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Edição de novembro de 2025
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Edição de agosto de 2025
Rafael Maieiro: Panelinha furada
Coluna de ombudsman extraída da edição de agosto de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Entrevista com Zeh Gustavo, o ex desta coluna
Meu irmãozin, seguinte: o RelevO é um pasquim muito necessário, né? O doido do editor faz o corre de editar um impresso independente, sobre literatura, em plena barbárie. Diga aí…
ZEH GUSTAVO (ZH) — Deixa de ser puxa-saco, cara! Não percebe que é tudo narcisismo do editor? Que se a terapia estivesse em dia, este jornal já tinha ido pro saco, ou pra internet? A gente embarca porque tá na mesma merda dessa inadequação de sermos uns desnaturados que nem se esforçam para malhar o intelecto no que realmente interessa, ou seja, publicar em revista padrão A1 na Sucupira, quiçá fazer aquele pós-doc sanduba e torcer pra depois não virar Uber.
Pois é… Tem aquele rapaz da paçoquinha que diz coisas bonitas sobre livros numa canção. Taca até um pela janela, lembra? Cult. O foda é receber um calhamaço no meio do cucuruco, do nada. Me diga: livros com asas ou um livro na cabeça desvoando de um edifício?
ZH — Muitas referências aí juntas, deixa eu processar (a-do-ro! estes terminhos sacanas da moda!). Não lido com amendoins em geral. Livro com asas, sempre. Livro-pombo. Que coma do lixo. Já os edifícios, eles também desabam, como diz a sambista Patativa (do Maranhão). Ela bem viu isso acontecer, e muito. Canto sobre, inclusive – mas você, como bom amigo, só vai ouvir uma vez meu disco e olhe lá!
Esta coluna é (ou seria) a Ouvidoria do jornal, o espaço do tal do ombudsman. Atualmente, eu. Tu já pegou esta tarefa. Mas acho que só dois leitores entenderam isso, conheço um, o tal do Jurupinga. O que é esse troço de ombudsman?
ZH — Momento emocionado (ó o narcisismo aí, gente!): pra mim, foi um sonho realizado. Mas é um fóssil, mesmo no RelevO. Ou quase isso. Eu tive somente uma coluna com boa repercussão dos leitores – porque, em sua maioria, são também autores, e nela abordei a temática da naturalização da figura do autor-pagador. Voltando ao fóssil: a comunicação real, ela quase acabou, neste mundico hiperconectado-hipossensível. Fica quase uma Ouvidoria sem reclamantes. Uma pena.
A vida é dura
perdura
mas dura
verde
podre
madura
Ainda, sim, sem cura
ela bate asas às lagartas
reinventa o ciclo vital das moscas
diariamente?
namora o sorriso do poste de luz
quase pisca sem parar no subúrbio dos corações
Um passeio pelo abismo da palavra sem fazer dele uma morada cinco estrelas
será um chamado para a canção?
Responda em versos, rs
ZH — Eu? Tô fora! Ando praticando o detox. E com aquele olhar vazio, nenhum sinal de emoção da música do Paulinho da Viola [Não quero você assim], então a coisa da poesia, aí ela emperra. Justo quando a vida emperrou, de fato. Deve ser da velha e antiquada dor de amor. Que hoje chamam luto. Luto pra lá, luto pra cá… Deve ser efeito do tal ciclo vital das moscas de que você falou.
Este poema é nosso ou do RelevO, já que ele não paga as nossas contas?
ZH — É teu! E na conta do editor. Nem te indiquei!
Arruma um BO com os leitores do RelevO por mim? Nossa amizade vale isso?
ZH — Só de tu me entrevistar pra deixar de falar dos textos da edição passada já não dá um beozinho não?!
Vamos comprar uma canoa furada?
Uai, não estamos, já, todos, aqui ao menos, nela?! E, paradoxalmente: sequer, mais, conseguimos afundar. Vamos boiando. E tentando, em geral inutilmente, desviar da pedraria posta no trajeto, enquanto vemos o mundo que nos forjou como tais – para o bem, para o mal – ir secando devagar.
Edição de julho de 2025
Rafael Maieiro: Lajotas quebradas no subúrbio do jornal
Coluna de ombudsman extraída da edição de julho de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Alguns comentários sobre a edição de junho?
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
CRUZ E SOUZA (RelevO, junho de 2025, p. 24)
O trecho me lembrou:
Por instantes, imagino como seria maravilhoso arrancar do corpo lenços vermelhos, azuis, brancos, verdes. Encher a noite com fogos de artifício. Erguer o rosto para o céu e deixar que pelos meus lábios saísse arco-íris. Um arco-íris que cobrisse a Terra de um extremo ao outro. E os aplausos dos de cabelos brancos, das meigas criancinhas.
MURILO RUBIÃO (O ex-mágico da Taberna da Minhota, não publicado na edição de junho do RelevO)
*
Rafael Sica, o ilustrador da edição de junho de 2025, traçou sua distopia. Ou seria uma espécie de Baixa Distopia? Por exemplo: na página 18, as cercas estão arrombadas. Na página 19, uma criança mija nos destroços de um tanque.
*
Isto me lembra:
A vida nós a amassamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio a fome
e dizendo sim
— em meio à violência e à solidão dizendo
sim —
pelo espanto da beleza
pela flama de Tereza
pelo filho perdido
neste vasto continente
por Vianinha ferido
pelo nossa irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pele que dá e que cega
pelo que virá enfim
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela:
— digo sim
FERREIRA GULLAR (Digo sim, não publicado na edição de junho do RelevO)
*
Aliás, Bolívar Escobar, obrigado pela lixeirinha com o ícone da coluna anterior (edição de junho). O espaço é exatamente isto: um repositório das críticas dos leitores. Já que o correio não está funcionando, que tal uma lixeira? Escrevam. Amassem. E… De três pontos, Magic Leitora?
*
sentes a fome, Virginia?
os ossos finos da minha mão
sobre a fonte que te eterniza
(…)
são perecíveis todas as coisas exceto os olhares
ISABELA ORLANDI (RelevO, junho de 2025, p. 22)
Mal fica sozinho no banco, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, até que uma velha o encontra, o lê e o deixa transformado num monte de folhas impressas. Depois, leva-o para casa e no caminho aproveita-o para embrulhar um molho de acelga, que é para o que servem os jornais depois dessas excitantes metamorfoses.
JULIO CORTÁZAR (O jornal e suas metamorfoses, não publicado na edição de junho do RelevO)
*
Continuo comprando porque é barato e de vez em quando preciso de uns jornais para embalar uns troços.
RelevO, junho de 2025, p. 13
*
Lajota amarela:
— Leitor, quer dizer alguma coisa sobre o jornal? Bolinhas de papel na seguinte lixeira: contato@jornalrelevo.com
*
Impressos podem ser úteis em tempos de guerra.
*
O que seria Relevo?
RelevO, junho de 2025, p. 13
Edição de junho de 2025
Rafael Maieiro: Era para ser um grito, mas é apenas uma nota
Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Este espaço só faz sentido se for feito em interação com o leitor. Até o momento, no meu mandato como ombudsman, não consegui iniciar um diálogo com o leitor do RelevO. Acredito que isso se deva a dois motivos essenciais, que listo a seguir:
- A falta de tradição do cargo de ombudsman no Brasil.
“Ombudsman é uma palavra sueca que significa representante do cidadão. Designa, nos países escandinavos, o ouvidor-geral, função pública criada para canalizar problemas e reclamações da população. Na imprensa, o termo é utilizado para denominar o representante dos leitores dentro de um jornal.” (O que é o cargo de ombudsman? Folha de S. Paulo, 2014)
2. A falta de clareza sobre qual canal deve ser utilizado para essa interação (leitor/ouvidor).
Por isso, nobilíssimo leitor, vamos conversar sobre os pontos negativos e positivos do Jornal?
Envie e-mails para:
contato@jornalrelevo.com
Assunto: Ouvidoria
E mande ver! Vaias e xingamentos são bem-vindos.
Até lá!
E n…
Edição de maio de 2025
Rafael Maieiro: Kamehameha de papel
Coluna de ombudsman extraída da edição de maio de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
O RelevO (orelhas de abano?) que você tem em mãos já não é apenas um impresso, é uma plataforma transmídia que encontra seu auge no formato de bolinha de papel.
Esse formato, poderia dizer, essa persona do ser social rs), nos acompanha desde o simples jogo escolar, bem antes da 5ª série, e até agora, como protagonista de atentados terroristas.
Faz a janelinha! Bem me lembro, jovens leitores, quando ela acertou a careca de um candidato à Presidência, o levou ao hospital, com cobertura de toda a mídia. Olhando de hoje, posso afirmar que foi a polêmica jamais vista do VAR. Daquela vez, a simulação foi revelada. Não entendeu? Transmídia? Dá um Google. Ou pede um QR Code.
Por isso, senhoras e senhores, não se enganem: o RelevO, com suas armas de destruição em amassa, é uma célula literário-humorística (CeLiHumor) que põe em risco a segurança nacional. Golpistas de plantão, neonazis e afins: abram o olho sobre as intenções deste Jornal! Esqueçam o Lula e o Xandão!
*
Já que não taxam as grandes fortunas, vamos tachar os grandes escritores:
— Eu queria ser palhaço.
— Você? Não seja ridículo. Vida de palhaço não tem graça. Você acha fácil fazer cem pessoas caírem na gargalhada? Continue dando capim aos elefantes e carnes ao tigres.
[…]
Um dia, o palhaço, seu amigo, chegou e disse, bem baixinho:
— Vamos fugir daqui.
— Mas não é perigoso?
— Afinal, garoto, você quer ou não aprender a arte da guerra?
Só então o garoto reconheceu no palhaço o velho da ponte. E ficou muito confuso.
— Quando você acha que a gente deve tentar fugir? – perguntou o velho.
— Bem, de noite, quando todo mundo estiver dormindo e tudo estiver escuro.
— Você não aprende mesmo, hein? De noite é a hora em que os guardas estão com os ouvidos como os de um tigre. Qualquer movimento, qualquer ruído, estamos perdidos. Vamos fugir amanhã de dia, na hora que ninguém imagina que alguém iria fugir. É a nossa única chance.
— E se não der certo?
— Então os tigres vão ter cozido no almoço.
(LEMINSKI: Guerra dentro da gente, Editora Scipione, 1990, p. 19-20)
*
Outros comentários sobre a edição passada (abril) ou quase:
[bolinha de papel standard] • p. 23Sim, o RelevO tem QR Code. Evitem esse recurso: ele nos rouba a alma.
[bolinha prateada de papel de cigarro] • p. 8“santa maré, mãe das rochas / e lantejoulas caídas de estrelas”. Este verso, aquele poema de Piera Schnaider valeu por quase tudo que eu já li no RelevO.
[pequena bolinha de papel na agulha de um zarabatana-bic] • p. 3 [cartas]Centrar fogo na orelha direita dos coleguinhas do Rascunho!
[recorde mundial de embaixadinhas com bolinha de papel] • todas as páginasTá repetitivo, eu sei. Mas a integração entre artistas visuais (na edição em questão, Oli Maia) e projeto gráfico (Bolívar Escobar) está cada vez melhor. Uau de uau mesmo.
[bolinha bet] • página secretaUm dos contos me irritou bastante. Odd 171. Adivinhem!
[a bolinha de papel de Zenão] • p. 5Os inúmeros arremessos deste colunista nunca chegam ao alvo, a testa do leitor. Mais um engarrafamento no Rio de Janeiro.
Não assassinado,
Defunto autor
Edição de abril de 2025
Rafael Maieiro: Spirogyra é spreadable e/ou ao contrário — E uns xis minúsculos no coração do jornal
Coluna de ombudsman extraída da edição de abril de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Gravando! Não, corta. Pause. Não. Rola pra cima, digo, siga, à esquerda, com sua íris as linhas deste texto. RelevO anunciou sua rendição (?) à nova mídia social digital.
Toma-lhe, sem gelo, por favor!
“O RelevO é analógico, e o analógico está com tudo. Sobrevivemos à era dos blogs e agora, ironicamente, somos impulsionados pelo TikTok ou o que quer que nossos sobrinhos usam, porque tentar acompanhar é por si só a grande derrota. A questão é… por que parar no papel?”, está dito nos Anúncios do futuro para soluções do passado.
O bem-humorado texto quer dizer: Estamos com tudo nas redes. O impresso fica, mas vamos pra nuvem. Um dos papos mais interessantes sobre o assunto é com o tal do Henry Jenkins:
A propagabilidade [spreadable foi traduzido por propagável, por isso propagabilidade] está expandindo de forma ativa a diversidade cultural em função de uma gama maior de criadores de mídia ter acesso a públicos em potencial e de um número maior de pessoas ter acesso a trabalhos que, do contrário, poderiam estar disponíveis apenas nas principais áreas urbanas [Henry Jenkins com Joshua Green e Sam Ford. Cultura da conexão. São Paulo: Aleph, 2014. p. 289].
Mas não sei, não. Em 2025, me lembra algo que espera outro algo que já se passou há 20, 30 anos atrás. Ah, Sonhos de McLuhan no Verão do Fim da História! Na verdade, este ouvidor que fala demais está cada vez mais convencido de que o dito espaço virtual é um feudo dos naxis. Nesse (pouco) sentido, acho que o formato do jornal também deve involuir e ser publicado em rolo (volumen). Leitor, desenrola! Talvez faça sucesso editorial. Cada treco estranho por aí… Veja o tal do… Ah, deixa pra lá.
xis 9
Falo nada, escrevo do Rio de Janeiro.
xis 1
RelevO dribla e deixa no chão todos que encaram as letrinhas de alguns textos do jornal. Uma injustiça. Principalmente, na edição de março, com o trabalho de Amanda Fievet Marques.
xis menos R$ 594
Com 95% da meta atingida e ainda no prejuízo. Uma maravilha. Por isso, amo escrever neste jornal. Aprenda, progressismo Itaú. Imaginem se o editor fosse herdeirão…
xis desenhado
Amanda Guilherme deu um show em preto e branco. Alô, scouting do Botafogo!
xis no Godot? [cartas]
xis sem salada
Com Fernanda Caleffi Barbetta aprendemos: os cardápios são um gênero literário.
A informação instantânea, fornecida pelos meios de massa, deve ser completada pela informação calcada na análise, mais lenta mas presumidamente mais profunda. De qualquer maneira, todos esses meios, na sociedade capitalista, comercializam essa mercadoria especial que é a informação. São meios que vendem informação: quem controla a informação, controla o poder. [General Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p. XV].
Destinos, o Grande Jogo, aqueles que não cabem em editais
Editorial extraído da edição de abril de 2025 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.
Desde sua fundação, em agosto de 2010, o RelevO nunca se propôs a ser apenas um jornal de literatura ou, pior, um jornal de pares, com uma galeria de ilustrados recorrentes e um pequeno lote para os candidatos a ilustrados. Nosso propósito sempre foi mais ambicioso, ou melhor, em uma direção menos óbvia: sustentar, com independência e vigor, um espaço em que a linguagem possa confrontar, subverter, emocionar e provocar — sem dar sustentação a CPFs conhecidos, currículos repletos de conquistas ou medalhões dispostos a colocar mais um X na imensa lista de lugares em que foram publicados.
O RelevO é um jornal de textos que gosta de outsiders, famigerados, inclassificáveis, amaldiçoados pela sina da prateleira de baixo. Gostamos dos indóceis, dos que não pedem licença para escrever. Gostamos dos que não cabem em editais nem em feiras temáticas. Dos obsessivos, dos desajustados, dos desafinados. Publicamos o que não se encaixa — e é justamente esse desalinho que nos dá forma. Por fim, ainda tentamos praticar algum humor pelo caminho. Na contramão dos tempos vigentes, nos dedicamos à permanência — ao gesto e ao gosto de editar, imprimir, dobrar e enviar literatura pelo correio, mês após mês, como quem aposta na repetição da palavra impressa e na presença do outro.
Nosso jornal é feito de margens: estéticas, geográficas, afetivas. Somos de Curitiba, mas quem nos conhece mais de perto sabe que não frequentamos nenhuma mesa das bandas que mais tocam na região. Gente que nunca havia publicado em impresso recebe um pagamento (módico, de R$ 60) e, a bem da verdade, pouco nos interessa de onde seja quem escreveu. Também não nos interessa tanto de onde somos. Somos, afinal, um jornal de textos para leitores e que orgulhosamente não segue tendências — publicamos apenas aquilo que, de alguma forma, nos comoveu.
[Aliás, passamos os últimos três meses (e contando) lendo novos materiais e dando devolutivas aos escritores. De modo geral, é um processo tranquilo, lento e individualizado, embora um & outro acabe nos homenageando assim, de um jeito mais universal:“Percebo que seu comitê de leitura é assustadoramente limitado. Acho que vocês não entenderam nem meia palavra do significado da minha poesia de renome mundial. Mas cada um tem o direito de decidir como quiser. […] Muito obrigado, vocês são um bando de transexuais brasileiros idiotas que não entendem nada de arte. Dancem no Carnaval do Rio fantasiado de bufões e parem de se preocupar com arte. Seus idiotas!”.
Apesar desse tipo de retorno, digamos, mais emotivo, trata-se de um processo muito produtivo e que nos coloca diante do novo-novíssimo e do velho-velhíssimo. A partir dele, tentamos entender o que, hoje, leva um escritor ou uma escritora a sair dos escombros de uma página em branco e se mostrar ao mundo, a começar pela aldeia dos impressos.]
E quem lê tudo isso que publicamos há quase 200 edições? Quem nos ajuda a sustentar esse espaço rarefeito, improvável e um tanto fadado às melhores caixinhas de pets? É o leitor, a leitora; o curioso; o inquieto; o generoso; quem nos descobriu em uma panificadora de domingo; quem buscou uma edição em uma biblioteca pública. É o leitor que folheia o jornal no café da manhã ou no ponto de ônibus, que guarda um exemplar debaixo do braço, que marca uma frase com lápis e envia um e-mail depois dizendo “essa aqui me acertou em cheio” ou nos marca nas redes. O RelevO é um jornal feito com e para leitores que não querem apenas confirmar o que já sabem, mas topar o risco de serem desorientados por um bom texto. Leitores que sustentam, com suas assinaturas e sua atenção, a possibilidade de um jornal que não lambe vitrines nem serve de escada para o ego de ninguém.
Não temos um “comitê de curadoria” sentado em poltronas suecas, com jalecos conceituais e cenho franzido. Temos um grupo de pessoas cansadas, sim, mas inteiras, lendo tudo com o máximo de atenção possível. E o que torna tudo isso possível, mesmo com orçamento apertado e olheiras persistentes, é saber que há gente do outro lado. Gente que valoriza o texto bem colocado, o humor desgraçado, a imagem improvável. Gente que quer mais do que o óbvio.
E por isso, mais do que nunca, reforçamos: assim como a Receita Federal e a Wikipédia, o RelevO precisa de você. Assine, recomende, presenteie, envie àquele amigo estranho que coleciona selos e sublinha contos tristes. A cada assinatura, renovação ou exemplar enviado de presente, testemunhamos um pacto silencioso, porém profundo. Trata-se de um compromisso que vai além do apoio financeiro: é a afirmação de que ainda existe valor na leitura cuidadosa, na surpresa de uma página inesperada, no pensamento que se forma devagar, ao ritmo do papel. Os assinantes são os verdadeiros patronos dessa iniciativa.
Afinal, temos estrelas direcionando nosso destino ou somos meras peças do Grande Jogo? Talvez um pouco dos dois. Talvez sejamos somente um jornal literário de Curitiba, com orçamento apertado, diagramado madrugada adentro e enviado pelo correio com a esperança de que alguém, em algum lugar, vá folhear e nos dar um pouco de tempo. Mas também gostamos de pensar que temos textos nos guiando — um tipo de constelação que se forma quando um conto, uma crônica ou um ensaio encontra seu leitor, quando um envelope cruzando o país vira um sinal improvável de que a linguagem ainda conecta algo.
E se o destino tem mesmo estrelas, quem segura a luneta somos todos nós: leitores, apoiadores, autores, editores, críticos e entusiastas. Cada assinatura é uma pequena revolução contra a pasteurização cultural. Cada apoio é um lembrete de que ainda há espaço para o singular, o excêntrico, o fora de catálogo. O RelevO não existe sem você. É um projeto coletivo, imperfeito e orgulhosamente artesanal — mas é também um delírio compartilhado que resiste ao tempo, aos cortes e às certezas.
Por isso, deixamos aqui o convite: apoie o RelevO. Se você já é parte disso, renove. Se ainda não é, venha. Junte-se a nós nesse jornal que ousa ser ao mesmo tempo palco e bastidor, confessionário e picadeiro, bússola e tiro no escuro. Porque, no fim das contas, talvez sejamos todos peças do Grande Jogo — mas, juntos, podemos mover a pequena mesa da nossa sala.
Boa leitura a todos.
