Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Cinco coisas que pude elaborar durante esse período de ombudsman no RelevO:
- Tudo pode ser virtualizado. Em cada frase que dirigimos a alguém, um espaço vazio permanece entre como uma caixinha de potencialidades imaginativas. Minha relação com o jornal não tem absolutamente nada de concreta. É virtual na minha liberdade imaginativa; assim como na nuvem de onde falei durante esses cinco meses; assim como nos contatos com quem comigo divide essas páginas, neste oásis mundano que é a arte.
- Ser analista de jornal é por pouco tempo. Primeiro, porque ele sabe mais do que eu. Segundo, porque cinco meses é mais do que suficiente para instalar uma relação suficientemente boa entre o jornal e suas estranhezas. Freud atendia seus pacientes-pessoas por pouco mais do que isso, às vezes menos. Não foi analista de jornal, mas de grandes obras de arte, trabalhos que lhe construíram como fundador de alguma coisa.
- Existem várias formas de matar um leão por dia, seja transformando-o num tigre preguiçoso, ou deixando-o no silêncio, ou ainda reduzindo a sua presença à significância de uma joaninha.
- Continuo sem entender por que é mesmo que eu deveria criticar o jornal. Ninguém entende isso mesmo.
- Jornais: especialistas em resistir ao tratamento com as suas múltiplas capacidades de se deslocar e se condensar em imagens, como as de Magritte, que só servem para desviar a atenção do analista.
Dizem que, depois da última sessão, o paciente sonha com tudo o que aconteceu durante o percurso. Sua capacidade de sonhar já não será a mesma, dali em diante. São ferramentas e fios novos para tecer, dia e noite e do dia para a noite. Como o RelevO já faz um tecidão pelo Brasil com seu impresso há todos esses anos, só me resta esperar que ele siga contaminando todo mundo, por onde quer que passe, com a sua arte de renovar as nossas esperanças.
Tempo esgotado.