Editorial extraído da edição de março de 2025 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.
Quando o RelevO surgiu, em setembro de 2010, éramos pura celulose e tinta, um amontoado de páginas que se recusava a obedecer a qualquer lógica que não fosse a nossa. A cada edição — com diagramação gradativamente melhor —, fomos desenvolvendo algumas linhas de certo humor caótico, ideias que se jogavam do penhasco sem saber se havia chão. Agora, estamos prestes a expandir nosso bestiário para o audiovisual. É um novo horizonte para esse modesto balcão organizado. Mas não se preocupe: ainda gostamos do cheiro do papel e da sensação reconfortante de que, mesmo se a internet cair, o impresso continua ali, firme, na gaveta, debaixo da mesa ou servindo de apoio para aquele pé de cadeira bambo. Mais: o impresso paga contas.
Nosso jornal sempre foi um convite à leitura torta, ao texto que parece errado. Agora, queremos experimentar o peso da imagem, o ritmo do som, as possibilidades do movimento — sem perder nossa veia seletiva, satírica e, acima de tudo, inquieta. Isso significa que [quem sabe] teremos vídeos desafiando a lógica do algoritmo e um conteúdo visual que, se bobear, poderá muito bem ser desenhado à mão. Vamos estudar as possibilidades, sem esquecer que nosso porto-seguro é de papel, dobra no meio e resiste ao tempo melhor que qualquer feed.
A expansão para o audiovisual nem tem como implicar um adeus ao impresso — longe disso! É só mais uma forma de provar que a palavra não precisa ficar restrita a um formato. Vamos testar novas formas de contar histórias e provocar. Quais? Ainda não sabemos; estamos apenas confabulando. Precisamos apenas continuar nos divertindo e desempenhando algo dentro do nosso limite técnico. Nosso singelo círculo de competência. Temos o mais difícil: anos e anos de conteúdo original, não necessariamente de qualidade.
Mas calma, para quem já estava preparando o textão, quem sabe alardeando que “o RelevO se vendeu para as telas”, fique tranquilo. Nosso maior sonho ainda é perder a alma para a Red Bull e virar um cone de arrancadão. Nossa tradição gráfica segue viva e forte. Continuaremos a estampar páginas com textos que desafiam padrões, referências que só três pessoas entendem e piadas que, às vezes, só fazem sentido três edições depois. A diferença é que esses mesmos devaneios febris poderão ganhar voz, trilha sonora e até dublagem dramática.
Portanto, revisem seus conceitos de Jornalismo sério e esperem por algo que nem nós sabemos exatamente como vai ser — essa sempre foi a nossa maior especialidade. O RelevO está ampliando sua bagunça organizada. A diferença é que, agora, talvez ela tenha vinhetas.