Há som mais belo que ‘Clair de lune’?

Extraído da edição 86 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.

Fonte: Tom Mrazek.

O terceiro movimento da Suite bergamasque (1905), de Claude Debussy (1862-1918), atende por ‘Clair de lune‘ (luar) e teve como inspiração o poema homônimo de Paul Verlaine (disponível aqui).

E esse pedaço, esse breve e notável movimento, certamente é uma das criações musicais mais sublimes de sempre. Você já deve ter escutado ‘Clair de lune’ por aí, conscientemente ou não. Se já conhece, vale reencontrar. Se não conhece, não custa dedicar uns minutos, pois há muito a se ganhar.

A Enclave de hoje, portanto, prefere mostrar a descrever. Limitamo-nos a traduzir ‘Clair de lune’ como uma contemplação da solidão; uma brisa noturna; um chamado às belezas da dor.

Deixamos algumas sugestões nos seguintes links. Com certeza há muito mais pela internet.

Suite bergamasque completa
Seong-Jin Cho (primeira parte) / Jean-Efflam Bavouzet (segunda parte)
Alain Planès
Gustave Cloëz & André Caplet (orquestrada)

‘Clair de lune’
Por uma hora
Leopold Stokowski (orquestrada)
Lucien Caillet (orquestrada)
Roxane Elfasci (violão)
Ray Chen & Julio Elizalde (piano e violino)

Bônus
Kamasi Washington – ‘Clair de lune
Susumu Yokota – ‘Purple Rose Minuet
Polo & Pan – ‘Pays Imaginaire

Baú: Millôr Fernandes

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Entre Freud e Marx, um afirmando o pan-sexualismo, outro o pan-economismo, estou mais com o último. Em inúmeras ocasiões da vida o sexo não está presente. Nem direta, nem indiretamente. Nem materialmente, nem por inferência. Nem na superfície, nem nas profundidades do psíquico. Já o sentido econômico da vida é total e universal. Sem seu sentido econômico a vida não existe. Sem economia (representada por qualquer esforço humano, horas-trabalho) não se nasce nem se morre. E nas horas de confronto entre sexo e necessidade econômica Freud perde para Marx de goleada. Coloquem diante de um jovem que passou tempo indeterminado abandonado no deserto, uma linda mulher e um magnífico prato de comida e ele só será atraído pela mulher depois de encher o estômago. Pode-se dar uma colher de chá a Freud apenas afirmando que quando um homem tem fome não há nada mais sensual do que a nudez de um franguinho no espeto.

[Obras Completas, p. 6, 1970.]

Num país em que o salário mínimo não atinge ¼ da população, criar conceituações morais, falar em drogas, vícios, excessos sexuais ou morais é inútil e ridículo. É aconselhar as pessoas a fugirem de tentações que jamais se darão ao trabalho de tentá-las.

 [Conversa com Carlos Drummond de Andrade, 1973.]

Millôr Fernandes. Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr, 1973, Ed. Nórdica.