Extraído da edição 58 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.
Viver muito ao ar livre, ao sol e ao vento sem dúvida produzirá uma certa aspereza de caráter – fará com que uma pele mais grossa cubra alguma das qualidades mais refinadas de nossa natureza, como ocorre no rosto e nas mãos, ou como o duro trabalho manual rouba dos dedos um pouco de sua delicadeza de toque. Assim, a permanência em casa, por sua vez, pode produzir uma brandura e uma maciez, para não dizer fineza, de pele, acompanhada por uma sensibilidade aguçada a certas impressões. Talvez fôssemos mais suscetíveis a algumas influências importantes para o nosso crescimento intelectual e moral se sobre nós o sol e o vento tivessem batido um pouco menos; e sem dúvida é uma questão importante dosar com equilíbrio a pele fina e a pele grossa. Mas penso que haverá oportunamente uma descamação – que o remédio natural deve ser encontrado na proporção que a noite mantém com o dia, o inverno com o verão, o pensamento com a experiência. Haverá então tanto mais ar e luz do sol em nossos pensamentos. As palmas calejadas das mãos do operário entendem-se melhor com os finos tecidos do autorrespeito e do heroísmo, cujo toque comove o coração, do que os dedos lânguidos e indolentes. Não passa de sentimentalismo o que faz alguém ficar deitado o dia inteiro e se julgar imaculado, longe dos calos e da pele curtida da experiência.