Extraído da edição 67 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente. O RelevO pode ser assinado aqui.
O experimento de Rosenhan, de David Rosenhan, é certamente um dos mais curiosos estudos entre publicações científicas sérias. Isso porque o trabalho, divulgado em 1973 sob o título Sobre ser são em ambientes insanos, apresentou um método bastante direto de questionar a própria validade do diagnóstico psiquiátrico.
Para tanto, oito pessoas – Rosenhan incluso –, foram aceitas em 12 manicômios diferentes nos Estados Unidos após simularem alucinações auditivas de vozes que proferiam palavras vagas. Entre profissionais da área e gente nada relacionada, nenhum continha histórico de distúrbios mentais, e todos usaram pseudônimos. A instrução para o experimento era clara: uma vez dentro, todos se comportariam da maneira mais normal, saudável possível, desde cedo alegando não ouvir mais voz alguma. O diagnóstico caberia às instituições.
Essas instituições, demograficamente variadas, levaram de sete a 52 dias para liberar todos os pseudopacientes, gerando média de 19 dias de estada. Todos foram devolvidos à sociedade com o diagnóstico de esquizofrenia em remissão, fato utilizado para Rosenhan argumentar como doenças mentais são tratadas como irreversíveis e estigmatizantes. Nenhum dos infiltrados foi descoberto, ainda que tenha havido suspeitas (por parte de outros pacientes, e não de funcionários). O autor não poupou críticas ao tratamento recebido pelos internados.
No ambiente do manicômio, segundo Rosenhan, é impossível distinguir o são do insano. Verdade ou não, a relação do ser humano com a validação subjetiva certamente ficou um pouco mais exposta.
(O artigo inteiro, em inglês.)
[Publicado originalmente na edição #21, em outubro de 2015]