Osny Tavares

Coluna de ombudsman extraída da edição de fevereiro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


É engraçado esse troço de pensar em direitos do leitor. Não como o Daniel Pennac, mas como uma certa matéria de direito. Que direito, de fato, tem o leitor? O consumidor tem direito que o livro comprado tenha todas as páginas encadernadas em ordem, mas o leitor tem direito a uma coerência?

Quais direitos deveriam ter, então, quem lê o RelevO?

Ler é eufemismo de bisbilhotar.

O leitor tem, sempre, o direito de ler.

E os verdadeiros românticos mandam cartas.

* * *

      Esta é a última coluna deste meu segundo período como ombudsman do RelevO. Obrigado pela leitura. Nos encontramos depois.

Osny Tavares: Matéria de poesia

Coluna de ombudsman extraída da edição de janeiro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Como é começo de ano, e ainda estamos meio bêbados, uso a mais-quemanjada referência a Manoel de Barros para destacar um ponto da edição passada (dez/21), que trouxe uma boa coletânea de poemas, entre produções originais e traduções. Quando uma poesia toca o leitor, há de ser um momento especial do fenômeno linguístico. Para além de sua matéria artística, uma outra — a plataforma em que circula — é componente fundamental da mensagem. E sobre ela é possível perguntar, sem acusar-se de poeta, de que matéria é feita.

A poesia é uma arte performática; ela transita por um espaço; o papel é seu palco. Ela só tem sentido publicada; o fazer poético é pegar a tinta e registrar no papel a forma linguística do sentimento; pulsão transcendental, do intangível ao tangível.

O jornalão de anteontem costumava ser janela para os poetas. Davam, além da visibilidade, uma chancela temporal. Diziam do poema: isso é novo!

Os periódicos literários servem para atualizar a literatura. Atualizar em segundo sentido metafísico: realizar, passar da potência ao ato. 

Precisam mostrar a poesia ao leitor e dizer: é chegado o tempo para isso.

Osny Tavares: Voz, posse e mandato

Coluna de ombudsman extraída da edição de dezembro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


O RelevO, em seu aparente compromisso com a autodesimportância, esconde de seus leitores o esforço de produção para cada edição. Parte desse corre foi relatado no editorial da edição anterior (novembro), longamente dedicado a uma reflexão logística.

Naquele texto, um elogio-desabafo, lembrou-nos que é jornal. Como tal, repete rotinas, consolida processos, assimila práticas. Em suma, cria trabalho pra si. E talvez por isso mesmo não fale disso.

A triagem de uma grande quantidade de colaborações é um exercício de disciplinado interesse pelos outros. É preciso lê-los e arranjá-los num todo coeso a cada mês. E assim repetidamente, nadando numa piscina de pautas frias.

Os colaboradores deveriam retribuir o interesse se fazendo um pouco mais claros.

Qual é o gancho?, como dizíamos na redação.

Pensando o jornal em uma articulação com o mundo, por que este texto deve ser publicado agora? Há uma justificativa na qual eu, o autor, não esteja incluído? 

O que eu estou fazendo com o espaço que me foi cedido?

Quem cria, busca um ideal. Qual é o meu?

Osny Tavares: Uma discussão sobre tamanho

Coluna de ombudsman extraída da edição de novembro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Virar berliner é sinal evidente de decadência para um jornal brasileiro. Deve ser, inclusive, para os tabloides. Comento porque o RelevO está chegando a uma idade em que discussões sobre tamanho físico começam a ganhar relevância.

Caso este jornal se aventurasse a uma nova medida, primeiro, pareceria profissional, o que poderia afastá-lo de sua vocação primeira, que é estimular a escrita. Depois, interessado em inserir-se – como voz e como tema – em um debate social mais hegemônico, o que sempre faz mal à literatura. O contrato de leitor é sempre o de poucos contra muitos.  É o prazer de uma correspondência que escapou a alguns postos de controle.

O autor-colaborador deste periódico tem responsabilidade sobre quem cita. Ele atrai para o círculo de correspondência uma atenção externa, originalmente não-interessada. E para o leitor interessado, agencia a curiosidade.

Entre os veículos alternativos, o RelevO distingue-se por ter uma segunda geração de leitores. São jovens dos primeiros anos de formação intelectual, que ainda tateiam em busca de referências, e cujos cânones ainda estão por ser estabelecidos.

Quem ousa manifestar-se na grande comunidade dos autores deve garantir-se capaz de identificar interlocutores de valor. Escrever é falar com escritores. Comunicar, sobre a cultura, aquilo que lhe é mais verdadeiro. Essa é uma confissão do sábio: orientar, apontar por quais caminhos ele próprio viu.

O artista, também o literário, precisa renunciar a qualquer sistema de valores para além do estético. Todo registro escrito é um desejo de permanência.

Nossa era exige uma certa moral hipertextual. Uma resposta à questão: para quem você está abrindo um link?

Osny Tavares: Em defesa do gênero neutro

Coluna de ombudsman extraída da edição de outubro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Todos os meses, antes de sentar para escrever esse texto, tento cavoucar as páginas em busca de algo ainda não devidamente observado. Essa é a jornada do ombudsman de jornal literário: ser um acupunturista das pretensões alheias. Desta vez, me detive com curiosidade na página 2, aba Publique. O quadrinho cinzento diz que este jornal recebe textos de todos os gêneros, ilustrações, narrativas visuais e fotográficas.

É um convite à pluralidade de gêneros, mas poderia ser compreendido — de forma aprofundada — como a superação destes.

O mercado editorial está em crise (novidade!). Esta, porém, parece um pouco mais ampla, pois se estende também à plataforma. Muito se lamentou o fechamento dos cinemas na pandemia, pouco o das bibliotecas. A discussão sobre a perenidade do livro é longa e complexa, e não me cabe. Mas lembro dela para refletir sobre o norte estético que compositores de letras podem buscar.

Poderíamos, sim, especular sobre a vitalidade do romance, ou de um determinado tipo de prosa estrutura em descrições, diálogos, cenas. Este ainda é, de fato, o gênero nobre e altivo da literatura, recheador de estantes da classe média medianamente ilustrada, ou apenas o último cadáver da modernidade que, tal como os de Antares, hesitam em desocupar a praça? Por que ainda se tenta escrevê-los? Por que ainda se busca demonstrar possuir fôlego e técnica para tal?

Os textos enviados ao RelevO se enquadram com alguma facilidade em algum gênero consolidado. São, primeiramente, uma homenagem a estes. Eu diria até que a prosa longa é a visão majoritária, quase comum. É natural que se comece em terreno conhecido, porque, convenhamos, esse papo de transgressão sempre soa bem pedante. Porém, penso que um autor deva buscar ser novo, antes de ser velho.

Fugir dos gêneros consolidados e, por consequência, criar um novo é para raríssimos, evidentemente. Mas usar a linguagem literária de forma ampla e híbrida para comunicar com densidade é possível para um público letrado mais amplo, minimamente inspirado e pouco impressionável com fardões de academias.

Osny Tavares: Pode o jornal literário ser moral?

Coluna de ombudsman extraída da edição de setembro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Os manuais de Jornalismo afirmam que a função do ombudsman é questionar o jornal sob a perspectiva do leitor — que é exatamente aquilo que o ombudsman é. Ou seja, a função do ombudsman é questionar o jornal sob a perspectiva de si mesmo.

E a questão que mais me rói a barba desde há muito é a questão moral. 

Como é produzido e distribuído para quem o solicita mediante troca monetária, é inegável que o RelevO seja um bem. 

Mas pode o jornal ser bom, em sentido moral? 

Pode estar a serviço de algo? 

Amplificar algum discurso? 

Referendar alguma ideia? 

Dizer-se representar o que seja? 

Lecionar? 

Quem se deixará lecionar por um jornal literário? 

O que deve fazer o jornal literário, então? 

Destruir? 

Agredir alguém de alguma forma? 

Quem se sentiria agredido por um jornal literário? 

Então, literário é somente o que um jornal literário pode ser.

Osny Tavares: Ensaiemos!

Coluna de ombudsman extraída da edição de agosto de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Um amigo me contou de seu rápido encontro com Umberto Eco em uma praia italiana, e eu imagino a cena conforme descrita: o célebre escritor estirado numa cadeira com a pança peluda ao sol, na qual apoiava uma revista do Pato Donald. Para o meu amigo, e para mim, a visão é um símbolo prosaico dos caminhos nem sempre óbvios pelos quais o pensamento sobre a cultura pode enveredar.

O RelevO é abrangente: vai de Homero a Hermes & Renato. Uma vez mais, retrata a diversidade formada pela nossa comunidade de leitores. A aculturação não é um domínio sobre o repertório do outro, mas o encontro de novas conexões e possibilidades. 

Ensaio é gênero investigativo por excelência. Espécie de crônica acadêmica, tateia pubescente pelas áreas do saber especulando sobre o novo. É literário em seus recortes e filosófico em seus objetos. Este ombudsman é um grande fã do gênero, e encontraria alguma felicidade em vê-lo com mais frequência neste jornal.

A edição anterior, de julho, trouxe um bom exemplo. Saul Cabral Gomes Júnior cruzou Heidegger e Clarice Lispector em “O Dasein clariceano”. O ombudsman, que leu nada do primeiro e algo da segunda, recebeu uma análise pessoal —suficiente em si —, que se projeta em direção a uma cátedra. O manejo conceitual em um campo distinto é ferramenta pedagógica e literária de grande valor.

O domínio teórico não é condição para uma boa leitura do texto. Ao contrário, o bom ensaio aproveita o ineditismo do leitor. Escapando ao risco do pedantismo, é possível ser leve, alegre e profundo, comunicando a um público de não iniciados.

O pool de autores e autoras do RelevO certamente encontrará muitas tangências dignas de serem rabiscadas. 

Em uma pança larga cabem bibliografias das mais diversas. 

 

Osny Tavares: Achados na tradução

Coluna de ombudsman extraída da edição de julho de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Faz alguns anos que o RelevO encontrou um nicho interessante na tradução de obras e autores inéditos. A cada mês, o jornal traz uma boa coletânea de poemas, contos e outras peças, geralmente acompanhadas do original e de uma apresentação. Assim, acrescenta uma utilidade própria do veículo periódico: receber e divulgar uma literatura que, embora chancelada em outros DDIs, ainda não encontrou gancho para a publicação em livro pelo mercado editorial convencional. 

A edição de junho, por exemplo, publicou poemas do polonês Aleksander Wat, traduzidos por Piotr Kilanowski e apresentados por Fernanda Dante. A escolha chama a atenção para um interessante fenômeno de localização. É desnecessário situar a região de Curitiba em geral — e a cidade de Araucária, em particular — como centro de irradiação da cultura polonesa no Brasil, além de QG do Jornal.

Antes mesmo do célebre poeta bigodudo, a comunidade de imigrantes e descendentes da Polônia têm mantido e dissipado a cultura do país de origem. Basta citar o sucesso da poesia de Wisława Szymborska por aqui. Publicada pela primeira vez em 2011, com tradução da professora Regina Przybycien, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a vencedora do Nobel de Literatura em 1996 consolidou seu nome entre os leitores de versos daqui.

Universalizar é localizar. Que, cada vez mais, o RelevO tenha a felicidade de identificar e irradiar esse tipo de fenômeno. E que, a partir da Colônia Thomaz Coelho, Nossa Senhora de Czestochowa possa estender suas bênçãos sobre a saúde financeira e intelectual do jornal. 

Osny Tavares: Cômico é?

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Em seu décimo primeiro ano de circulação, o RelevO parece sentir a deriva do tempo. “Sentir a deriva”, note-se, é diferente de “sentir-se à deriva”. É mais uma sensação de meio de viagem, de mar aberto. Ou seja, uma pessoa de trinta e poucos anos de idade. É independente com algum grau de institucionalização. É alternativa com contatinhos no centro. É jovem com alguns fios brancos. 

Será destino de todo aspirante a escritor começar parnaso e terminar cínico? Em um discurso célebre, Leminski afirmou que o verdadeiro poeta era reconhecido na idade. Fazer poesia aos 20 anos era fácil, mas ele queria ver aos 30, 40… Poesia aos 50 anos? Humpf!

Uma porção cada vez maior da identidade do jornal vem sendo moldada pelas páginas de humor. Fixas, produzidas internamente ou por colaboradores regulares, são o que o velho editor da finada imprensa escrita chamava de “respiro”. O produto é ótimo. Criativo, bem desenhado, cheio de referências. Zombar do mundo da cultura e do meio literário (muitas aspas nesses termos todos) é, além de um talento, um privilégio. Mas, tal como as pessoas, os veículos também precisam estar atentos para não transformar o riso em disfarce. 

O RelevO anterior veio com uma sobrecapa cômica. Penso que o editor se permitiu a brincadeira por imaginar que, estando fechados os espaços culturais em que costumava ser distribuído, o jornal tem encontrado poucos leitores incidentais. Dessa forma, não precisava apresentar-se de imediato.

No entanto, a decisão automaticamente rebaixou a capa à página 3. Isso foi uma pena, pois trata-se de uma das ilustrações recentes mais bonitas. Claro, eu poderia simplesmente destacar essa lâmina, que não faz parte da ordem numérica das páginas, e escondê-la no miolo. Porém, me parece bom senso que uma edição é, essencialmente, uma sugestão de condução de leitura. Não havendo qualquer motivo para aquela seção não estar no miolo desde o espelho (essa também é de editor velho!), essa escolha editorial somente se justifica pelo desejo de que este conteúdo seja primordial ao leitor.

O espírito pode, inclusive, estar se espalhando entre os leitores. Em edição também recente, diverti-me largamente com uma resenha sobre um romance chamado Ulisses 2051, que se propunha atualizar Joyce. O autor do texto, que se apresentava como pai do romancista, satirizava as pretensões estéticas e a dependência financeira do resenhado.

Infelizmente, não pude descobrir se o livro, tampouco seu autor e/ou pai resenhista, existem de fato. Nada há em toda a página — entre texto e recursos visuais fixos ou específicos — que distinga a resenha das seções mensais de humor do Jornal. Há, sim, um rodapé informativo com informações técnicas que acompanham toda apresentação real de livros do jornal, mas não me dispus a pesquisar na internet se aqueles títulos estavam, de fato, disponíveis. Afinal, citando a redação, em resposta ao ombudsman na edição passada, “não entendo como fundamental as informações pessoais”. 

PS: Em última e remota hipótese, apenas meu jornal veio encadernado dessa maneira. Se verdadeira, para meu maior constrangimento, todos os problemas editoriais, estéticos e existenciais anteriormente apontados ficariam automaticamente invalidados pela extinção do condicionante. 

Isso, sim, seria bem engraçado.

Osny Tavares: Remetente

Coluna de ombudsman extraída da edição de maio de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Em sua primeira década de existência, o RelevO teve a felicidade de alcançar pessoas em diversas partes do Brasil. E essas pessoas também alcançaram o jornal, contribuindo com textos enviados de vários estados. Essa interação nos ajuda a lembrar porque muitos jornais se chamavam Correio de Algum Lugar. O bom jornal é nada mais do que uma troca de cartas coletiva.

Porém, a maioria dos missivistas que vem a nós, leitores do RelevO, é anônima, pois um mero nome e sobrenome, de fato, não dizem muito. É perfeitamente cabível que novas vozes se lançando prefiram ser discretas. Há de se concordar que um rodapé informativo sobre o autor poderia, ainda que sutilmente, influenciar a leitura ou pós-leitura do texto — principalmente no que tange a preconceitos. Puristas não deixariam de argumentar, citando o teórico no início ou no fim, que sobre um autor nada pode ser dito.

No entanto, parece uma cordialidade ainda não caduca que aquele que começa a falar se apresente. Penso que vários dos que publicam têm algum contato, ainda que inicial, com a formação acadêmica, e discorrer objetivamente sobre si em um parágrafo não será difícil.

É possível que isso já tenha sido tentado e tenha fracassado, seja porque o publicado tenha preferido declinar, sob o risco de parecer vaidoso, seja porque começou a se tornar frequente autodescrições idiotas, tais como “comedor de queijo da lua”. Nesses casos e em outros semelhantes, tal tarefa cairia para o editor, para quem a coleta e a redação de informação é sempre uma sobrecarga. 

Por fim, me parece que não há sentido para os tímidos temerem uma superexposição. Não seria o caso sequer na mais popular rede social, exceto se fizessem parte de algum tipo de absurdo. Aqui, nem assim. 

 

Da redação: 

Seguimos, aqui, as premissas da nossa aba Publique, desenvolvida no site do Jornal, em que aplicamos aos autores e às autoras publicados o critério do texto ser mais importante do que o emissor: “Não há necessidade de enviar minibiografias (ou biografias inteiras). Queremos saber o mínimo possível sobre o autor e/ou suas titulações”. Sabemos da importância do leitorado no processo de diálogo com a nossa publicação, mas não entendemos como fundamental as informações pessoais.

Osny Tavares: Um olho na estrutura, outro na dialética

Coluna de ombudsman extraída da edição de abril de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Jornal pressupõe jornalismo? Inicio essa coluna com um beliscão num tema recorrente entre a comunidade do RelevO. Cito resposta do editor a uma correspondência publicada na edição anterior: “Geralmente, nós publicamos textos com caráter menos jornalístico. O foco é a seleção e publicação de novos autores e autoras contemporâneas”. 

Se a costura do jornal são os contos e poesias, os textos de análise são os patches que lhe dão o colorido. Retomando a já saudosa tradição dos suplementos de crítica dos grandes jornais, temos encontrado aqui interessantes comentadores da cultura. Março nos trouxe uma crônica sobre o bicheiro Castor de Andrade (Enclave) e uma resenha sobre coletâneas de Nelson Rodrigues (Laércio Becker) – decerto, duas oposições que tensionam o carioquismo. De forma similar, Elton Mesquita fala sobre as trocas simbólicas entre Brasil e Portugal, ou a falta delas. 

Assim, o periódico se revela sartreanamente vesgo: um olho aponta para a estrutura; o outro, para a dialética. Dessa junção, constrói sua atualidade. Embora não seja propósito dessa publicação, a formação de repertório é condição fundamental para a comunicação cultural. Seja na crítica, seja na produção ficcional, a referência é a matéria-prima do sentido textual. 

A escrita pressupõe leitura, que pressupõe tempo passado. A pauta do RelevO faz visitas sociais à estante dos lançamentos, mas se conforta na sessão dos clássicos. Experimenta o novo tangenciado no perene. 

Como registro de seu tempo, esse jornal tem o desafio de ser contemporâneo sem sucumbir à pauta novidadeira. Para isso, tem optado por acompanhar menos a agenda de lançamentos das editoras comerciais. Essa escolha o distingue das resenhas que predominam na internet, onde as breaking news da literatura ressoam com mais intensidade. 

Emitir juízos antecipados é caminho fácil para o constrangimento. Todo jornalista cultural já deve ter repassado mentalmente suas apostas e se perguntado onde está tudo aquilo agora. Contudo, a segurança do cânone não pode enrijecer precocemente a musculatura analítica dessa plataforma.

Osny Tavares: Quem lê, quem escreve, quem lê

Coluna de ombudsman extraída da edição de março de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


O publisher do RelevO concede ao ombudsman um espaço nobre, neste alto de página 5. Centrão entre percepções de quem faz e quem lê, ele pode ser um criador de caso ou um pacificador — se competente, as duas coisas. 

Na edição de fevereiro, a leitora Brunna Gabardo escreve longamente sobre sua experiência de leitora do jornal, distribuindo seu carinho entre o conteúdo e a plataforma impressa. Ao revelar seu próprio interesse e aspirações literárias, induziu-me a uma reflexão que, pouco depois, na coluna Editorial da mesma edição, cresceu para tema de coluna: há categorias fixas para definir o autor e o leitor deste periódico?

Porque naquele espaço, o fundador revelou o episódio de um possível assinante que exigiu ser colunista como contrapartida. A partir dele, é possível especular quais as diferentes percepções de valor que os leitores possam vir a ter sobre o produto. Também se eles creem representarem um papel específico em seu ciclo de vida. E, primordialmente, se veem as instâncias de leitor e autor no RelevO como verticais e fixas. 

Este jornal tem um pé em cada era: analógico por formação e essência, digital por espírito dialético. Da primeira traz o custo marginal. Tudo nele custa algo; e quanto mais há, mais custa. Do segundo traz a possibilidade de criar algo que os novos chamam de comunidade de fala. A literatura produzida nela sempre será a mais próxima. E, porque não, por consequência, a mais valiosa?

Embora realizar essa ideia seja uma questão de curadoria, portanto editorial, a contribuição primeira dos textos é função voluntária de um pressuposto leitor. De forma que esse é o único ombudsman que pode, legitimante, voltar-se contra os leitores que representa. E, de espírito ainda mais livre, os leitores podem rebelar-se entre si. E, ultimamente, consigo mesmos. 

Na mesma edição, o poema de Larissa Adur é um exemplo de localização (não por acaso, seu título é um endereço). O humor da página central pode ser um último estímulo para ainda acompanhar notícias. E aponto especialmente para a novidade jornalística do ensaio “Ex Nauseam”, de Algum Lucas — uma confissão de agora. 

Há no jornal um esforço pela proximidade. Cabe ao veículo torná-la mais intensa, de forma que até os ligeiros possam vê-la.

Osny Tavares: Coisas para salvar do fim

Coluna de ombudsman extraída da edição de fevereiro de 2021 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Não sei por quê, mas ultimamente andamos meio apocalípticos, escolhendo o que retirar das chamas. Afinal, a literatura é meio que um pensamento que salvamos do comum. Diante do tanto que estamos sentindo nesse período, e da impossibilidade de significar tudo agora, fazer este jornal demanda um apuro especialmente sofrido a respeito do que registrar e comunicar.

Pois um impresso pode ser um back-up da nossa produção incessante de informações. Aqui, estamos a salvo da superindexação e de tudo o que a acompanha. Não precisamos temer a má interpretação dos algoritmos, nem vigiar contra a turba de revoltosos à procura de um alvo. 

O RelevO é um ambiente confessional.

A pandemia, por certo, afetou a tudo lá fora e aqui dentro. As etapas de produção e distribuição vêm segurando a bola no campo de ataque, e o conteúdo tem sustentado o jornal em sua fase madura, com uma miscelânea de novos e consagrados, lançamentos e registros históricos.

O Grande Fato de Nosso Tempo tem aparecido por aqui apenas ocasionalmente. Isso não é uma coisa nem boa, nem ruim. Talvez precisemos, mesmo, que o tempo possa realizar sua natural decantação primeiro. Ou então o certo é o oposto: precisamos escrever para nós mesmos, um para o outro, abrir a conversa que necessariamente precisaremos ter pelos próximos anos.

Os processos de produção literária — composição, tradução, crítica — obedecem a um ritmo que pouco mudou desde a invenção da imprensa (desde a invenção da leitura, talvez). Quando a marcha do tempo dá uma guinada súbita, é de forma muito cuidadosa que a arte irá absorver esse espírito. Parecer oportunista é desses medos que ainda não perdemos.

É possível engajar-se em correntes ainda não atadas ou aventurar-se na pretensão de cristalizar uma realidade ainda fervente? O RelevO e sua vocação experimental pode ser a rede a nos unir em nosso momento de dúvida.

Há sentido no que dizemos? Como saber sem dizê-lo? Esse é o paradoxo que sempre retorna ao escritor. Também é o deste ombudsman, que pontifica sobre o que desconhece.

RelevO 5 anos: The best of ombudsman

Coluna de ombudsman extraída da edição de setembro de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Critérios de seleção: nenhum

 

Osny Tavares: março de 2014

É um tempo interessante para ser jovem. Tudo parece aberto à refundação e cada pequeno setor da vida abriga um comitê repleto de delegados a discutir até as cláusulas pétreas da vida. O que era automático, uma imposição da cultura sobre a qual não se refletia, torna-se um ato político. De mastigar um bife a torcer pela seleção brasileira na Copa, o indivíduo é desafiado pelos significados sociais de seus atos. O que é ótimo, pois parece um caminho necessário à lucidez.

Penso que a literatura, e principalmente do tipo que fazemos aqui, tenha um papel importante em estabelecer um conhecimento mútuo entre os atores. Por dois motivos: primeiro, o imediatismo do periódico mensal dedicado ao texto curto permite uma reflexão quente, mas já com certo arrefecimento de ânimos. Por vezes, a contagem de dez segundos é insuficiente para recuperar a ponderação. Em um mês, entretanto, é possível contar até 2,6 milhões.

Não defendo, claro, que o jornal se torne refém de uma pauta de acontecimentos imediatos e se preocupe em caricaturar o real em pseudoliteratura. Mas é inegável que os fenômenos que presenciamos atualmente representarão parte significativa de nossa identidade de época.


Lourenço Pinto: julho de 2014

Não há literatura sem leitores, assim como não há idolatria a David Luiz sem sérios problemas gerais de interpretação. Os textos, enfim, também melhoraram muito, sustentados por uma base maior de colaboradores, interessados e curiosos. O que começou como mezzo belo projeto, mezzo belíssimo pretexto para o editor enviar e receber poesia de belas mulheres, já se transformou em mezzo belo projeto, mezzo belíssimo pretexto para o editor enviar e receber poesia de belas mulheres, porém com maior qualidade no texto e, suponho, das mulheres (carece de fonte).


Whisner Fraga: dezembro de 2014

A questão que se levanta e que deve ter assustado todos os resenhistas de jornais literários é: até que ponto o crítico pode escrever o que bem entende de uma obra? Até que ponto o escritor pode se melindrar com uma resenha negativa? Bom, responder estas perguntas, quando ficam no âmbito pessoal, é fácil. Cada um faz o que quer quando o assunto se restringe a questões de frivolidade. O complicado fica para quando o autor decide levar a questão à justiça.

O escritor pode processar um resenhista que escreveu uma crítica depreciativa, mesmo que feita com argumentos razoáveis, dentro de parâmetros e pressupostos praticamente científicos? A resposta é sim. Existe advogado é para isso mesmo. E o juiz, como se portaria diante de uma demanda desse naipe? Como não tenho conhecimento de caso semelhante que tenha sido julgado em qualquer instância, não posso defender nenhum tipo de questionamento, a não ser que me causa muito estranhamento que um ficcionista ou poeta se posicione desta maneira.

Como, todavia, se trata de um caso fictício e como o jornal RelevO jamais passou por situação semelhante, venho publicamente me desculpar por esse texto completamente desconexo e inútil e pedir a todos os leitores e contribuintes deste conceituado periódico, que não deixem a literatura nunca chegar a este nível e que rechacem com veemência qualquer tentativa de ridicularizar uma arte que já deu ao mundo presentes como “Grande Sertão: veredas” e “Dom Casmurro”.


Carla Dias: junho de 2015

Compartilhar discos, filmes e livros com os amigos, não somente por meio de indicação ou empréstimo, mas também os presenteando com esses itens, faz parte da minha realidade desde que comecei a trabalhar.

Sim, faz tempo.

Independente do meio ou da linguagem, compartilhar gosto pode ser ação catedrática. Durante o processo, aprendemos que o que nos agrada pode ou não agradar ao outro. Ainda assim, é um processo que nos oferece a chance de conhecermos algo novo, como doador ou receptor do conhecimento.

A cada edição do RelevO, conheço alguém novo capaz de me fascinar, o que sempre é um prazer. Dessa forma, tenho dialogado com universos díspares e interessantes. É pessoal a tarefa de passar adiante aquilo que verdadeiramente nos toca e julgamos merecedor de um amigo conhecer. Em uma época em que falar mal é praticamente rotina, passar um gosto adiante pode trazer frescor ao espírito de muitos.

Osny Tavares: Uma lista circular ad nauseam

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Meio ano atrás começamos um trabalho modesto e ambicioso. Uso adjetivos divergentes de propósito, pois acredito ser função do ombudsman criar um desequilíbrio que induza ao atrito, para no fim resultar em harmonia. Depois do processo de análise, o produto passa a ser bipolarizado em teses e antíteses igualmente identificadas. Somente com cargas positivas e negativas é possível conduzir energia.

Agora, encerrado meu segundo mandato, transmito a responsabilidade para o sucessor, confiante que ele trará novas ideias para esse espaço. Talvez muitas delas sejam discordantes das minhas. Tomara. Assim o ciclo descrito acima se renova e se alimenta.

Obviamente, minha visão sobre a literatura é pessoal. Mas só até certo ponto. Não teria a pretensão de possuir um corpus intelectual de todo original. Ele se completa com a síntese de tudo o que vi e li até agora. Relativamente pouco, em uma carreira que apenas se inicia. Mas o suficiente para criar um mosaico que, visto de longe, dá a falsa impressão de ser minimamente original.

Aprender pelo exemplo pode ser mais difícil que parece. Um sistema de pensamento “comum”, não–artístico, tende a funcionar da seguinte maneira: quando uma ação fracassa em cumprir seu objetivo, a memória automaticamente associa aquele procedimento ao erro. A cada vez que a mesma ação é tentada em outras ocasiões, por outras pessoas, mais a opção se consolida como falha. É o que os antigos chamam “experiência de vida”, ou a capacidade automática de formar padrões a partir da repetição, na qual a ferramenta maior é o tempo e a paciência.

Em artes, a sistemática acima é ineficiente. Toda ação artística tem por procedimento buscar um caminho novo. Se repete o já tentado e construído, não é arte. Portanto, a tendência é não haver duplicidade de abordagens. Claro, isso somente num ambiente ideal e irreal. Sempre existirão pontos em comum entre as obras, mas a capa de autenticidade tende a mascarar as o DNA em comum.

O ombudsman, em seu compromisso de guiar o processo dentro do veículo, acaba por ficar em uma posição delicada, fingindo pertencer a uma zona de conforto e certeza que na verdade não existe – nem para si mesmo, nem para os demais. Talvez pela recém- adquirida influência cultural do MMA no país, leitores e autores pediram para eu ser mais incisivo e fizesse jorrar sangue sobre a lona. Dândi pós-moderno, preferi o tapa em luva de pelica.

No processo de aprendizagem artístico, tão importante quanto a paixão é a falta dela. Empresto um conselho de John Updike: “Não se imagine o guardião de alguma tradição, um guerreiro em uma batalha ideológica, um agente punitivo de qualquer natureza”.

Existe algo de ingênuo nas artes, que é a ilusão de justiça. A crença de que o melhor sempre vai vir à tona, enterrando o imperfeito, é parte de um contrato de escapismo que vê no fazer artístico a resposta humana à tragicomédia da vida funcional. Uma armadilha destinada a trocar uma ilusão por outra, e com consequências ruins. Quando as frustrações começam a espoucar, e elas inevitavelmente virão com relativa frequência no começo, o mecanismo de negação será acionado. Seu hospedeiro passará a repetir discursos de superioridade formal ante a barbárie do gosto comum. Uma espécie de “Deus contra o mercado” que, de tão corroborado pelos outros adeptos ao vício, se cristaliza por consenso religioso. O Outro é o Mal.

Recuperando a premissa inicial, e confirmando a função do ombudsman, elenco abaixo alguns preceitos que podem soar contrastantes ao pensamento comum sobre a criação artística. Pouco disso é conteúdo original meu. Por não tê-lo ainda amadurecido, empresto o conhecimento de alguns grandes autores que já escreveram sobre o ato de escrever.

1) Da necessidade da solidão

Se existe um comportamento-padrão para a maioria dos autores, é a necessidade de solidão. Ela surge como uma quarta função biológica, tão necessária quanto comer, dormir e se reproduzir. John Irving comenta que, ao encerrar as aulas, sua necessidade de estar com os colegas se esgotava por aquele dia. Um espaço de algumas horas diárias consigo mesmo é necessário para o diálogo interno e a reflexão que frutificarão em literatura.

2) Da futilidade das patotas

Pertencer a grupos, patotas ou cenas serve de nada. Primeiro, porque talento não se propaga por condução térmica. Segundo, porque os amigos não são confiáveis. Afinal de contas, gostam de você (presume-se). Estivessem eles num júri em que você é o réu, seriam desqualificados pela promotoria.

3) Da ilusão de uma vida artística

A ideia de que existe um tipo de vida artístico regado a transgressões sociais e comportamento insalubre é dos mitos mais persistentes de nossa cultura. Há aqui uma inversão de causa e consequência. Alguns grandes artistas tiveram histórico com dependência química por causa de sua grande capacidade e sensibilidade, que os oprimia tão intensamente que precisava ser aniquilada, ou ao menos suavizada. Não usaram o vício para criar talento, afinal de contas o estupor químico cria sensações ilusórias de grandeza, sentidas apenas pelo usuário. A arte, entretanto, é real e coletiva.

4) Do interesse pela vida comum

Complementa o tópico anterior. Os aspirantes têm uma tendência a menosprezar a vida cotidiana e sua capacidade de gerar o sublime. São matérias-primas da literatura: amar, desamar e não ser amado, ter um filho, ter um emprego opressivo, se emocionar diante da beleza, ter uma família disfuncional, ter uma família que se reúne e brinda apesar de tudo, ficar doente e se recuperar, viajar, ter problemas financeiros. O que forja, molda e encaminha o artista é ser um homem (sem acepção de gênero: ser um humano).

5) Da inexistência de outras opões de carreira

Um artista é alguém que fracassou em quaisquer atividades anteriores e se descobriu incapaz de produzir nada que não seja arte. Pudera. É a pior opção de carreira possível, na soma entre tamanho do mercado, remuneração, insegurança, nível de stress e qualquer indicador que gurus corporativos ainda venham a criar. Se alguém é capaz de fazer um bom trabalho e se realizar em outra atividade, então provavelmente não é um escritor. E deve ficar feliz por isso.

6) Da recusa inicial à bajulação posterior

Todo profeta começou como herege. Dizer pela primeira vez em voz alta “sou um escritor” vai gerar certo desdém nas pessoas próximas. Algumas vão fazer insinuações muito sutis, outras vão tirar sarro da sua cara, mesmo. E não serão inimigos distantes, mas pessoas que estão próximas o suficiente para tomar a liberdade de dizê-lo (exceção feita aos integrantes do tópico 2). É preciso entender isso como parte do processo e relevar. Elas estão tentando te proteger do auto-engano. Se tudo correr bem, serão as mesmas que te bajularão no futuro. Convém, então, relevar uma vez mais.

7) Da insuficiência da técnica

O fato é que muitas pessoas escrevem bem. Essa habilidade, portanto, não é rara o suficiente para garantir um lugar ao sol ao seu possuidor. A auto-indagação a ser feita ainda é o velho chavão: “tenho algo a dizer”?

8) Do necessário passo adiante

A arte se move em passos milimétricos adiante. Qualquer produto que criar, por mais modesto que seja, precisa sugerir algo ainda não realizado. O domínio dos clássicos serve para avançar a partir deles, e não reproduzi-los.

9) Da leitura

Ler é o prazer maior de qualquer escritor e o objetivo último da organização de sua rotina. A leitura é uma ferramenta insubstituível para o domínio dos códigos textuais, essencial para obter a capacidade de usar a língua escrita a seu favor. Pense no Neo, de Matrix, quando deixa de ver os formatos do mundo e passa a enxergar somente a torrente de programação que o forma. Este tópico é tão importante que não deveria aparecer tão tarde não deveria aparecer na nona posição da lista. Mas se você chegou até ele, talvez esteja no caminho certo.

10) Da filtragem de tudo

Você absorverá somente 10% de tudo em que colocar os olhos. O que é bom, porque 90% de tudo que lê é lixo. Recorte o melhor dentre estes dez tópicos e guarde consigo. Passe o impresso a um colega.