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O que é civilização? Não sei. Por enquanto, não consigo defini-la em termos abstratos. Mas acho que, vendo-a, posso reconhecê-la, e olho para ela neste momento. Ruskin disse: “As grandes nações escrevam sua autobiografia em três livros: o de seus feitos, o de suas palavras e o de sua arte. Para entender um é preciso ler os outros; contudo, o mais autêntico é o terceiro”. Acho que ele tem razão! Escritores e políticos podem expressar vários sentimentos nobres, mas estes não passam do que podemos chamar de declarações de intenções. Se eu tivesse que escolher o que expressa melhor a verdade da sociedade, se o discurso de um Ministro da Habitação ou as construções reais da época, diria que são as construções.
Isso não significa que a história da civilização seja a história da arte. Longe disso. As sociedades primitivas também podem produzir grandes obras de arte; de fato, a grande limitação da sociedade primitiva confere à sua arte ornamental uma concentração e uma vitalidade peculiares. Lá pelo século IX, podia-se ver, olhando o Sena, a proa de uma embarcação viking subindo o rio. Hoje, no Museu Britânico, ninguém lhe pode negar o vigor de uma obra de arte, mas deve ter sido bem menos atraente para a mãe de família que tentava acomodar os filhos em sua cabana; aliás, deve ter sido tão ameaçadora para a sua civilização quanto o periscópio de um submarino atômico.