Extraído da edição 39 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.
No período do renascimento da arte ocidental – se é que isso realmente existiu –, as técnicas de pintura mais difundidas eram o Afresco, pintura mural baseada na aplicação de tinta a uma argamassa de gesso, e a Têmpera, método de tintas misturadas a uma preparação com gema de ovo em uma superfície de madeira. Apenas mais tarde, no século 16, o uso do Óleo Sobre Tela se popularizou, tornando-se a técnica de escolha para pintores até o século 20, quando o modernismo resolveu chutar o pau do cavalete.
O Afresco foi muito utilizado principalmente na decoração de igrejas e de villas (casas de campo da nobreza e burguesia). Embora fosse uma maneira prática de embelezar paredes, o gesso secava rápido e pouco podia ser pintado de cada vez. Além disso, a cada dia a tinta se fixava de maneira diferente. Assim, ficavam visíveis as giornatas, diferentes dias de trabalho que eram evidenciados pela diferença abrupta de cores – como neste detalhe da Expulsão de Adão e Eva, de Masaccio. Seus corpos aparecem contornados por uma camada mais forte de tinta. Com o passar dos anos (séculos, melhor dizendo), ficou também claro que as cores das pinturas desbotavam com facilidade. Mas é evidente que há exemplos irretocáveis de afrescos que mais parecem pinturas a óleo, como a obra-prima de Michelangelo, a Capela Sistina.
Para imagens portáteis ou no mínimo móveis, a técnica mais comumente empregada era a Têmpera. Por ser a base de gema de ovo, a tinta nesse caso também seca muito rápido – mais ainda do que no afresco. Não havia como misturar cores a fim de criar um degradê, por exemplo. Dessa forma, os artistas usavam hachuras para modelar a luz nos personagens, isto é, linhas paralelas finas que ficam mais próximas ou distantes progressivamente, criando a ilusão de volume e de iluminação.
Aí chegamos ao Óleo Sobre Tela. O óleo deixa a tinta, digamos, mais maleável – por demorar a secar, possibilita a mistura entre pigmentos e a criação de novas cores intermediárias. Sendo translúcido, permite também que várias camadas diferentes de tinta reflitam quando sob a luz. Além disso, com essa técnica os traços desenhados não são mais definitivos, possibilitando a modificação da tela após a aplicação das tintas. O exemplo mais célebre dessas novas explorações por esse método é a Tempestade, de Giorgione. Nesse quadro, o pintor italiano cria, com diferentes tons de azul, uma atmosfera complexa e carregada e, aproveitando-se da liberdade que o óleo lhe deu: Giorgione chegou a substituir completamente o personagem da esquerda, que antes de ser um pastor (ou soldado) era uma mulher nua sentada.