(Outra) carta aos leitores em (outros) tempos difíceis

Editorial extraído da edição de janeiro de 2025 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Chegamos ao início de um novo ano carregando as marcas de 2024, quando conseguimos a façanha de fechar nove meses no vermelho – um recorde não atingido desde 2019. Os últimos meses exigiram de todos nós uma série de novas habilidades para enfrentar percalços que insistem em testar nossa capacidade de seguir adiante, não sem repensar o modelo de negócio e o próprio negócio em si. Será o momento de parar? O nosso corpo de assinantes finalmente… cansou? Em meio às incertezas, é reconfortante observar que, mesmo quando nosso pequeno mundo parece vacilar, o jornal impresso segue como um abrigo seguro, uma alternativa, uma ponte entre o caos e o repouso. Lembremos que 2024 foi repleto de intensos debates sobre os limites e os transtornos provocados pelo excesso de tempo diante das telas. Brain rot, de “cérebro apodrecido” ou “atrofia cerebral”, foi eleita a palavra do ano pelo Dicionário Oxford.

Ao virarmos a página do calendário, refletimos sobre os desafios enfrentados e renovamos o desejo por um ano melhor. Todos os janeiros carregam em si essa promessa de recomeço, de página virada – para usarmos uma imagem gasta –, mas também nos lembram de que o ciclo de dificuldades faz parte da própria experiência humana. Talvez, soando um pouco como Osho (pronuncia-se Oxxo), ao reconhecermos a repetição desses padrões, podemos assumir tanto as dores como as possibilidades de transformação que elas trazem.

Para muitos de nós, escrever e ler não são apenas atos culturais, mas também atos de manutenção e de escape. É verdade que as crises têm cobrado seu preço também deste universo. Pequenas editoras lutam para lançar seus livros, livrarias de rua resistem ao fechamento e ao mercado predatório digital, e escritores enfrentam o dilema de criar em meio às pressões cotidianas, como pagar aluguel e tratamentos médicos. A vida custa – inclusive, está bem mais caro o cafezinho que acompanha a leitura habitual de jornal. Ao mesmo tempo, nesses momentos vemos nascer iniciativas coletivas, projetos colaborativos e movimentos que reafirmam a força da literatura como um bem comum. A produção literária se transforma, encontra novos meios, alcança novos leitores. Ou, então, assumimos de vez que a literatura é um privilégio e vamos todos assinar o streaming menos invasivo por R$ 59,90 ao mês.

Aos nossos leitores, queremos dizer: estamos aqui. O Jornal RelevO continua como um espaço para acolher vozes diversas, para impulsionar novos autores e praticar algum humor. Seja parte deste exercício de continuidade: leia, escreva, divulgue, compartilhe, assine.

Que 2025 seja um ano melhor.

Por uma boa leitura,

Equipe do Jornal RelevO