Osny Tavares: Ensaiemos!

Coluna de ombudsman extraída da edição de agosto de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Um amigo me contou de seu rápido encontro com Umberto Eco em uma praia italiana, e eu imagino a cena conforme descrita: o célebre escritor estirado numa cadeira com a pança peluda ao sol, na qual apoiava uma revista do Pato Donald. Para o meu amigo, e para mim, a visão é um símbolo prosaico dos caminhos nem sempre óbvios pelos quais o pensamento sobre a cultura pode enveredar.

O RelevO é abrangente: vai de Homero a Hermes & Renato. Uma vez mais, retrata a diversidade formada pela nossa comunidade de leitores. A aculturação não é um domínio sobre o repertório do outro, mas o encontro de novas conexões e possibilidades. 

Ensaio é gênero investigativo por excelência. Espécie de crônica acadêmica, tateia pubescente pelas áreas do saber especulando sobre o novo. É literário em seus recortes e filosófico em seus objetos. Este ombudsman é um grande fã do gênero, e encontraria alguma felicidade em vê-lo com mais frequência neste jornal.

A edição anterior, de julho, trouxe um bom exemplo. Saul Cabral Gomes Júnior cruzou Heidegger e Clarice Lispector em “O Dasein clariceano”. O ombudsman, que leu nada do primeiro e algo da segunda, recebeu uma análise pessoal —suficiente em si —, que se projeta em direção a uma cátedra. O manejo conceitual em um campo distinto é ferramenta pedagógica e literária de grande valor.

O domínio teórico não é condição para uma boa leitura do texto. Ao contrário, o bom ensaio aproveita o ineditismo do leitor. Escapando ao risco do pedantismo, é possível ser leve, alegre e profundo, comunicando a um público de não iniciados.

O pool de autores e autoras do RelevO certamente encontrará muitas tangências dignas de serem rabiscadas. 

Em uma pança larga cabem bibliografias das mais diversas. 

 

Osny Tavares: Achados na tradução

Coluna de ombudsman extraída da edição de julho de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Faz alguns anos que o RelevO encontrou um nicho interessante na tradução de obras e autores inéditos. A cada mês, o jornal traz uma boa coletânea de poemas, contos e outras peças, geralmente acompanhadas do original e de uma apresentação. Assim, acrescenta uma utilidade própria do veículo periódico: receber e divulgar uma literatura que, embora chancelada em outros DDIs, ainda não encontrou gancho para a publicação em livro pelo mercado editorial convencional. 

A edição de junho, por exemplo, publicou poemas do polonês Aleksander Wat, traduzidos por Piotr Kilanowski e apresentados por Fernanda Dante. A escolha chama a atenção para um interessante fenômeno de localização. É desnecessário situar a região de Curitiba em geral — e a cidade de Araucária, em particular — como centro de irradiação da cultura polonesa no Brasil, além de QG do Jornal.

Antes mesmo do célebre poeta bigodudo, a comunidade de imigrantes e descendentes da Polônia têm mantido e dissipado a cultura do país de origem. Basta citar o sucesso da poesia de Wisława Szymborska por aqui. Publicada pela primeira vez em 2011, com tradução da professora Regina Przybycien, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a vencedora do Nobel de Literatura em 1996 consolidou seu nome entre os leitores de versos daqui.

Universalizar é localizar. Que, cada vez mais, o RelevO tenha a felicidade de identificar e irradiar esse tipo de fenômeno. E que, a partir da Colônia Thomaz Coelho, Nossa Senhora de Czestochowa possa estender suas bênçãos sobre a saúde financeira e intelectual do jornal. 

Osny Tavares: Cômico é?

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Em seu décimo primeiro ano de circulação, o RelevO parece sentir a deriva do tempo. “Sentir a deriva”, note-se, é diferente de “sentir-se à deriva”. É mais uma sensação de meio de viagem, de mar aberto. Ou seja, uma pessoa de trinta e poucos anos de idade. É independente com algum grau de institucionalização. É alternativa com contatinhos no centro. É jovem com alguns fios brancos. 

Será destino de todo aspirante a escritor começar parnaso e terminar cínico? Em um discurso célebre, Leminski afirmou que o verdadeiro poeta era reconhecido na idade. Fazer poesia aos 20 anos era fácil, mas ele queria ver aos 30, 40… Poesia aos 50 anos? Humpf!

Uma porção cada vez maior da identidade do jornal vem sendo moldada pelas páginas de humor. Fixas, produzidas internamente ou por colaboradores regulares, são o que o velho editor da finada imprensa escrita chamava de “respiro”. O produto é ótimo. Criativo, bem desenhado, cheio de referências. Zombar do mundo da cultura e do meio literário (muitas aspas nesses termos todos) é, além de um talento, um privilégio. Mas, tal como as pessoas, os veículos também precisam estar atentos para não transformar o riso em disfarce. 

O RelevO anterior veio com uma sobrecapa cômica. Penso que o editor se permitiu a brincadeira por imaginar que, estando fechados os espaços culturais em que costumava ser distribuído, o jornal tem encontrado poucos leitores incidentais. Dessa forma, não precisava apresentar-se de imediato.

No entanto, a decisão automaticamente rebaixou a capa à página 3. Isso foi uma pena, pois trata-se de uma das ilustrações recentes mais bonitas. Claro, eu poderia simplesmente destacar essa lâmina, que não faz parte da ordem numérica das páginas, e escondê-la no miolo. Porém, me parece bom senso que uma edição é, essencialmente, uma sugestão de condução de leitura. Não havendo qualquer motivo para aquela seção não estar no miolo desde o espelho (essa também é de editor velho!), essa escolha editorial somente se justifica pelo desejo de que este conteúdo seja primordial ao leitor.

O espírito pode, inclusive, estar se espalhando entre os leitores. Em edição também recente, diverti-me largamente com uma resenha sobre um romance chamado Ulisses 2051, que se propunha atualizar Joyce. O autor do texto, que se apresentava como pai do romancista, satirizava as pretensões estéticas e a dependência financeira do resenhado.

Infelizmente, não pude descobrir se o livro, tampouco seu autor e/ou pai resenhista, existem de fato. Nada há em toda a página — entre texto e recursos visuais fixos ou específicos — que distinga a resenha das seções mensais de humor do Jornal. Há, sim, um rodapé informativo com informações técnicas que acompanham toda apresentação real de livros do jornal, mas não me dispus a pesquisar na internet se aqueles títulos estavam, de fato, disponíveis. Afinal, citando a redação, em resposta ao ombudsman na edição passada, “não entendo como fundamental as informações pessoais”. 

PS: Em última e remota hipótese, apenas meu jornal veio encadernado dessa maneira. Se verdadeira, para meu maior constrangimento, todos os problemas editoriais, estéticos e existenciais anteriormente apontados ficariam automaticamente invalidados pela extinção do condicionante. 

Isso, sim, seria bem engraçado.

Osny Tavares: Remetente

Coluna de ombudsman extraída da edição de maio de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Em sua primeira década de existência, o RelevO teve a felicidade de alcançar pessoas em diversas partes do Brasil. E essas pessoas também alcançaram o jornal, contribuindo com textos enviados de vários estados. Essa interação nos ajuda a lembrar porque muitos jornais se chamavam Correio de Algum Lugar. O bom jornal é nada mais do que uma troca de cartas coletiva.

Porém, a maioria dos missivistas que vem a nós, leitores do RelevO, é anônima, pois um mero nome e sobrenome, de fato, não dizem muito. É perfeitamente cabível que novas vozes se lançando prefiram ser discretas. Há de se concordar que um rodapé informativo sobre o autor poderia, ainda que sutilmente, influenciar a leitura ou pós-leitura do texto — principalmente no que tange a preconceitos. Puristas não deixariam de argumentar, citando o teórico no início ou no fim, que sobre um autor nada pode ser dito.

No entanto, parece uma cordialidade ainda não caduca que aquele que começa a falar se apresente. Penso que vários dos que publicam têm algum contato, ainda que inicial, com a formação acadêmica, e discorrer objetivamente sobre si em um parágrafo não será difícil.

É possível que isso já tenha sido tentado e tenha fracassado, seja porque o publicado tenha preferido declinar, sob o risco de parecer vaidoso, seja porque começou a se tornar frequente autodescrições idiotas, tais como “comedor de queijo da lua”. Nesses casos e em outros semelhantes, tal tarefa cairia para o editor, para quem a coleta e a redação de informação é sempre uma sobrecarga. 

Por fim, me parece que não há sentido para os tímidos temerem uma superexposição. Não seria o caso sequer na mais popular rede social, exceto se fizessem parte de algum tipo de absurdo. Aqui, nem assim. 

 

Da redação: 

Seguimos, aqui, as premissas da nossa aba Publique, desenvolvida no site do Jornal, em que aplicamos aos autores e às autoras publicados o critério do texto ser mais importante do que o emissor: “Não há necessidade de enviar minibiografias (ou biografias inteiras). Queremos saber o mínimo possível sobre o autor e/ou suas titulações”. Sabemos da importância do leitorado no processo de diálogo com a nossa publicação, mas não entendemos como fundamental as informações pessoais.

Osny Tavares: Um olho na estrutura, outro na dialética

Coluna de ombudsman extraída da edição de abril de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Jornal pressupõe jornalismo? Inicio essa coluna com um beliscão num tema recorrente entre a comunidade do RelevO. Cito resposta do editor a uma correspondência publicada na edição anterior: “Geralmente, nós publicamos textos com caráter menos jornalístico. O foco é a seleção e publicação de novos autores e autoras contemporâneas”. 

Se a costura do jornal são os contos e poesias, os textos de análise são os patches que lhe dão o colorido. Retomando a já saudosa tradição dos suplementos de crítica dos grandes jornais, temos encontrado aqui interessantes comentadores da cultura. Março nos trouxe uma crônica sobre o bicheiro Castor de Andrade (Enclave) e uma resenha sobre coletâneas de Nelson Rodrigues (Laércio Becker) – decerto, duas oposições que tensionam o carioquismo. De forma similar, Elton Mesquita fala sobre as trocas simbólicas entre Brasil e Portugal, ou a falta delas. 

Assim, o periódico se revela sartreanamente vesgo: um olho aponta para a estrutura; o outro, para a dialética. Dessa junção, constrói sua atualidade. Embora não seja propósito dessa publicação, a formação de repertório é condição fundamental para a comunicação cultural. Seja na crítica, seja na produção ficcional, a referência é a matéria-prima do sentido textual. 

A escrita pressupõe leitura, que pressupõe tempo passado. A pauta do RelevO faz visitas sociais à estante dos lançamentos, mas se conforta na sessão dos clássicos. Experimenta o novo tangenciado no perene. 

Como registro de seu tempo, esse jornal tem o desafio de ser contemporâneo sem sucumbir à pauta novidadeira. Para isso, tem optado por acompanhar menos a agenda de lançamentos das editoras comerciais. Essa escolha o distingue das resenhas que predominam na internet, onde as breaking news da literatura ressoam com mais intensidade. 

Emitir juízos antecipados é caminho fácil para o constrangimento. Todo jornalista cultural já deve ter repassado mentalmente suas apostas e se perguntado onde está tudo aquilo agora. Contudo, a segurança do cânone não pode enrijecer precocemente a musculatura analítica dessa plataforma.

Osny Tavares: Quem lê, quem escreve, quem lê

Coluna de ombudsman extraída da edição de março de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


O publisher do RelevO concede ao ombudsman um espaço nobre, neste alto de página 5. Centrão entre percepções de quem faz e quem lê, ele pode ser um criador de caso ou um pacificador — se competente, as duas coisas. 

Na edição de fevereiro, a leitora Brunna Gabardo escreve longamente sobre sua experiência de leitora do jornal, distribuindo seu carinho entre o conteúdo e a plataforma impressa. Ao revelar seu próprio interesse e aspirações literárias, induziu-me a uma reflexão que, pouco depois, na coluna Editorial da mesma edição, cresceu para tema de coluna: há categorias fixas para definir o autor e o leitor deste periódico?

Porque naquele espaço, o fundador revelou o episódio de um possível assinante que exigiu ser colunista como contrapartida. A partir dele, é possível especular quais as diferentes percepções de valor que os leitores possam vir a ter sobre o produto. Também se eles creem representarem um papel específico em seu ciclo de vida. E, primordialmente, se veem as instâncias de leitor e autor no RelevO como verticais e fixas. 

Este jornal tem um pé em cada era: analógico por formação e essência, digital por espírito dialético. Da primeira traz o custo marginal. Tudo nele custa algo; e quanto mais há, mais custa. Do segundo traz a possibilidade de criar algo que os novos chamam de comunidade de fala. A literatura produzida nela sempre será a mais próxima. E, porque não, por consequência, a mais valiosa?

Embora realizar essa ideia seja uma questão de curadoria, portanto editorial, a contribuição primeira dos textos é função voluntária de um pressuposto leitor. De forma que esse é o único ombudsman que pode, legitimante, voltar-se contra os leitores que representa. E, de espírito ainda mais livre, os leitores podem rebelar-se entre si. E, ultimamente, consigo mesmos. 

Na mesma edição, o poema de Larissa Adur é um exemplo de localização (não por acaso, seu título é um endereço). O humor da página central pode ser um último estímulo para ainda acompanhar notícias. E aponto especialmente para a novidade jornalística do ensaio “Ex Nauseam”, de Algum Lucas — uma confissão de agora. 

Há no jornal um esforço pela proximidade. Cabe ao veículo torná-la mais intensa, de forma que até os ligeiros possam vê-la.

Osny Tavares: Coisas para salvar do fim

Coluna de ombudsman extraída da edição de fevereiro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Não sei por quê, mas ultimamente andamos meio apocalípticos, escolhendo o que retirar das chamas. Afinal, a literatura é meio que um pensamento que salvamos do comum. Diante do tanto que estamos sentindo nesse período, e da impossibilidade de significar tudo agora, fazer este jornal demanda um apuro especialmente sofrido a respeito do que registrar e comunicar.

Pois um impresso pode ser um back-up da nossa produção incessante de informações. Aqui, estamos a salvo da superindexação e de tudo o que a acompanha. Não precisamos temer a má interpretação dos algoritmos, nem vigiar contra a turba de revoltosos à procura de um alvo. 

O RelevO é um ambiente confessional.

A pandemia, por certo, afetou a tudo lá fora e aqui dentro. As etapas de produção e distribuição vêm segurando a bola no campo de ataque, e o conteúdo tem sustentado o jornal em sua fase madura, com uma miscelânea de novos e consagrados, lançamentos e registros históricos.

O Grande Fato de Nosso Tempo tem aparecido por aqui apenas ocasionalmente. Isso não é uma coisa nem boa, nem ruim. Talvez precisemos, mesmo, que o tempo possa realizar sua natural decantação primeiro. Ou então o certo é o oposto: precisamos escrever para nós mesmos, um para o outro, abrir a conversa que necessariamente precisaremos ter pelos próximos anos.

Os processos de produção literária — composição, tradução, crítica — obedecem a um ritmo que pouco mudou desde a invenção da imprensa (desde a invenção da leitura, talvez). Quando a marcha do tempo dá uma guinada súbita, é de forma muito cuidadosa que a arte irá absorver esse espírito. Parecer oportunista é desses medos que ainda não perdemos.

É possível engajar-se em correntes ainda não atadas ou aventurar-se na pretensão de cristalizar uma realidade ainda fervente? O RelevO e sua vocação experimental pode ser a rede a nos unir em nosso momento de dúvida.

Há sentido no que dizemos? Como saber sem dizê-lo? Esse é o paradoxo que sempre retorna ao escritor. Também é o deste ombudsman, que pontifica sobre o que desconhece.

Sandro Moser: Saidera

Coluna de ombudsman extraída da edição de janeiro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


“É tudo pretexto para beber”, dizia a sabedoria de minha mãe a respeito de grande parte das atividades humanas. Mesmo assumindo objetivos aparentes outros, no fundo, quase tudo serve apenas a este oculto e nobre propósito. Frequentar clubes, campanhas eleitorais, viagens à Europa, tertúlias literárias se trata tão somente de desculpa para encher o caneco. 

Serve também para as malditas festas de fim de ano, época odiosa. Como Natal se anunciava na base do “mais pra fimose do que para peru”, decidi transformar a leitura do RelevO em justificativa para sangrar uma garrafa de conhaque que até então só tinha sido usada em receitas que deram errado.

Para completar o clichê, acionei uma lista de velhos sambas-canções no streaming e passei, enfim, à leitura deste suplemento. E, amigos, penso que achei a chave certa. 

Tudo ficou incrivelmente melhor. Percebi nuances, entendi as piadas e ponderei os argumentos e me cortei com os poemas. 

Recomendo vividamente aos amigos que também o façam, nesta que é minha derradeira coluna de meu breve e já saudoso ombudsmanato.

A edição de dezembro, aliás, é o RelevO em estado puro até a última gota de alcatrão com os colaboradores mais frequentes, belos poemas de nomes desconhecidos, duas páginas de cartas de leitores e uma ilustra de Maradona que, se eu ficar bêbado o suficiente, vou tatuar nas minhas costas. 

“Yo me equivoqué y pagué. Pero, la pelota no se mancha.”

Maradona falando era um poeta. Eis a maior diferença. 

Adios. 

Sandro Moser: Cartas na rua

Coluna de ombudsman extraída da edição de dezembro de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


No começo da carreira convivi com um jornalista da antiga que tinha fama (exagerada) de polemista e vivia em guerra aos leitores que escreviam cartas à redação. “Escrever para um jornal é a pior forma de solidão”, repetia. Sua rotina sadomasoquista começava com desaforos matinais aos críticos até o dia em que desafinou com a pessoa errada (“vá chupar o pau do Felipão”), o que lhe custou o emprego.

Em geral, os leitores são odiados pelas publicações. Em especial, quando cobram erros e posições. Não acontece neste RelevO, que, se pudesse, levava cada um de seus leitores para jantar fora. Aqui, não há a figura do editor que responde as reprimendas com ironia arrogante. A maioria das publicações que precisam de assinantes mantém um.

Em revistas como Mad, Placar e Piauí — para falar de tempos e públicos diferentes —, a voz que confrontava os leitores era uma das mais lidas. No Pasquim, Henfil e Jaguar, estrelas da companhia, faziam este trabalho.

O RelevO terceiriza a função ao seu ombudsman, órgão impessoal e transitório, que deveria fazer a defesa dos interesses dos leitores expressos principalmente em suas cartas, mas hoje falha por inépcia e preguiça. 

Na edição de novembro, porém, uma carta se destaca. A leitora Rosilene Gomes, com a gravidade de sua prosódia lusófona, faz a pergunta fatal: “Boa tarde !! podes me dizer o que é o Relevo ?”

Que grande questão. Existencialismo no Estácio. Não pode ficar sem resposta. 

Em parte, o editorial se ocupa de respondê-la: um jornal literário sem mecenas e que não encosta em dinheiro púbico. E que, portanto, não precisa lamber botas e puxar sacos. Nem se fazer de descolado para agradar ninguém. E que às vezes (pode, por que não?) é paneleiro, desagradável, pornochanchável. Abre páginas para quem não escreveria em nenhum outro lugar e fecha para quem mais queria aparecer. 

É uma amálgama desigual que mistura textos de hierarquia como os de Ranieri Carli, Racuel de Queiroz e do grande Rodrigo Madeira a outras prosas mais juvenis. Assim é que deve ser à “moda do lobo, sem amigos, sem mulher e filhos”. Termino destacando as páginas das duas poetas Julia Raiz e Maria Luiza Artese, que me foram apresentadas aqui e torcendo para que este ano de merda termine sem matar mais amigos meus.

Sandro Moser: Só dói quando eu rio

Coluna de ombudsman extraída da edição de novembro de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Uma das prerrogativas da minha função neste RelevO é ler todas as letras publicadas em suas 24 páginas de papel-jornal. Uma espécie de tara, manifesta na infância, me faz começar sempre pela última. A edição de outubro, portanto, “abre” com o lindo rondó de Paulo Cesar Pinheiro, musicado por Breno Ruiz. Já vale o ingresso. E me lembrou de um episódio com o poeta há algumas encarnações. 

No fervor dos vinte anos, esperando a hora de embarcar em algum dos grandes aeroportos do país, avistei o PCP. Na época, sua música fazia a minha cabeça — e confesso que ainda hoje faz. Com a coragem do tigre moço (e bêbado), anunciei-lhe, grave: “Poeta, estou indo a Cuba me integrar à revolução”. Ele entrou na brincadeira e respondeu: “Vá, mas volte. Pois o Brasil ainda está por fazer”. 

Desde então, este sentimento me persegue. De que tudo ainda está por fazer e a gente nem começou. Como quando a mudança desce da Kombi. Seria a hora de descansar, mas ainda é o momento do trabalho pesado. Enfim, só o jornal de papel proporciona estes momentos proustianos. O fato de o RelevO seguir de pé, depois do tiroteio de agosto e setembro, é sinal que algo está sendo feito. Mas vamos lá!  

Um leitor (Luiz Cláudio Lins) reclama da qualidade do projeto gráfico, demasiado amadora para seu gosto. Concordo em partes. Em algumas momentos, a diagramação é brilhante. Em outros, claramente apressada e desleixada. Imagino que colaboradores amorais como eu, que retardam o fechamento da edição até o último segundo, sejam uma das causas. De resto, o caos não me incomoda, mas entendo o desconforto do leitor. 

Na página 6, há um oportuno perfil do grande Adão Iturrusgaray ilustrado por seu genial material. Ótimo gancho com a questão do Abaporu. Texto bem feito, nas regras da arte. Faz sentido a presença de um humorista de escol, pois notei que o periódico está cada vez mais aberto ao humor. Vocês também flagraram esta “pasquinização”? Ou sempre foi assim e eu que ando meio desatento? 

Mesmo que na última linha do editorial o jornal diga que “está difícil rir de 2020”, com a paciência do corno contei quase 30% da edição ocupada com textos satíricos. Não é pouca coisa em um jornal que, até onde me lembro, se orgulhava de seus ensaios literários e de publicar ficção e poesia. 

Quem sabe, nosso editores estejam usando a lógica invertida do grande Nelson Sargento que diz que o “samba é triste para que a gente não seja”. De resto, são merecidos os elogios dos leitores à Enclave, que está redondíssima. Me despeço dizendo que vale a pena procurar o material do Algum Lucas na internet e que queria ler mais poemas lúbricos de Jess Carvalho.

Sandro Moser: Língua de sogra

Coluna de ombudsman extraída da edição de outubro de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Antes de tudo, meu apoio à greve dos trabalhadores dos Correios. Ódio e nojo à política de aviltamento e desmanche deste serviço público. Falo por mim, não pelo RelevO

Otimistas com a agora inevitável venda dos Correios — como, aliás, quaisquer otimistas — não perdem por esperar. Sei, contudo, que, em razão dessa circunstância, muita gente não recebeu a edição de setembro. 

Foram privados de uma das mais desbragadas publicações do jornal, que começa se oferecendo em editorial como uma bola na boca à tacada da multinacional do xarope de taurina gaseificada.

Pensem comigo: que uma parcela da população que mistura esta desgraça na bebida seja grande o suficiente a ponto de gerar lucros torrados com patrocínio a equipes idiotas de futebol e Fórmula 1 é sinal de que a civilização ocidental é apenas luz de uma estrela morta. E já vai mesmo tarde a civilização ocidental. 

Voltando ao RelevO de setembro, há uma seleção poética alta, com destaque aos textos de Júlia Raiz e Nathália Fernandes que ficam mais belos com a fina diagramação de motivos urbanos. 

A boa reflexão filosófico-literária de Lucas Sanches Lima, daquelas que eu sempre gostei de ler no RelevO (e quem mais publicaria?), só perde o posto de melhor texto do mês para a entrevista imaginária com o tenista ilhéu. 

Sou devoto antigo deste gênero renegado. Na página central, as melhores qualidades de uma boa “imaginária” brilham a arcada dentária da cabra vadia no terreno baldio: vileza, blasfêmia, grosseria e despropósito. Muito bom. Que se repita. 

pita. O Jornal teve a fineza de dar grande espaço aos leitores e agradecer a cada um de seus colaboradores da década passada. Como em qualquer rol longo de nomes, abre-se a chance para uma divertida busca de antigos parceiros e parceiras sexuais, credores e desafetos literários em ordem alfabética. 

Este é o caldo da edição de setembro: a mais cara e invisível da história do RelevO. Poética e autolaudatória. Efusiva e vazia. Como uma festa de aniversário nas férias na qual os coleguinhas convidados não apareceram. 

Sandro Moser: Uma dieta para perder assinantes

Coluna de ombudsman extraída da edição de setembro de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Convido-os a deambular em retrospectiva nos três últimos meses deste RelevO. Neste setembro, na contramão de grande parte das publicações lítero-culturais do país, o jornal celebra uma década de circulação mostrando improvável vitalidade. A carteira de assinantes está em ascensão e, a partir desta edição, o jornal passará a remunerar seus colaboradores. 

Espertamente divulgado no final da edição de agosto, o jeton representa 10% do valor de uma bolsa emergencial da pandemia e terá como efeito imediato a melhora na qualidade dos textos, pois minha experiência mostra que um trabalho pago é pelo menos três vezes mais revisado do que um gratuito. Na edição de agosto, o ponto alto foi a reprodução, na página 6, da ótima HQ de Arnaldo Branco que escracha o papel infame da imprensa em nosso tempo, além de um bom conjunto de poemas e textos de reflexão sobre teoria literária, videogames e miséria existencial.

Ouvi críticas à página de humor. Alguns leitores a consideraram de “mau gosto adolescente” e “preconceituosa”. O texto não assinado, mas pleno das impressões digitais do autor, está mesmo situado antes da sobreloja na torre do humor, mas confesso, abestalhado, que gostei, justamente pelo tom velhaco e absurdo. 

Chegamos, pois, ao mês de julho quando um dos textos fez o RelevO perder um assinante. Para um jornal literário que destaca o nome dos apoiadores na página 1, é tão triste quanto ver fechar um bar centenário ou ver morrer um amigo. O agora ex-assinante pediu anonimato, mas explicou que desistiu do jornal em razão de um texto de “direita-fascista” da autora Greicy Bellin. Antes da despedida, ele declinou da oferta de uma possível réplica. 

Para quem não lembra, o texto de alguma forma exalta a capacidade de comunicação popular de um modelo de pensamento ideológico que não é nem o liberalismo juspositivista, nem o marxismo e suas derivações. 

Os editores reconhecem que o texto em questão está “fora da curva do jornal”, mas que a consequência de sua publicação parece sintoma da cosmovisão das redes sociais, onde há uma luta em andamento “entre o exercício de dissenso e o exercício de apagamento do diferente entre os iguais” e que, enfim, o RelevO é a “favor da dieta intelectual variada, mesmo quando não gosta de alguns alimentos”.

Em princípio, eu também sou. E acho que o texto em questão até faz boas reflexões sobre o “continente perdido” da filosofia contemporânea, mas entendo a aflição do leitor — que foi também a minha —, pois é uma chocante inversão de expectativa ler escrito a sério o nome de um autor nacional cuja a simples menção conspurca o apanágio que o RelevO construiu nesta década. 

Entendo que a casa tenha a coragem de servir conteúdo variado. Entre os leitores, quem tem estômago mais forte, come com farinha. Quem não tem, pode separar no canto do prato. Se vier sempre, os clientes podem não vir mais. É o preço de se estar em movimento neste tempo estranho e perigoso. E que venham dez anos mais. 

Sandro Moser: Cachoeira de aguardente

Coluna de ombudsman extraída da edição de agosto de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Há coisas boas e coisas novas para contar. Nosso problema é que as coisas boas não são novas e as coisas novas não são boas, como na anedota. Deste último grupo de notícias, cabe dizer que a partir de hoje me cabe ocupar este excelso espaço. Uma responsabilidade mais pesada do que meus joelhos podem aguentar. 

Há apenas dois outros colegas na mesma função no país e, diante da contramarcha dos acontecimentos, não será surpresa se um ou dois de nós formos extintos em breve. Aquele que escapar será guardião de uma língua morta, o “papagaio de Humboldt” dos suplementos literários. 

A parte em que a coisa melhora — e aposto uma garrafa — é que o sobrevivente será o titular deste espaço, visto que a crise não nos alcança, pois estamos duas jogadas à sua frente, e meu ombudsmanato dura o tempo máximo de uma gestação humana saudável. 

Meu publisher pede que me apresente, me fazendo encarar, aos calafrios, minha medíocre pusilanimidade. Hoje quando me acusam da minha antiga profissão, devolvo o insulto: “Jornalista é você!” e como não quero que minha outra ocupação indefensável se espalhe por aí, me calo.

Me parece mais importante contar que nasci numa minúscula cidade no extremo-sul do Paraná, Porto Vitória, local mágico onde a principal atividade é beber aguardente de Juniperus admirando a cachoeira. Este torpor contemplativo é o sentimento de plenitude utópica que busco em todas as coisas desde que fui arrancado daquele paraíso pelas forças do capitalismo tardio e que, às vezes, a leitura poética me devolve. 

Neste sentido, apenas, talvez reúna as condições objetivas para representar os leitores invulgares deste RelevO que se espalham pelo país todo como uma mancha epidemiológica, mas que, na verdade, são zés-pilintras usando as frestas de luz desta treva hirsuta para tentar seus dribles. 

Gastei tanto espaço falando de meu medos e quase não sobrou tempo para dizer que me emocionou ver na página central do nosso caderno a marquise derrubada do velho Maracanã e, como bom argentinófilo, afirmo que toda poesia platense ou patagónia me comove como o diabo. 

Hoje vou assoprar e assim dizer que morte, izakayas e alucinações são temas que pedem mesmo grave reflexão. Prometo também morder e, afinal, a montanha dará à luz uma ninhada de ratos albinos. 

Omdusman

Coluna de ombudsman extraída da edição de julho de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Trecho da última coluna de ombudsman do The New York Times, assinada pela jornalista Margareth Sullivan, em 16 de abril de 2016. O novo ombudsman do RelevO, que sucederá a escritora e psicanalista Morgana Rech, será anunciado em meados de julho. Seu mandato se iniciará na edição de agosto. Ao lado da Folha de S.Paulo e de O Povo, de Fortaleza, o RelevO é um dos três periódicos brasileiros a contar com o cargo, fundamental para a relação de crítica e de mediação com o leitorado da publicação.

 

Então, aqui estão algumas recomendações, que refletem minhas esperanças para esta grande empresa de notícias [NYT] e são baseadas no que ouvi dos leitores:

Mantenha controle editorial. Como as parcerias, especialmente com o Facebook, o gigante das mídias sociais, tornam-se quase impossíveis de resistir, o Times não deveria permitir que abordagens orientadas pelos negócios determinem o que os leitores podem ver. Ao lidar com o Facebook e com outras plataformas e parceiros em potencial, cujos negócios giram em torno de algoritmos, é fundamental que o jornal garanta que as notícias que os leitores veem sejam conduzidas pelo julgamento de editores preocupados com jornalismo, não com fórmulas voltadas para os negócios, as quais talvez apenas reforcem preconceitos. Essa é uma das grandes questões para o futuro imediato – e deve ser enfrentada.

Lembre-se de que a velocidade mata. Como o Times tenta obter o maior número possível de leitores digitais, é preciso ter em mente que a precisão e a justiça são fundamentais. Isso parece óbvio, mas no momento competitivo da publicação, nem sempre é fácil lembrar. Vá mais devagar, por uma questão de credibilidade.

Mantenha o clickbait à distância. Na pressão pelo tráfego digital, o Times agora publica artigos em que nunca teria tocado antes para manter-se parte de uma conversa que ocorre nas mídias sociais e é lida em smartphones. Isso não torna esses artigos inerentemente ruins, mas o truque é manter os próprios valores.

– Mantenha a responsabilidade e o jornalismo de vigilância em primeiro plano. O Times de Dean Baquet é aquele que enfatiza o trabalho de investigação. Essa deve ser sempre uma prioridade, e nada deve enfraquecê-la.

Não subestime a importância do editor e da checagem. Como o Times tenta controlar os custos e reduzir sua força de trabalho, esse trabalho não deveria sofrer. Pode parecer invisível, mas importa enormemente.

Lembre-se da missão de defender os oprimidos da sociedade. O Times pode ser elitista em alguns aspectos — apartamento de US$ 10 milhões, alguém? Cubra os ricos, sim, mas equilibre-os com profunda e permanente atenção aos que nada têm.

Proteja a credibilidade com os leitores acima de tudo. Aprofunde o relacionamento com eles e encontre novas maneiras de ouvir e abordar as preocupações dos leitores. (E, por favor, corrija as desigualdades no sistema de comentários — em breve.)

Morgana Rech: Elaborando o fim

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2020 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Cinco coisas que pude elaborar durante esse período de ombudsman no RelevO:

 

  1. Tudo pode ser virtualizado. Em cada frase que dirigimos a alguém, um espaço vazio permanece entre como uma caixinha de potencialidades imaginativas. Minha relação com o jornal não tem absolutamente nada de concreta. É virtual na minha liberdade imaginativa; assim como na nuvem de onde falei durante esses cinco meses; assim como nos contatos com quem comigo divide essas páginas, neste oásis mundano que é a arte.
  2. Ser analista de jornal é por pouco tempo. Primeiro, porque ele sabe mais do que eu. Segundo, porque cinco meses é mais do que suficiente para instalar uma relação suficientemente boa entre o jornal e suas estranhezas. Freud atendia seus pacientes-pessoas por pouco mais do que isso, às vezes menos. Não foi analista de jornal, mas de grandes obras de arte, trabalhos que lhe construíram como fundador de alguma coisa.
  3. Existem várias formas de matar um leão por dia, seja transformando-o num tigre preguiçoso, ou deixando-o no silêncio, ou ainda reduzindo a sua presença à significância de uma joaninha.
  4. Continuo sem entender por que é mesmo que eu deveria criticar o jornal. Ninguém entende isso mesmo.
  5. Jornais: especialistas em resistir ao tratamento com as suas múltiplas capacidades de se deslocar e se condensar em imagens, como as de Magritte, que só servem para desviar a atenção do analista.

 

Dizem que, depois da última sessão, o paciente sonha com tudo o que aconteceu durante o percurso. Sua capacidade de sonhar já não será a mesma, dali em diante. São ferramentas e fios novos para tecer, dia e noite e do dia para a noite. Como o RelevO já faz um tecidão pelo Brasil com seu impresso há todos esses anos, só me resta esperar que ele siga contaminando todo mundo, por onde quer que passe, com a sua arte de renovar as nossas esperanças. 

Tempo esgotado.