Coluna de ombudsman extraída da edição de dezembro de 2024 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.
Silêncio…
O sambista está dormindo
Ele foi, mas foi sorrindo…Geraldo Filme, “Silêncio no Bixiga”
Confesso: é armação para te pegar, mais uma vez! Tudo urdido e aloprado para terminar como não começou: título longo (comum à minha poesia de 23 leitores), ecos de falsete acadêmico (comuns ao nosso pícaro jornal), plágio de versejo da edição anterior (comum às demais colunas, mas ausente da inaugural – a que belo dum fdp sem originalidade o Conselho Editorial não negou o mandato!). Não se preocupe: não vai ficar tudo bem, ou até pode, mas esta porta se fechará (entreaberta), automecanicamente (afinal, trata-se de um impresso!), ao toque de algo próximo dos 2 minutos. Tum, tum, tum…
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Dizem que a saideira nunca termina. Ainda que acabe. É o que espera todo cantador e verseiro. Anormalmente, em vão.
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Com o “Sol sempre sobre a cabeça” escorrem os versos solturnos do tropical Daniel Anchieta Guimarães Lobo Pinheiro (quase dou cabo da cota de caracteres!), a nos dar a deixa, como a Enclave ao defenestrar o atual regime de abuso de telas: nem tudo que reluz é ouro. Esse é o ditado mais certo – até o próximo.
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Grita a Enclave (eu odeio CAIXA-ALTA , alô Desclassificados de janeiro): DIMINUAM O MALDITO BARULHO. Detalhe: sem exclamação! Como as telas “secam os olhos”, o barulho nos poda o alcance da voz.
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Nada está tão ruim que não possa piorar, mas pense pelo lado positivo como a Maria Rosa dos Extremos (eu que sempre considerei o RelevO como um auto da desajuda, viadamente mor-ri!, ao ler o texto dela): melhor manter o inimigo por perto. Apresentamos nosso sucessor em ombudsmância: Rafael Maieiro é botafoguense (eles apareceram!), escritor e, nas horas nem vagas, repórter das revoluções em reforma, com o perdão do tantão de erres (e erros). Bardo do caos bem editado, poeta profundo (sei lá o que isso quer dizer!), não o convide para beber: você sempre vai gastar uma baba e seu próximo sol não restará garantido.
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Em tempo, na falta dele: não que não existam sóis gelados, mas cá atacamos pelo flanco do lugar-comum com que arvoram sua imagem de inexpugnável lugar do recomeço radiante. Brilhando num imenso cenário, o sol também pode te enganar – mais uma vez! Sobretudo se você viajar naquela vibe de “quem depressa quis a superfície / tanto quanto o oceano fundo”; e deitou nas ondas sem discernir qual delas agarrar pelo rabo para ir à terra; e viu se perder “o mar nas mãos à deriva”, como nos diz Fernanda Nali de Aquino.
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Como o RelevO e a simpática Bladnoch (Zanella e eu estamos empenhados em ganhar um presentinho de Natal da miúda e tradicional fábrica escocesa de whisky!), Maieiro é daqueles empenhados em formular “uma resposta às engrenagens de um sistema que nem sempre reconhece o valor do peculiar e do pessoal, transformando tudo em opacidade linear”, como bem decantou o último Editorial.
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No sufoco, apelar à cadeira velha da guerra pode dar aquele alívio imediato, mas a coluna há de pagar alto preço, depois. Juro, não é etarismo: é tecnologia. Quando é mau o encosto, pior o desgosto! – é nóis, mano, na lida de legar às próximas gerações os nossos próprios ditados.
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Autocitação para disfarçar a ausência da requerida erudição para ocupar o espaço? Diga lá na edição que vem como o sol a tumultuar quem virou a lua na noite, ombudsmano Maieiro! Que fazer?! Nesta hora fatal, e na teima inconstante daquele negar-se a ser mera poeira, relembro mesmo é verso (im)próprio, como mais um desdito de pessoinha tão amorosa quanto à-toa: “Eu não aceito me despedir”.