Baú: Trevanian

Extraído da edição 108 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.

Nikolai tocou com os dedos o supercílio quebrado. — Não foram os seus guardas, senhor. A maioria dos ferimentos é o resultado do interrogatório ao qual me submeteram os americanos.

— A maioria deles? E os outros?

Nikolai abaixou os olhos na direção do chão e pigarreou. Sua voz estava áspera e fraca e naquele momento precisava ser fluente e persuasivo. Prometeu a si mesmo que não permitiria, nunca mais, que a sua voz fraquejasse por falta de exercícios. — Sim, a maioria. O resto… Devo confessar-lhe que cometi algumas auto-agressões. Desesperado, bati com a cabeça de encontro à parede. Foi uma atitude tola e vergonhosa, mas sem nada para me ocupar a mente… — deixou que a voz definhasse e manteve os olhos baixos.

O Sr. Hirata estava perturbado só de pensar nas repercussões de um caso de loucura e suicídio quando já estava no final de sua carreira, especialmente agora que só lhe faltavam alguns anos para a aposentadoria. Prometeu fazer o que estivesse ao seu alcance e saiu da cela tumultuado e agitado diante do pior tormento para um funcionário público civil: a necessidade de tomar uma decisão por sua conta.

Trevanian, Shibumi, 1979 (ed. Círculo do Livro, 1984).