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No cinema, uma mesma pessoa viva serviu como base para três personagens diferentes, em três filmes diferentes, com três atores diferentes, em três décadas diferentes. Trata-se de David Toschi, tido como inspiração direta e indireta para Steve McQueen, em Bullitt (1968), Clint Eastwood, em Dirty Harry (1971), e Mark Ruffalo, emZodíaco (2007). Nada mal.
Toschi, hoje com 85 anos, foi policial em São Francisco entre 1952 e 1983. Nesse meio tempo, recebeu McQueen para ver imortalizada, mais do que qualquer outra coisa, a posição de seus coldres, iconicamente apoiados no ombro – vide a fotografia acima. Frank Bullitt, protagonista interpretado pelo descoladíssimo Steve McQueen, logo ganharia notoriedade pelas cenas de perseguição automobilística que fazem de Velozes e Furiosos uma Via Calma. A trilha sonora que Lalo Schifrin compôs para o longa-metragem de Peter Yates também é de se admirar.
O que nos leva a Dirty Harry, ou Perseguidor Implacável, de Don Siegel e com Clint Eastwood, cujo protagonista Harry Calahan parte de Dave Toschi, àquela época já ocupado com o caso do Zodíaco. O assassino, até hoje alvo de discussões, também serviu como base para o vilão Scorpio. A trilha sonora, coincidentemente também assinada por Lalo Schifrin, não coincidentemente é também extraordinária.
Zodíaco, de David Fincher, por sua vez, foi o primeiro deles a retratar o próprio Dave Toschi, justamente durante o caso que dá título à película. No filme, um Mark Ruffalo menos rústico que McQueen e Eastwood não só se utiliza dos coldres nos ombros, como também assiste a Dirty Harry no cinema, em uma cena que faz referência direta às extrapolações de representação na ficção. O policial chegou a auxiliar a produção da obra: ele foi oficialmente listado como consultor técnico.
[Obrigado, Cassio Oliveira!]