Gisele Barão: Três acontecimentos

Coluna de ombudsman extraída da edição de dezembro de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Ter uma obra recusada por uma editora ou mal avaliada por um crítico não deveria ser desestímulo para autores. A parcela de escritores bem-sucedidos (use a definição que preferir para este termo) que foi descoberta milagrosamente por grandes editoras ou especialistas é muito pequena. Quem acompanha publicações literárias com frequência, por exemplo, consegue notar a preferência destas por determinados estilos: alguns temas e maneiras de contar histórias se repetem, pois as escolhas são também orientadas por critérios pessoais mais do que técnicos, e não há grandes problemas nisso, a princípio. É assim que as coisas são.

Paralelamente, há quem encontre sua própria estratégia para ser notado ou cumprir expectativas de ação no meio literário, e o mês de novembro teve alguns exemplos interessantes. No dia 24, aconteceu em Curitiba a Augusta Publica, uma feira de publicações independentes feitas por mulheres. As produções de várias artistas, escritoras, editoras e designers puderam ser conhecidas pelo público. Essas pessoas não estão em reportagens de grandes jornais, ainda não foram estudadas, poucos conhecem sua rotina extenuante de trabalho e criação. Fora do circuito tradicional, elas criaram outro circuito.

O próprio mercado literário, que é heterogêneo, tem caminhos diferentes para alcançar o público. No dia 11, foi criada no Facebook a página Livrarias de Rua, que divulga informações sobre lojas pequenas, que não integram grandes redes. Em duas semanas, a página já havia apresentado quase 20 dicas, de diferentes estados brasileiros. Qualquer pessoa pode colaborar com sugestões de livrarias que valem a visita.

Leitores também se organizam. Se falta tempo e estímulo para atender à lista de metas de leitura que costumamos fazer e não cumprir, há quem dê um jeito nisso. No início de 2018, um clube de leitura propôs um desafio entre os participantes: todos deveriam concluir Anna Kariênina, clássico de Liev Tolstói, até o fim do ano. Mês a mês, eles eram relembrados da meta e compartilhavam seu avanço sobre as páginas. Em novembro, encerraram o desafio com um encontro para trocar impressões sobre a obra. Em uma livraria de rua.

Com esse pequeno noticiário, quero dizer que coisas boas podem acontecer pela literatura mesmo em circunstâncias não tão favoráveis. Sempre haverá quem saiba recitar um poema de memória, presenteie um amigo com o livro de uma pequena editora, assine um jornal literário gratuito ou estimule outras pessoas a ler. É assim que as coisas são.

Gisele Barão: Outro país, outros tempos

Coluna de ombudsman extraída da edição de novembro de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Outubro de 2018 estará para sempre marcado como um dos períodos mais tensos da história recente do Brasil. No RelevO, nem tanto. A História não esquece: naturalmente, um dia os jornais dessa época serão analisados. Lá no futuro (se tivermos futuro) algum pesquisador vai questionar: o que os impressos literários publicaram durante aquele importante marco brasileiro? Se nosso hipotético pesquisador resolver folhear este jornal, pensará que tratava-se de outro país, outros tempos. 

Em outubro de 2018, caberia publicar textos com cansativas descrições de personagens mulheres minimizadas em enredos fantasiosos? No meu outubro de 2018, não. Caberia publicar nas páginas de destaque, no miolo do jornal, nada mais do que um alô vindo diretamente das profundezas das inseguranças masculinas? No meu outubro de 2018, jamais. 

Vamos olhar para os lados, ou para frente. No mesmo mês, o Suplemento Pernambuco estampou na capa a frase “Uma ditadura nunca acaba”. O texto principal era de Ricardo Lísias, que ocupou o espaço de ombudsman do RelevO antes de mim. No artigo, ele relembrou obras fundamentais para a cultura e democracia brasileiras. No mesmo mês, vários escritores se posicionaram, diante do contexto atual: Alice Ruiz, Veronica Stigger, Nuno Ramos, João Paulo Cuenca, Milton Hatoum, Raduan Nassar, Laura Erber, Vanessa Barbara, Marcelo Rubens Paiva. A lista é enorme. Literatura, política e memória caminham juntas.

De trás para frente, a edição passada começou bem: na contracapa, havia um texto de Susan Sontag, extraído do livro Diante da dor dos outros. Vejam só, ela tentou nos avisar. Em seguida, o texto de Mariana Carrara, a poesia de Julia Bac, e em uma ou outra página, mais textos de boa qualidade. Richard Roch deu um aceno para o tema. Vale registrar também que a coluna Maidan representa hoje o maior compromisso deste jornal com a atualidade. Mas não pode ficar sozinha nisso.

É fato: em qualquer circunstância, pautar a cultura já é sinal de dignidade. Enquanto isso, grandes jornais e emissoras de TV do Brasil silenciaram ou revelaram estar do pior lado desse caos. Assim, o olhar dos leitores começa a circular, na expectativa de encontrar eco em outros meios. Nas publicações independentes, por exemplo.

O RelevO deixou passar a oportunidade de produzir uma edição de colecionador, como executou tão prontamente durante a Copa do Mundo. Se o tipo de produção com a qual estamos sonhando aqui não chega à caixa de e-mails dos editores, é o caso de provocá-la a chegar. Editar um periódico independente é trabalho árduo, ingrato e, por si só, um ato de resistência. Mas essa tarefa exige um olho lá no futuro. Se tivermos futuro.

Gisele Barão: Políticas públicas

Coluna de ombudsman extraída da edição de outubro de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Quando nos tornamos entusiastas da literatura e dos livros, há uma lista de “bandeiras” para carregar além do ato da leitura em si. A instabilidade do mercado editorial, a visibilidade de novos autores e de pequenas editoras, a baixa remuneração dos profissionais, a qualidade dos textos ou da crítica são alguns temas que também merecem atenção.

É preciso reconhecer, por exemplo, que visitar bibliotecas, livrarias, sebos e feiras nos proporciona um tipo de experiência cultural insubstituível. Nós criamos uma “cartografia sentimental” (para usar um termo explorado por pesquisadores da área). A falência de uma livraria, por exemplo, nos atinge como leitores, já que com ela perdemos, inclusive, um possível ponto de distribuição de periódicos. E há quem conheça jornais ou revistas de literatura apenas porque frequenta tais ambientes.

A edição de setembro do RelevO publicou uma carta do leitor que se aproxima dessa ideia. “Se uma guria ou piá forem todos os meses na biblioteca pública da sua cidade buscar um exemplar do RelevO pra ler de cabo a rabo, e eu puder proporcionar isso, já tô felizona”. O depoimento da leitora ajuda a explicar por que, mesmo com distribuição gratuita, o jornal precisa de assinantes: para proporcionar experiências para mais pessoas, não somente para quem recebe o impresso em casa. Na coluna Maidan da mesma edição, encontramos outra questão preocupante: Mitie Taketani, a curadora da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, alerta para a invisibilidade desse tipo de narrativa, seja em editais públicos, feiras ou editoras.

E já que defendemos a valorização da produção literária em diversos âmbitos, acrescento que uma das formas de incentivo é por meio da informação, da memória. Nesse aspecto, sinto falta de ver no jornal mais informações sobre os autores que colaboram em cada edição. De que cidade eles são? Já têm alguma obra publicada? Hoje, não sabemos mais do que seus nomes. Se um dia o RelevO se tornar objeto de estudo acadêmico, o pesquisador terá dificuldades para entender qual é o perfil dos autores publicados. Incluir esses dados seria uma contribuição à história do jornal e aos escritores.

Fortalecer os periódicos literários, remunerar os autores (sei que o RelevO tem essa pretensão) e cobrar cada vez mais qualidade das produções são caminhos necessários. Políticas públicas, quando existem, também podem funcionar como estímulo à produção e à circulação de bens culturais. Mas, infelizmente, neste caso andamos a passos lentos: sugiro uma busca por tópicos relacionados ao incentivo à leitura nos planos de governo dos candidatos à Presidência da República. Já adianto que o leitor vai se decepcionar.

 

Da redação:

Gisele Barão, passaremos, a partir da próxima edição, a publicar um pequeno perfil de cada colaborador, com cidade de nascimento, cidade atual, principal livro ou espaço de divulgação do trabalho. Não fizemos isso antes por mera implicância com os autores/as que nos mandam, em vez de informações sobre o próprio trabalho, dicas de lugares para viajar ou nos contam sobre seus apreços por vinhos baratos ou por animais de pequeno porte. Vamos resolver isso com um pequeno guia de envio de bios no site.

Gisele Barão: Clichês

Coluna de ombudsman extraída da edição de setembro de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Em 10 de agosto, a escritora, professora e crítica literária Noemi Jaff e esteve em Curitiba para participar do Litercultura. Além de apresentar uma densa lista de sugestões de leitura e descrever sua própria trajetória e formação, Noemi fez alguns comentários sobre o processo de escrita. A palestra toda me fez pensar em algumas coisas que decidi compartilhar neste espaço. 

A primeira dica é sobre como avaliar o que escrevemos. Basicamente, Noemi defende que, se você terminar uma frase e ela te deixar orgulhoso e admirado, apaixonado por si mesmo, é o caso de cortá-la do texto. Provavelmente está ruim. Isso porque a literatura não precisa ter compromisso com o belo. O autor não deve se preocupar em mostrar ao leitor que escreve bem. Ela explica melhor a ideia em um post no blog da Companhia das Letras: “Algo soa mal, algo escapa da fluência da leitura, do prazer do texto, de sua verdade textual, quando um personagem diz algo mais belo do que naturalmente diria ou quando o leitor se intimida diante das cambalhotas lírico-frasais do autor”. 

Na palestra, a escritora também disse que é necessário fazer exercícios mentais para evitar os clichês. Caso contrário, de repente nos pegamos escrevendo “árvore frondosa”, “frio e calculista”, ou qualquer coisa assim. Seria algo semelhante, ela explica, ao que George Perec fez em O sumiço (1969), livro que escreveu sem utilizar a letra “e”. São tentativas de evitar construções, linguagens e estilos viciados.

Neste ponto eu incluo uma reflexão que não é nova, mas serve para o momento: não devemos também fazer exercícios mentais para evitar temas que são lugares-comuns ou abordagens clichês sobre eles? Na edição de agosto do RelevO alguns textos parecem se esforçar nesse sentido. Outros, não. Um tema perigoso que podemos usar como exemplo: “crises existenciais de um escritor”. Há quem escreva sobre isso muito bem, inclusive autores paranaenses. Também tem O ano em que vivi de literatura, livro do Paulo Scott (Editora Foz, 2015), que dá uma boa desenrolada no assunto. Mas, dependendo da abordagem, a impressão é de que estamos mesmo diante de um clichê. 

Obviamente não cabe a ninguém determinar sobre o que se deve escrever ou não. Estamos falando sobre exercícios, tentativas. Se escrever é propor desafios a si mesmo, publicar significa desafiar o leitor, provocá-lo. O RelevO parece executar bem essa função.

Gisele Barão: Apostas

Coluna de ombudsman extraída da edição de agosto de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Uma das primeiras coisas que nos faz pegar um exemplar de jornal que não conhecemos, ou conhecemos muito pouco, e está ali disponível em algum ponto de distribuição, é a sua capacidade de nos atrair visualmente. O leitor distraído precisa se sentir instigado a levar um jornal para casa, mesmo que a capa lhe ofereça quase nenhuma informação sobre o conteúdo. O RelevO, na minha avaliação, é muito eficiente nisso. A capa não nos avisa o que vamos encontrar nas páginas internas. Talvez uma boa parcela de leitores deste impresso não o conheceu porque ouviu alguém comentar, e sim porque frequenta algum ponto de distribuição o jornal, descobriu um exemplar e gostou. 

Tudo isso para elogiar a capa da edição de julho, com uma aquarela de Marcos Beccari. Sei que há tempos o RelevO capricha nesse quesito. Ele desperta curiosidade, dá vontade de ler sem saber o que vai encontrar, porque o projeto gráfico é bem pensado e interpreto isso como um trabalho em prol da literatura. Dava até para investir um pouco mais em ilustração, nos lugares certos. Elas podem ser uma saída melhor do que unir, nas mesmas páginas, dois textos bem diferentes entre si. Poesia não serve para tapar espaço em branco.

Quero dizer também que a poesia é para o que nasce. Não dá muito certo transformá-la em outro tipo de texto. Consigo compreender e gostar da ideia de ver outras manifestações artísticas inspiradas em poesias, mas não a ideia de usar um poema já clássico para criar um texto de outro estilo literário, como vi acontecer na edição de julho. Para mim, a alma da poesia é esse jeito meio torto e conciso de contar uma história, encerrar um assunto ali. E que elas fiquem assim na nossa memória. Opinião da ombudsman — um tipo específico de leitora e sempre em formação.

Na edição passada, as páginas do meio, com a Copa acabando no dia 15 de julho, ficaram velhas um pouco rápido. E tive minhas dúvidas se o evento merecia mesmo esse espaço do jornal, ainda que em tom de humor. De maneira geral, essa seção cumpre muito bem a função de respiro entre os textos. Talvez seja a “segunda capa” do RelevO: a gente escolhe o exemplar pela capa, depois dá aquela olhada nas páginas do meio para avaliar o conteúdo. E quem leva embora depois disso?

Alguns dos acertos de julho: o ótimo trecho retirado do livro de Antoine Compagnon. Um bom serviço de seleção e cujo tema está sintonizado com o debate que o impresso nos provoca a fazer. Na linha dos trechos de livros, “Viagem ao Volga” foi uma escolha interessante, talvez por representar um estilo mais raro no jornal. “Segundas chances”, de Lesley Nneka Arimah, também vale a leitura. Na escrita e na publicação, é sempre preciso ter critério. O RelevO faz apostas.

Gisele Barão: Editar é uma forma de saber literário

Coluna de ombudsman extraída da edição de julho de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


O RelevO mostra que literatura é um assunto que nunca acaba. São inúmeras as possibilidades de produção e de estilo dentro do jornal, e a edição de junho apenas reforça isso. Escrever nunca é fácil; é um trabalho penoso para o qual dedicamos cada vez menos tempo. O ser humano que consegue escrever com certa regularidade já merece o nosso apreço. Enfiar a escrita no meio de todas as coisas que precisamos fazer para nos manter neste mundo é uma guerra. E tudo isso sob o mantra “ninguém se importa” ecoando a cada batida nas teclas. Pode ser desmotivante, mas pode ser um combustível também. 

A edição de junho do RelevO fica especialmente boa a partir do texto de André Cáceres e Bruna Meneguetti, “Parada 4 – Avenida Alcântara Machado”. Isso não quer dizer que o que vem antes não agrada. A carta de uma leitora, por exemplo, me prendeu muito mais do que alguns conteúdos seguintes. Temos também uma entrevista na medida certa sobre HQ e o miolo do jornal, sempre cativante. Mas, da página 17 em diante, os textos parecem convergir.

Em “Parada 4 – Avenida Alcântara Machado”, o tema me fisgou. Para mim, viagens de ônibus, assim como as salas de aula, são grandes laboratórios da humanidade. No restante do tempo estamos encenando. Contudo, nosso comportamento como aluno e como passageiro de um ônibus nos revela. O olhar de um professor sobre nós, ou do cobrador do ônibus — personagem central no texto em questão — raramente se equivocam. É bom falar um pouco sobre coisas reais.

Depois, “A língua, o asterisco e a natureza da sardinha”, de Arzírio Cardoso, vem com uma simplicidade… que eu imagino ser difícil de fazer. Uma das magias da literatura é a gente desconhecer por completo as condições em que o escritor produziu aquilo tudo. E, de qualquer forma, saiu. Está ali no papel, e nos parece simples. Nos encanta sem sabermos direito de onde vem. Isso é demais. 

Viro a página e Elstor Hanzen me comove novamente com a sacada sobre as relações possíveis entre o pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche e do compositor brasileiro Belchior. De novo, a experiência de coisas reais. É uma perspectiva inédita? Não. Ainda assim vale. Vale publicar no RelevO. Ler, discordar, depois concordar, encerrar sem saber se gostou ou não. Não importa, tudo é experiência. E aí encerramos com Diana Joucovski. Um texto forte num local bem escolhido do jornal. Editar também é uma forma de saber literário, não é? Tem metafísica nessa história de escrever, de publicar jornal de literatura. Mas tem muito da vida, o que, para Belchior, é muito pior. É disso que a gente gosta.

Gisele Barão

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2018 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Somente em Ponta Grossa (PR), onde moro e trabalho como jornalista e professora de Comunicação, há ao menos quatro clubes de leitura. Todo mês, essas pessoas leem um novo livro, reúnem-se e conversam sobre ele. Para uma cidade com aproximadamente 340 mil habitantes, sempre achei um bom número. Mas ao receber o convite para assumir a função de ombudsman do RelevO, de repente me pareceu pouco. Por que não há clubes de leitura de jornais literários? 

Imagine um grupo que promova reuniões para ler o RelevO ou outro impresso da área e dar pitaco sobre a qualidade da produção. Digo isso também por interesse próprio. É que qualquer leitura fica melhor quando compartilhada com alguém. A vantagem do ombudsman é ter acesso às cartas que os leitores enviam ao jornal; eles são o nosso clube. Melhoram nossa leitura das coisas quando revelam outro ponto de vista, mesmo que não conversem entre si. 

Dependendo das suas condições e características como autor, talvez ninguém se importe mesmo com a sua produção literária. Talvez as cartas dos leitores sejam negativas sobre ela. Mas você não para de escrever, não é? Porque, em certa medida, existe sim um clube, e é isso que vale. Há quem aguarde uma publicação apenas para não gostar dos textos ou simplesmente para não se importar. E tá tudo bem. A gente gosta mesmo é de ter uma pré-seleção, uma indicação sobre o que deve ser lido. Com tanta gente escrevendo neste mundo, para onde podemos olhar com mais atenção?

Escrevo resenhas de livros há três anos para outro impresso, e confesso que poucas vezes busquei conhecer um autor estreante. Talvez os leitores tenham medo de arriscar. Há tantas obras clássicas na fila que nos falta tempo (ou uma gestão mais inteligente do tempo). Mas uma dúvida me provoca: em que ponto da vida a gente deixa de querer conhecer novos escritores? E por quê? Estou animada para percorrer esse breve caminho ao encontro de autores que, em grande parte, não conheço. E orgulhosa por ter o RelevO como guia.