Whisner Fraga: Entre o virtual e o impresso, a sobrevivência

Coluna de ombudsman extraída da edição de janeiro de 2015 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Quem publica o que quer que seja, onde quer que seja, normalmente, é porque quer ser lido. Há quem se sinta realizado com cinco ou seis leitores. Há outros que não deixam por menos de cinquenta mil. Até aí não existe problema nenhum e todos podem viver felizes para sempre com os fatos. A situação muda quando o objetivo da publicação é obter lucro. Neste caso, o leitor é essencial e é preciso um número mínimo de consumidores para que o fim seja atingido. Questão de sobrevivência. Assim, qual é a função deste jornal?

Os editores terão de se fazer esta pergunta. Não que ficar em cima do muro não seja uma opção. Vejamos: aqueles que publicam o RelevO querem somente que a verba que entre dê para cobrir as contas? Ao que as prestações de conta indicam, isso acontece. Todos aqueles que compram o jornal o leem, efetivamente? Aí é pergunta mais complexa. De qualquer maneira, o formato impresso supre todas as necessidades do leitor?

A questão do suporte já foi tratada por diversos autores, algumas vezes de forma brilhante, outras nem tanto. Acontecerá que a ficção, a crítica literária, a poesia, um dia mudarão. E a mudança está ligada, evidentemente, a todo esse problema do formato e da divulgação. O ser humano é curioso, mas também preguiçoso. Assim, a “evolução” do suporte também passará pela viabilidade tecnológica e pelo conforto.

O tema da convivência pacífica entre o que é impresso e o que é virtual ainda tem muita lenha para queimar e só tempo para nos elucidar o que ocorrerá. O que não muda, a meu ver, o caso deste jornal. Literatura é um produto que não vende? Depende. Primeiro, os editores devem se questionar: eles querem distribuir um produto? Porque isso é possível, há inúmeras obras escritas ou não que são comercializadas como produto. Não há nenhum julgamento de valor nessa minha a afirmação, estou apenas lidando com um fato.

O que não é produto vende? Sim, claro. Da mesma forma que o que é produto pode não vender também. A arte pode ser um produto? Sim, claro, dependendo do conceito de arte. No campo artístico, para ser bom tem de se vender pouco? Não necessariamente. Evidentemente que dependemos do público. Sartre pode até chegar um dia a ser mais vendido no Brasil do que Paulo Coelho, mas dificilmente será mais compreendido que o escritor tupiniquim.

Os editores do RelevO terão de decidir: querem produzir algo de vanguarda ou querem agradar a todos e vender bem? Aumentar a tiragem? Ou querem revelar, de fato, talentos do meio literário? Porque revelar talento nem sempre garante leitura imediata, mas com certeza garante um público menor, porque mais restrito, o das pessoas interessadas neste assunto. Publicar somente textos de qualidade ou fazer uma concessão ou outra?

Independente de qualquer decisão, a do suporte continua como ponto central. Neste sentido, é fundamental que o periódico procure outros meios de incentivar a literatura. Por exemplo, organizando eventos, como debates, ciclos de palestras, saraus, que tenham como tema a arte, pois para mim está claro que um dos propósitos deste jornal é divulgar a arte. Isso, por acaso, não seria também uma mudança de plataforma? Ou, no mínimo, diversificação.

Agora, sobre a menina dos olhos: um concurso literário. O Brasil é muito carente de concursos literários. Há quem defenda por aí que os leitores de escritores em nosso país são outros escritores. Se nos atentarmos para a quantidade de originais que o RelevO recebe, a necessidade de se peneirar o diamante, a solução é óbvia: o jornal precisa lançar o seu próprio concurso. Mas, combinemos: com um bom prêmio em dinheiro para os vencedores, que ninguém escreve por idealismo. Comer é preciso. Ora, por acaso isso também não representa uma alternativa de divulgação, uma alteração de mentalidade, uma alternativa de suporte?