Baú: John Milton

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É esta a região, o solo, o clima,
Disse o arcanjo perdido, o assento
A trocar pelo Céu, as trevas tristes
Pela celeste luz? Seja, já que ele
Que agora é soberano usa e manda
O que entende; à parte está melhor
Quem lhe igualou razão, força fez súpera
Acima dos seus pares. Adeus campos
Que o gozo sempre habita, ave horrores,
Mundo Infernal, e tu profundo Inferno
Recebe o novo dono, o que traz
Mente por tempo ou espaço não trocável.
A mente é em si mesma o seu lugar,
Faz do inferno Céu, faz do Céu inferno.
Que importa onde se eu mesmo o for,
Ou o que seja, logo que não seja
Inferior ao que deu fama ao trovão?
Aqui seremos livres; o magnânimo
Não alçou cá a inveja, nem daqui
Nos levará. A salvo reinaremos,
Que é digna ambição mesmo se no inferno:
Melhor reinar no inferno que no Céu
Servir. Mas por que deixarmos amigos,
Os sócios e parceiros da falência,
No lago do letargo aturdidos,
E não os chamar a dividir parte
Nesta infeliz mansão; ou uma vez
Sãos os braços malsãos, tentar ainda
O Céu reaver, ou mais perder no inferno?

John Milton (Paraíso Perdido, 1674, Livro 1; trad. Daniel Jonas, Editora 34, 2016).

Demonologia!

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Quem comanda o departamento de RH dos demônios? A resposta cabe à demonologia.

Se os anjos dispõem de uma hierarquia digna de multinacional do Vale do Silício, nada mais justo do que organizar o time de vendas entre os representantes do tinhoso. Para tanto, autores diversos já propuseram suas devidas classificações, cada qual separando uma logística para agregar esse elenco de estrelas, como Lúcifer, Leviatã e um ou outro goblin sarrafeiro.

Assim, anjos maléficos foram divididos ao longo da história com base em características diferentes. No século 16, Peter Binsfeld separou um demônio por pecado capital. O Belfegor, por exemplo, simbolizava a preguiça, enquanto Asmodeus indicava luxúria. Ele não foi o primeiro a pensar num mapa de conceito para capirotos, tampouco o primeiro a relacioná-los aos pecados capitais. Se a ideia de sete príncipes do inferno saiu daí, não fazemos ideia.

Antes de Binsfeld, aliás, Alphonso de Spina aparentemente havia listado 133.306.688 demônios – isso em 1467. Contabilizados nesse número ridiculamente especifico estavam íncubos, goblins, espíritos familiares, cambions (filhos de humanos com íncubos) e quem sabe até eu e você, diante da quantidade alarmante. Até o Rei Jaime I, quando era Jaime VI, Rei da Escócia, organizou sua demonologia. Anos mais tarde, ele viria a patrocinar a tradução da Bíblia do latim para o inglês, talvez a mais popular do universo.

São várias as tabelas de Excel sugeridas ao (ou pelo) capeta ao longo da história – isso que nós apenas beliscamos a tradição cristã. Fica nosso empurrãozinho às trevas.

Publicado originalmente na edição #35, em junho de 2016.