Gisele Barão

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Somente em Ponta Grossa (PR), onde moro e trabalho como jornalista e professora de Comunicação, há ao menos quatro clubes de leitura. Todo mês, essas pessoas leem um novo livro, reúnem-se e conversam sobre ele. Para uma cidade com aproximadamente 340 mil habitantes, sempre achei um bom número. Mas ao receber o convite para assumir a função de ombudsman do RelevO, de repente me pareceu pouco. Por que não há clubes de leitura de jornais literários? 

Imagine um grupo que promova reuniões para ler o RelevO ou outro impresso da área e dar pitaco sobre a qualidade da produção. Digo isso também por interesse próprio. É que qualquer leitura fica melhor quando compartilhada com alguém. A vantagem do ombudsman é ter acesso às cartas que os leitores enviam ao jornal; eles são o nosso clube. Melhoram nossa leitura das coisas quando revelam outro ponto de vista, mesmo que não conversem entre si. 

Dependendo das suas condições e características como autor, talvez ninguém se importe mesmo com a sua produção literária. Talvez as cartas dos leitores sejam negativas sobre ela. Mas você não para de escrever, não é? Porque, em certa medida, existe sim um clube, e é isso que vale. Há quem aguarde uma publicação apenas para não gostar dos textos ou simplesmente para não se importar. E tá tudo bem. A gente gosta mesmo é de ter uma pré-seleção, uma indicação sobre o que deve ser lido. Com tanta gente escrevendo neste mundo, para onde podemos olhar com mais atenção?

Escrevo resenhas de livros há três anos para outro impresso, e confesso que poucas vezes busquei conhecer um autor estreante. Talvez os leitores tenham medo de arriscar. Há tantas obras clássicas na fila que nos falta tempo (ou uma gestão mais inteligente do tempo). Mas uma dúvida me provoca: em que ponto da vida a gente deixa de querer conhecer novos escritores? E por quê? Estou animada para percorrer esse breve caminho ao encontro de autores que, em grande parte, não conheço. E orgulhosa por ter o RelevO como guia.