodo ao se construir uma narrativa, principalmente cinematográfica. Sua maior característica é não ter grandes características a não ser a possibilidade de levar o enredo adiante. Costuma ser um objeto, e um objeto totalmente substituível, que logo perde importância na trama. O termo foi popularizado por Alfred Hitchcock, que se valeu do MacGuffin diversas vezes.
Em Psicose (1960), por exemplo, o enredo avança por conta de um furto que permite a personagem Marion fugir. O dinheiro em si logo abandona qualquer relevância, e assim o filme se move. A quantia poderia ser um cheque, cédulas, barras de ouro; ao invés de dinheiro, poderíamos ver um amuleto, uma safira, uma declaração importante.
Se ampliamos a definição, atribuímos uma importância maior ao MacGuffin. Isto é, ao contrário de um objeto substituível, sem efeito algum na narrativa (além do próprio efeito na narrativa), teríamos também elementos poderosos, que interferem na trama. Como o anel de Tolkien.
Nas palavras – e na voz – do próprio Hitchcock, um MacGuffin é comumente encontrado em filmes de espiões. “É a coisa de que os espiões estão atrás”. Elaborando anedoticamente, ele o exemplifica com o cenário de dois homens em um trem que se dirige à Escócia.
— O que é esse pacote sobre sua cabeça?
— É um MacGuffin.
— E o que é um MacGuffin?
— É um aparato para caçar leões nas Terras Altas escocesas.
— Mas não há leões nas Terras Altas escocesas.
— Então não há MacGuffin.
Muito além do diretor inglês, que, por sinal, atribuiu a seu colega roteirista Angus MacPhail o nome e o aperfeiçoamento do MacGuffin, a ideia era similarmente utilizada nos filmes mudos com a atriz Pearl White, no início do século passado (vide o pôster de The Perils of Pauline, 1914, no início deste texto).
Neles, os personagens costumavam perseguir algum ornamento, definido por White como weenie. O termo ainda retoma o mito grego de Jasão e os Argonautas, que navegaram em uma nau em busca do velo de ouro, a lã dourada de Crisómalo, um carneiro alado. A árdua perseguição ao velo é um baita MacGuffin, cuja origem cabe provavelmente ao poeta Simônides de Ceos.