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Uma das mais deliciosas conversas furadas de 1958 foi o boato de que a carne bovina consumida entre o Rio e Minas Gerais estava contaminada – não por bactérias assassinas como a da vaca louca, muito menos por algum vírus pré-aidético, pois definitivamente os tempos eram mais delicados. A carne dos açougues da época estaria contaminada por enormes porções de uma vacina de hormônios femininos. No panic, gritavam os mais liberais, mas qual!…
Generalizou-se entre os machos cariocas o medo horripilante, não de morrer como os que deglutiram hambúrgueres na Inglaterra nos anos 90, mas de que o até então pacato e viril cidadão, após ingerir um acém, um filé, subitamente adquirisse, ainda na mesa de refeição, alguma característica graciosa da identidade fêmea. Inspirado pelo fait-divers, o trio Paquito, Romeu Gentil e José Gomes compôs, com lançamento no final de 58 para a farra de 59, a marchinha Boi da cara preta, cantada por Jackson do Pandeiro e Almira:
“Coitado do Valdemar
Está dando o que falar
Comeu carne de boi falou fino
E deu pra se rebolar
Mas que azar.”Já era sofisticado entre os bem-pensantes dizer que a música de carnaval estava em decadência. (…)