Mateus Lourenço

Coluna de ombudsman extraída da edição de julho de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Pouca gente imagina que o RelevO já tenha quarenta anos. Provavelmente porque o RelevO não tem quarenta anos. Tem quatro. Nos mais de mil dias de vida material e digital, houve grande evolução, esse fenômeno comum a todos os seres vivos não integrantes do Casseta e Planeta. Nota-se, por exemplo, como a diagramação avançou. Quero dizer, olhe para essa página. Não se preocupe com ler, por ora; apenas aprecie um pouco dessa limpeza visual elegante aliada à capa e às belíssimas ilustrações componentes de cada exemplar, que, feito o Facebook, “é gratuito e sempre será” (ao menos, acho eu que será. Isso não é um comunicado oficial. Não me cobre). Enquanto você o aprecia, acrescentarei algumas linhas de Lorem Ipsum. Pode resumir a leitura no parágrafo seguinte. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat.

Dirijamo-nos agora aos textos. Com o intuito de revelar gente não publicada, o RelevO oferece uma oportunidade muito, muito legal de apresentar material e, principalmente, acreditar nele. Claro que qualquer um pode publicar o que quiser na internet, além de divulgar para quem entender, potencializando um alcance indubitável. Por outro lado, a sensação de ter seu texto impresso e espalhado, de saber que alguém disse “gostei do que você escreveu; posso repassar em papel?” oferece um empurrão capaz de alterar seu pequeno universo circum-navegatório.

Não há literatura sem leitores, como não há idolatria a David Luiz sem sérios problemas gerais de interpretação. Os textos, enfim, também melhoraram muito, sustentados por uma base maior de colaboradores, interessados e curiosos. O que começou como mezzo belo projeto, mezzo belíssimo pretexto para o editor enviar e receber poesias de belas mulheres, já se transformou em mezzo belo projeto, mezzo belíssimo pretexto para o editor enviar e receber poesias de belas mulheres, porém com maior qualidade nos textos e, suponho, das mulheres (carece de fonte).

Não julguemos o editor. O jornal é gratuito, dá um trabalho do cacete e ainda acarreta em prejuízo de dinheiro e sono. Ou julguemos o editor, tanto faz; quem sou para tentar te convencer de algo? (Ele, o editor, ainda tem que lidar com esse tipo de babaca). Entretanto, chegou a hora do salto de qualidade, de atravessar o Rubicão. Após conversar com o revisor, nadamos à conclusão – aqui traduzida para sugestão –, de que, para manter a ascendência do RelevO, é chegada a hora de reduzir o critério “beleza da autora” na hora de selecionar alguns textos. Uma vez ignorada, ou ao menos relevada (argh, sem querer) essa condição, o presente periódico subirá outro degrau em sua breve história.

Nada a acrescentar. Finalizo aqui os apontamentos de ombudsman, essa função difícil de pronunciar, mas ainda mais difícil de preencher (CONTRATA-SE! Tratar com Daniel Zanella em jornalrelevo@gmail.com. Enviar foto).

 

Nota do editor:

Esclarecemos que, ao contrário do que alega nosso ombudsman-interino Mateus Lourenço, o RelevO não é uma entidade idealizada-ungida com o intuito de estabelecer relações de afeto & carinho com as escritoras ou, quiçá, leitoras que compõe o periódico.

Há, sim, um propósito de equilibrar o número de colaboradoras com o número de colaboradores, o que, de fato, tem sido um problema pouco recorrente de uns dois anos pra cá. Ao mesmo tempo, é natural que aconteça um maior entendimento nas coisas do coração entre semelhantes de uma mesma área – o que o ombudsman especula por um viés possivelmente maldoso e reducionista, o editor entende como natureza.

E, sim, habemus ombudsman definitivo: é Whisner Fraga, escritor mineiro, radicado em São Paulo, contista e poeta, autor de mais de dez livros. Ele abre os trabalhos a partir de agosto.

 

* Mateus Lourenço, 22, é CEO da Cerberus, empresa responsável por comprar poesias vendidas na rua por estudantes de Letras, apenas para dar de comida a cachorros em frente aos autores. Nas horas vagas, atua como ghost writer e se dedica ao árduo ofício de criticar a crítica literária, sendo, na crítica literária, o que o crítico foi na época em que a crítica literária era mais crítica literária.

Osny Tavares: Uma lista circular ad nauseam

Coluna de ombudsman extraída da edição de junho de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Meio ano atrás começamos um trabalho modesto e ambicioso. Uso adjetivos divergentes de propósito, pois acredito ser função do ombudsman criar um desequilíbrio que induza ao atrito, para no fim resultar em harmonia. Depois do processo de análise, o produto passa a ser bipolarizado em teses e antíteses igualmente identificadas. Somente com cargas positivas e negativas é possível conduzir energia.

Agora, encerrado meu segundo mandato, transmito a responsabilidade para o sucessor, confiante que ele trará novas ideias para esse espaço. Talvez muitas delas sejam discordantes das minhas. Tomara. Assim o ciclo descrito acima se renova e se alimenta.

Obviamente, minha visão sobre a literatura é pessoal. Mas só até certo ponto. Não teria a pretensão de possuir um corpus intelectual de todo original. Ele se completa com a síntese de tudo o que vi e li até agora. Relativamente pouco, em uma carreira que apenas se inicia. Mas o suficiente para criar um mosaico que, visto de longe, dá a falsa impressão de ser minimamente original.

Aprender pelo exemplo pode ser mais difícil que parece. Um sistema de pensamento “comum”, não–artístico, tende a funcionar da seguinte maneira: quando uma ação fracassa em cumprir seu objetivo, a memória automaticamente associa aquele procedimento ao erro. A cada vez que a mesma ação é tentada em outras ocasiões, por outras pessoas, mais a opção se consolida como falha. É o que os antigos chamam “experiência de vida”, ou a capacidade automática de formar padrões a partir da repetição, na qual a ferramenta maior é o tempo e a paciência.

Em artes, a sistemática acima é ineficiente. Toda ação artística tem por procedimento buscar um caminho novo. Se repete o já tentado e construído, não é arte. Portanto, a tendência é não haver duplicidade de abordagens. Claro, isso somente num ambiente ideal e irreal. Sempre existirão pontos em comum entre as obras, mas a capa de autenticidade tende a mascarar as o DNA em comum.

O ombudsman, em seu compromisso de guiar o processo dentro do veículo, acaba por ficar em uma posição delicada, fingindo pertencer a uma zona de conforto e certeza que na verdade não existe – nem para si mesmo, nem para os demais. Talvez pela recém- adquirida influência cultural do MMA no país, leitores e autores pediram para eu ser mais incisivo e fizesse jorrar sangue sobre a lona. Dândi pós-moderno, preferi o tapa em luva de pelica.

No processo de aprendizagem artístico, tão importante quanto a paixão é a falta dela. Empresto um conselho de John Updike: “Não se imagine o guardião de alguma tradição, um guerreiro em uma batalha ideológica, um agente punitivo de qualquer natureza”.

Existe algo de ingênuo nas artes, que é a ilusão de justiça. A crença de que o melhor sempre vai vir à tona, enterrando o imperfeito, é parte de um contrato de escapismo que vê no fazer artístico a resposta humana à tragicomédia da vida funcional. Uma armadilha destinada a trocar uma ilusão por outra, e com consequências ruins. Quando as frustrações começam a espoucar, e elas inevitavelmente virão com relativa frequência no começo, o mecanismo de negação será acionado. Seu hospedeiro passará a repetir discursos de superioridade formal ante a barbárie do gosto comum. Uma espécie de “Deus contra o mercado” que, de tão corroborado pelos outros adeptos ao vício, se cristaliza por consenso religioso. O Outro é o Mal.

Recuperando a premissa inicial, e confirmando a função do ombudsman, elenco abaixo alguns preceitos que podem soar contrastantes ao pensamento comum sobre a criação artística. Pouco disso é conteúdo original meu. Por não tê-lo ainda amadurecido, empresto o conhecimento de alguns grandes autores que já escreveram sobre o ato de escrever.

1) Da necessidade da solidão

Se existe um comportamento-padrão para a maioria dos autores, é a necessidade de solidão. Ela surge como uma quarta função biológica, tão necessária quanto comer, dormir e se reproduzir. John Irving comenta que, ao encerrar as aulas, sua necessidade de estar com os colegas se esgotava por aquele dia. Um espaço de algumas horas diárias consigo mesmo é necessário para o diálogo interno e a reflexão que frutificarão em literatura.

2) Da futilidade das patotas

Pertencer a grupos, patotas ou cenas serve de nada. Primeiro, porque talento não se propaga por condução térmica. Segundo, porque os amigos não são confiáveis. Afinal de contas, gostam de você (presume-se). Estivessem eles num júri em que você é o réu, seriam desqualificados pela promotoria.

3) Da ilusão de uma vida artística

A ideia de que existe um tipo de vida artístico regado a transgressões sociais e comportamento insalubre é dos mitos mais persistentes de nossa cultura. Há aqui uma inversão de causa e consequência. Alguns grandes artistas tiveram histórico com dependência química por causa de sua grande capacidade e sensibilidade, que os oprimia tão intensamente que precisava ser aniquilada, ou ao menos suavizada. Não usaram o vício para criar talento, afinal de contas o estupor químico cria sensações ilusórias de grandeza, sentidas apenas pelo usuário. A arte, entretanto, é real e coletiva.

4) Do interesse pela vida comum

Complementa o tópico anterior. Os aspirantes têm uma tendência a menosprezar a vida cotidiana e sua capacidade de gerar o sublime. São matérias-primas da literatura: amar, desamar e não ser amado, ter um filho, ter um emprego opressivo, se emocionar diante da beleza, ter uma família disfuncional, ter uma família que se reúne e brinda apesar de tudo, ficar doente e se recuperar, viajar, ter problemas financeiros. O que forja, molda e encaminha o artista é ser um homem (sem acepção de gênero: ser um humano).

5) Da inexistência de outras opões de carreira

Um artista é alguém que fracassou em quaisquer atividades anteriores e se descobriu incapaz de produzir nada que não seja arte. Pudera. É a pior opção de carreira possível, na soma entre tamanho do mercado, remuneração, insegurança, nível de stress e qualquer indicador que gurus corporativos ainda venham a criar. Se alguém é capaz de fazer um bom trabalho e se realizar em outra atividade, então provavelmente não é um escritor. E deve ficar feliz por isso.

6) Da recusa inicial à bajulação posterior

Todo profeta começou como herege. Dizer pela primeira vez em voz alta “sou um escritor” vai gerar certo desdém nas pessoas próximas. Algumas vão fazer insinuações muito sutis, outras vão tirar sarro da sua cara, mesmo. E não serão inimigos distantes, mas pessoas que estão próximas o suficiente para tomar a liberdade de dizê-lo (exceção feita aos integrantes do tópico 2). É preciso entender isso como parte do processo e relevar. Elas estão tentando te proteger do auto-engano. Se tudo correr bem, serão as mesmas que te bajularão no futuro. Convém, então, relevar uma vez mais.

7) Da insuficiência da técnica

O fato é que muitas pessoas escrevem bem. Essa habilidade, portanto, não é rara o suficiente para garantir um lugar ao sol ao seu possuidor. A auto-indagação a ser feita ainda é o velho chavão: “tenho algo a dizer”?

8) Do necessário passo adiante

A arte se move em passos milimétricos adiante. Qualquer produto que criar, por mais modesto que seja, precisa sugerir algo ainda não realizado. O domínio dos clássicos serve para avançar a partir deles, e não reproduzi-los.

9) Da leitura

Ler é o prazer maior de qualquer escritor e o objetivo último da organização de sua rotina. A leitura é uma ferramenta insubstituível para o domínio dos códigos textuais, essencial para obter a capacidade de usar a língua escrita a seu favor. Pense no Neo, de Matrix, quando deixa de ver os formatos do mundo e passa a enxergar somente a torrente de programação que o forma. Este tópico é tão importante que não deveria aparecer tão tarde não deveria aparecer na nona posição da lista. Mas se você chegou até ele, talvez esteja no caminho certo.

10) Da filtragem de tudo

Você absorverá somente 10% de tudo em que colocar os olhos. O que é bom, porque 90% de tudo que lê é lixo. Recorte o melhor dentre estes dez tópicos e guarde consigo. Passe o impresso a um colega.

Osny Tavares: Literatura grátis aqui!

Coluna de ombudsman extraída da edição de maio de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


No primeiro texto enviado ao RelevO, quando da estreia do espaço de ombudsman, comentei longamente sobre a necessidade de os artistas incorporarem a altivez do palco e se abrirem à provocação. Quando falo em artistas incluo os literários, também conhecidos como escritores. Estava então em meio a um longo ensaio pessoal, que relacionava a arte e a tecnologia com a experiência deste jornal, e usei um pequeno trauma de infância para ilustrar o que imagino ser um ponto de ruptura no fazer artístico. Era uma pequena analogia, claro, porque este processo ainda não se resolveu em mim. Ainda assim a ilustração parece ter cumprido o objetivo, pois nas semanas seguintes conversei com alguns leitores-escritores, do RelevO e similares, que demonstraram passar pela mesma – e necessária – aflição. Quero agora voltar ao assunto.

Em meu ainda curto e largamente incompleto desenvolvimento artístico-intelectual, tive a sorte e o prazer de ser influenciado por algumas pessoas-chave. Ironicamente, quem mais me desenvolveu literariamente foi um artista sem ligação direta com esta forma de arte. Músico ligado ao samba e aos movimentos culturais populares, ensinou-me pelo exemplo algo muito verdadeiro sobre o ímpeto da criação: fazer arte é se vestir de baiana e rodar no meio do Largo da Ordem, algo que ele fez de forma literal.

Comparando a música à literatura, há aqui uma diferença e uma aproximação. Por se tratar de uma arte performática, a música exige do artista o esforço em criar uma fruição “quente”, no qual o ato da criação ou execução de uma obra é parte incondicional dela. Diferente da literatura, produzida em oficina, clandestinamente, até que surja um produto final sedimentado pela impressão e que será usufruído pelo leitor em outro momento, de forma distante e independente do artista. Um ofício predominantemente solitário, tedioso até.

É um processo que deixa marcas evidentes na personalidade dos autores, que não raro desenvolvem uma tendência à introspecção e à timidez, quase sequelas da interação fria da linguagem escrita. Em períodos anteriores da história cultural, a poesia sempre serviu como contraponto, com declamações, concursos e apresentações públicas que aproximavam a literatura do teatro. Um ato que acabou se reduzindo à medida que a própria poesia perdia interesse entre o leitorado. Se este renovado interesse pelos versos, principalmente entre os jovens, não for apenas mais um balão de ensaio, seria interessante e importante que esse tipo de evento voltasse a ocorrer com frequência.

Porém, produção e divulgação não se guiam pelas mesmas balizas, e aqui a porca estica o rabo, pois, ao contrário do dito popular, já o mantém naturalmente torcido. Num campo marcado pelo excesso de produtos, propostas, autores e aspirantes, conseguir um espaço de relativo destaque requer certo jogo de ombros, que implica não somente insistência, mas, sobretudo, uma boa dose de abnegação e contemporização. Traduzindo para o português corrente: cara-de-pau. Largos e arranhados são os ombros do escritor. O gaúcho Fabrício Carpinejar pode ser um exemplo positivo. Mais ouvido que lido, é um cara que soube usar a chamada “cauda longa” a seu favor. Tirando um ou outro excesso, há o que se aprender com ele.

Com a planificação do acesso aos meios de comunicação, o autor se transformou em um promotor de si mesmo. Isso é ainda mais evidente entre iniciantes, que precisam chamar a atenção para si e sua proposta artística. Mas as características de personalidade que elenquei acima parecem criar uma cultura de passividade, em que o autor apenas se arrisca a colocar a cauda para fora d’água e espera ser pescado. É um comportamento ainda mais arraigado em Curitiba, onde escritores faziam edições artesanais e distribuíam entre os amigos. Pode ser válido dentro de uma proposta limitante, e num tempo anterior ao nosso. Mas jamais se consolidar com tradição.

Um editor, diante de um site ou jornal de literatura, deve se sentir como o Cristiano Ronaldo diante do Tinder. Tudo deve ter mais ou menos a mesma cara – a maioria aprazível; a extrema minoria, apaixonante. O RelevO é um periódico que se destaca por não ser escravo do próprio projeto editorial e gráfico. Ainda assim, seus colaboradores eventuais pouco oferecem de inovação estética. O pessoal do design é o melhor que a ausência de dinheiro pode comprar, capitaneado pela eficiente Iara Amaral. E não digo isso apenas por saber que ela nutre uma recíproca admiração por mim, mas porque há aqui um zelo pela elegância e legibilidade não muito comum em similares. Tenho certeza que esse pessoal adoraria afinar o contato com os autores e pensar um produto conjunto entre texto e imagem, estreitando o diálogo entre os dois discursos.

Também há recalibragem possível para o texto. Desenvolver minha opinião sobre isso vai requerer uma nova coluna, provavelmente a próxima. Se não tomar cuidado, posso estar estimulando o mesmo modernismo fora-de-época quase dadá, meio afetado, meio jeca, que ronda nossa gleba.

Osny Tavares: Nós e o cosmos

Coluna de ombudsman extraída da edição de abril de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Um veículo cultural, quando amplia sua veiculação, precisa saber puxar de volta novos nomes para suas páginas.

 

O problema de assistir a um bom documentário de ciência é começar a ver ciência em todo lugar. Ela de fato está em todo lugar, mas o encantamento criado por essas produções me torna excessivamente naturalista pelos dias seguintes à exibição. Sou um sujeito altamente influenciável pela inteligência. Após uma explanação criativa, tendo a sair por aí replicando o que ouvi com a intensidade e convicção de quem acabou de sofrer uma lavagem cerebral. Mas geralmente passa logo.

Porém, tem sido um inferno desde que estreou Cosmos, uma série em treze capítulos subtitulada “uma viagem pelo espaço-tempo”. É, na verdade, um remake de uma série dos anos 80 co-escrita e apresentada pelo astrônomo Carl Sagan, grande divulgador da ciência e meu herói pessoal. Essa nova versão tem como frontman um de seus pupilos (Sagan morreu em 1996), atualização teórica e efeitos especiais de cinema. Um dos produtores é Seth MacFarlane, outro herói pessoal.

A partir de Cosmos, é possível perceber que a raça humana surgiu, resistiu, sobreviveu e se desenvolveu por meio de uma sólida consciência de coletividade. Dos grupos nômades aos clãs do início da agricultura às cidades-estado aos impérios aos países às modernas cidades, nos desenvolvemos a partir dessa rede de troca e proteção que veio a se chamar sociedade. Somos feitos para viver em bando.

A arte de certa forma reproduz essa tendência, com seus movimentos estéticos e inter-discursos. Pouquíssimos são os inovadores solitários. A maioria se insere em uma corrente estilística e propõe tão somente um milímetro de avanço – o possível para um mero exemplar da espécie. Aqui também há uma rede de proteção e acolhimento, essencial a um ofício tão volátil.

O derivativo disso é a formação de grupos de afinidade que acabam por estreitar o diálogo com o meio. Acontece com mais intensidade entre aspirantes e artistas em início de carreira, ainda não estabelecidos, mas tende a se arraigar, com propensão maior ou menor, ao longo de toda a trajetória. É como se tribos distintas disputassem um mesmo território sem qualquer possibilidade de comunhão. Afinal, é fundamental para a sobrevivência da família que o DNA partilhado encontre oportunidades de reprodução em um meio.

Em sua forma contemporânea, esse fenômeno é chamado de “compadrio”, substantivo que define a ação de priorizar, indicar e enaltecer uma pessoa com quem se tem alguma relação pessoal ou profissional em detrimento de outras igualmente (ou mais) talentosas e capazes.

Impossível imaginar que a empatia será algum dia excluída das relações profissionais. Nem deveria, afinal de contas. Mas o peso do compadrio parece anacrônico ao papel atual dos meios. Ele sempre sobreviveu pela capacidade que as mídias tinham de agendar gostos e comportamentos. Pular para dentro desse barco era a garantia de um sucesso mínimo. A ponte era estreita, entretanto, e uma mão esticada poderia tornar as coisas mais fáceis.

O padrão mudou, porém. Os meios de publicação são amplos e universalmente acessíveis. Permanecem os pontos de referência, como redes de televisão, estúdios, grandes gravadoras e editoras, para os quais é preciso pavimentar o caminho à vaselina ou vencer sucessivas etapas de um rigoroso vestibular. Porém, mesmo estes meios encontram dificuldades em “lançar onda”. Estão cada vez mais reativos, recolhendo e sofisticando produtos que explodem espontaneamente na web.

Cabe aos veículos, e notadamente aos alternativos e não comerciais, o papel de trazer a organização da produção cultural para um eixo mais plano e expandir grupos em vez de cristalizá-los. É uma proposta revolucionária e ao mesmo tempo clássica, que remete ao que existe de mais basilar no fenômeno da comunicação. Não se trata de benevolência, e sim de recalibrar o formato.

Um exemplo: recentemente encontrei um amigo em São Paulo que atualmente trabalha na gestão de um bar de comédia. Ele e os colegas aplicaram um processo de casting por seleção meritocrática. Qualquer candidato, pode até ser um engraçadão de escola, terá direito a três minutos de tempo de palco para testar a sua capacidade em fazer os outros rirem. Se não for bem-sucedido, ainda tem uma nova oportunidade (vai que estava num dia ruim). Passará, então, para um segundo teste, de cinco minutos, então sete e, por fim, a apresentação cheia de quinze minutos. Fazem isso para se adiantar a movimentos espontâneos e se manter como eixo integrador. Disso depende a sobrevivência comercial deles.

Esse é um exemplo fácil porque a comédia é, talvez, a profissão mais justa que existe. Ou o sujeito é engraçado ou está fora. Penso que o resto do setor artístico, e em especial a literatura, não esteja muito longe deste patamar. RelevO tem cumprido o papel de propiciar uma plataforma generosa com certo destaque, se comparado a publicações similares. Isto se deve a questões físicas e econômicas (formato, tamanho e custo marginal) associado a uma linha de atuação aberta, que encontra na despretensão a capacidade de se manter receptivo. Falta, porém, um canal adicional ao papel para conhecer, debater e articular novas produções a ser publicadas. O feedback ainda está limitado ao noventista e-mail e ao Facebook do editor, que demanda um filtro de amizade (viram o medo?) para se chegar até ele. Um fórum de discussão, na própria mídia social ou algum outro espaço na internet, proporcionaria uma interação mais dinâmica que a do jornal impresso e seus cinquenta tons de cinza.

 

Nota do editor:

De fato, o protagonismo que o impresso tem como produto final acaba por nos enfraquecer em outros meios, prejudicando, inclusive, o recebimento de mais feedbacks. Ainda não encontramos uma forma de nos fortalecer financeiramente para podermos investir, por exemplo, em um site que acomodasse toda a nossa produção e proporcionasse maior interação com os leitores.

Uma alternativa para um jornal mais dinâmico seria uma maior participação dos leitores no processo de edição. Poderíamos publicar mais textos numa versão digital e selecionar, através de votação, alguns textos para a versão impressa.

Novas plataformas também podem tornar o RelevO mais orgânico, com notícias diárias sobre concursos e espaços para novos autores, nosso foco maior. Porém, sem querer-me semelho a um ventríloquo, nosso travo para voos mais amplos é a falta de dinheiro.

Osny Tavares: O aqui, agora

Coluna de ombudsman extraída da edição de março de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Passamos por um período de urgência e aspiramos a revolução. Enquanto isso, nossa literatura segue atavicamente progressista.

 

Nada mais opressivo ao escritor de ficção que a História com agá maiúsculo, que insiste em cobrar o seu quinhão de fidedignidade. Mas não é por isso que ando por aqui neste mês, embora deva falar um pouco sobre História e histórias ao longo dos parágrafos abaixo. Co­mentarei, porém, a relação do jovem escritor com o tempo em que vive e como absorver a consciência de época – popularmente chama­da de zeitgeist – sem parecer datado ou ante­cipado. Fiquei às voltas com o assunto durante as semanas anteriores ao Carnaval, enquanto produzia uma reportagem sobre o impacto do golpe militar sobre a literatura brasileira do período. O material será publicado na edição de março do Cândido, que circulará paralelo a este RelevO. Fica desde já o convite à leitura do coirmão.

É um tempo interessante para ser jovem. Tudo parece aberto à refundação e cada pe­queno setor da vida abriga um comitê repleto de delegados a discutir até as cláusulas pétreas da vida. O que era automático, uma imposição da cultura sobre a qual não se refletia, torna-se um ato político. De mastigar um bife a torcer pela seleção brasileira na Copa, o indivíduo é desafiado pelos significados sociais de seus atos. O que é ótimo, pois parece um caminho necessário à lucidez.

Penso que a literatura, e principalmente do tipo que fazemos aqui, tenha um papel impor­tante em estabelecer um conhecimento mútuo entre os atores. Por dois motivos: primeiro, o imediatismo do periódico mensal dedicado ao texto curto permite uma reflexão quente, mas já com certo arrefecimento de ânimos. Por ve­zes, a contagem de dez segundos é insuficiente para recuperar a ponderação. Em um mês, en­tretanto, é possível contar até 2,6 milhões.

Não defendo, claro, que o jornal se torne refém de uma pauta de acontecimentos ime­diatos e se preocupe em caricaturar o real em pseudoliteratura. Mas é inegável que os fenô­menos que presenciamos atualmente repre­sentarão parte significativa de nossa identi­dade de época. Os protestos de junho de 2013, por exemplo, têm potencial para se tornar nos­so Woodstock — um evento que define a per­sonalidade de uma geração. E perceba que a comparação é possível apenas porque o evento de 1969 foi sistematicamente esmiuçado pelo olhar artístico ao longo das últimas quatro dé­cadas. As produções mais recentes tendem a ser mais maduras, porém os contemporâneos do festival foram responsáveis por tornarem-no icônico, enviando os primeiros sinais de “olhe para isso”.

No Brasil, presenciamos um despertar polí­tico da juventude após vinte anos de calmaria. A transferência de responsabilidade para “os políticos”, entendendo-os como representan­tes de uma classe autônoma, cobrou o seu pre­ço. Mais do que serviços públicos de qualidade, os cartazes nas passeatas clamam por um pro­jeto de vida adulta relativamente satisfatório. A geração nascida a partir dos anos 90 cresceu isenta das grandes utopias da modernidade, porém não encontrou nada para colocar no lugar. Batendo à porta de entrada para a vida adulta, tudo o que consegue vislumbrar como “o possível” é a reprodução de um projeto de felicidade individual que consiste em seguran­ça material e estabilidade, algo instintivamen­te avesso aos impulsos orgânicos da juventu­de. A adesão em massa a “causas” surge como a tentativa de responder de forma altruísta à opressão do bem-estar, cujos efeitos negativos incluem alienação e solidão.

Agora, vamos contra-argumentar.

É próprio da literatura tentar escapar das armadilhas de seu tempo para tentar cons­truir algo permanente. O próprio autor tende a ser identificado como um sujeito meio afasta­do das questões imediatas de sua vida, embora seja intelectualmente forjado por um proces­so coletivo no qual a data é um dos principais elementos definidores. O triunfo do artista ocorre quando, acorrentado ao hoje, consegue projetar o estético ou o existencial de amanhã. Mas a perenidade é uma ilusão. O descarte é bem-vindo para permitir que o novo surja e realizar a ambição humana de viver um pouco mais que uma única vida.

O RelevO flerta com o distante, o que é bom, mas permanece distante do próximo, o que não é tão bom. Ondas curtas não pegam no rá­dio do vizinho.

Osny Tavares: A literatura não nos salvará

Coluna de ombudsman extraída da edição de fevereiro de 2014 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Nós, os autores leitores, deixamos de ser solitários. Mas ainda recusamos o diálogo e a tentativa de retratar o outro.

 

A literatura não nos salvará por ser a pró­pria perdição da qual fugimos. Como gênero artístico acuado, quase reduzido a um com­portamento de nicho, as letras tentam reagir com ilusões de autoimportância. E nada mais chato que o discurso de elevação espiritual, dando a entender que o leitor dedicado encon­trará nos livros uma espécie de código-chave para entender a humanidade, ou melhor, “para começar a entender”, dirá o autor/professor/ palestrante. Em literatura nada pode ser ca­bal, definitivo, objetivado. Sempre é preciso pairar sob uma zona de incerteza em que uma afirmação é também o seu oposto, o que per­mite ao enunciador discorrer longamente sem jamais se pôr em risco, como se pedalasse uma bicicleta com rodinhas.

A característica principal de qualquer mili­tância é o desejo de se chegar a um fim espe­cífico e necessariamente correto. Na política, onde o fenômeno é mais facilmente visuali­zável, trabalha-se com dois horizontes de ex­pectativa: o possível e o ideal. A realização do primeiro supostamente encurtaria a distância até o segundo. Mas como a militância precisa se manter viva e com o mesmo vigor, assim que o possível é realizado o ideal é reposicionado mais à frente em igual proporção. O vácuo im­pede a morte do desejo e a consequente des­mobilização da militância.

A militância literária, benza-deus, prescin­de de um fim social específico. Até onde sei, pelo menos, ninguém ainda criou um escopo ao estilo do comunismo utópico e saiu por aí a de­fender que todo cidadão deve ler xis livros ao ano ou, em algum momento da vida, desenvol­ver uma tese sobre algum estilo ou gênero. É mais um chamado ao aprimoramento pessoal. Leia porque é bom. Serás mais sensível e sofis­ticado. Saberás interpretar e desfrutar melhor a arte. Poderás relativizar a importância das coisas cotidianas. Embora encapada num al­truísmo monástico, pouco se diferencia de um comercial de produto para emagrecimento, exceto pelo garoto-propaganda, na literatura geralmente alguém entediante, sem carisma e incapaz de seduzir sua plateia.

Apesar de tudo a literatura vive um mo­mento de relevância, em especial entre os jo­vens. Não só entre eles, mas aqui ocorre um fenômeno novo e interessante. Os livros são pauta frequente de conversa, sem distinção de gênero (Guarde essa sentença. Ela será útil mais adiante). É também um fenômeno que ir­rompe barreiras sociais. Mesmo os jovens de classes mais baixas estão se mostrando ante­nados e curiosos. Ao contrário de tudo o que se diz sobre o preço do livro, a literatura ainda é uma experiência barata. E numa comunidade homogênea como a dos jovens na periferia, que se aproximam por gostos e preferências cultu­rais, o indicar/emprestar/passar de mão em mão torna o custo marginal quase irrisório. Tudo isso é uma grande ilação minha, basea­da em alguma (pouca, na verdade) observação. Em nada ajuda o fato de as pesquisas de leitura no Brasil pouco revelarem, autoanuladas por problemas graves de método e amplitude.

Teria a discreta melhora na educação públi­ca brasileira influenciado a formação de leito­res? (Essa melhora, sim, se pode provar. Basta dar uma olhadinha no Ideb). Talvez. Mas penso ser a internet hoje o principal motivador da leitura. Em todo o século 20 as mídias se alter­naram como a principal fonte de informação e comunicação. Tivemos, pela ordem: o apogeu dos jornais, a era do rádio, a era do cinema, a invenção da televisão, a música como protesto e canto do cisne da civilização, o cinema de vol­ta – via blockbusters juvenis, a consolidação da televisão, e por fim a internet.

Como já foi amplamente analisado, a ascen­são de uma mídia predominantemente escrita sobre culturas ágrafas como a televisão e o rá­dio reposicionou o texto escrito no alto da lista de valores para o bem comunicar. Embora a in­ternet seja o espaço multimídia por excelência, a maioria de seu conteúdo é escrito, e assim deverá continuar. É a forma de comunicar mais rápida, dinâmica, universal, prescinde de téc­nica e de tecnologia. Os usuários/produtores se digladiam por atenção. E cedo descobriram que a correção textual é um primeiro passo fundamental para o sucesso na rede.

Nos primórdios da web 2.0, linguistas de todo canto se escandalizavam com a distorção da norma culta que ocorria no meio virtual. Além da salada ortográfica, havia os casos ex­tremos em que Si cOxtumm@va iXcreVr a$im. Tão natural quanto surgiu, esse “estilo” desa­pareceu. A abundância de informação exigiu das mensagens um esforço de correção para que sejam entendidas de bate-pronto, senão o descarte seria imediato.

O que tem a literatura a ver com tudo isso? Certa vez lembro uma colega da faculdade de jornalismo contrariada por haver na grade curricular a disciplina de cinema. Achava des­necessário estudar teoria e prática cinemato­gráfica, ela cujo sonho era ser repórter de tevê. Faltava-lhe entender que a linguagem de tevê se alimenta, inova e renova a partir de sua ar­te-mãe, o cinema. Arrisco – mas não muito – a dizer que a arte-mãe da internet é a literatura. Na postagem diária, a busca por uma individu­alidade formal da escrita, como o exemplo do parágrafo anterior, foi substituída pelo esfor­ço em reproduzir os códigos comuns que tor­nam a comunicação possível, e ainda sugerir o novo, o não-criado. Se revelam as carências do ensino da língua no ciclo de educação básica, também demonstram uma vontade de se aper­feiçoar nela.

Neste público jovem com tendência à for­mação de comunidades e engajamento, a li­teratura juvenil de massa tem feito sucesso inédito desde, pelo menos, a primeira metade do século 20. Harry Potter, com sua estratégia de serialização, foi o abre-alas. Outras séries copiaram tanto o formato quanto a premissa e conseguiram relativo sucesso no vácuo do bruxinho. Estas abriram caminho para auto­res nacionais como Eduardo Spohr e André Vianco, hoje bastante populares entre adoles­centes. Esses autores, e essas obras, são forma­doras de pequenas redes, capazes de agregar novos leitores para si apelando à sensação de pertencimento e necessidade de up-to-date. Ler se torna uma experiência coletiva e social. O mercado editorial ganha contorno de show -business, com estreias, datas de lançamento longamente esperadas, turnês de divulgação. O jovem leitor não é mais o excluído no porão; é o conectado à urbe.

No ensaio do mês passado, publicado nes­te mesmo espaço, já havia citado a necessida­de de os criadores literários introspectarem a necessidade de liderança. Provocar, instigar, relativizar certezas. Mas para isso é necessá­rio não somente fazer a mensagem chegar, mas criar condições para que ela ricocheteie entre os leitores, que crie uma movimentação autô­noma semelhante à dos exemplos acima, mas sem o caráter reafirmador e contemporizador da literatura de massa.

A leitura da edição de janeiro do RelevO revela uma miríade de narradores solitários. A figura do personagem interlocutor é prati­camente inexistente, e mesmo o Outro obser­vável – estilo Holden Caulfield x a sociedade – é um ente raro. Exceção notável é a crônica Balcões, de ReNato Bittencourt. Aqui, o jornal pende para um “em-si-mesmamento” herméti­co ao diálogo. O eu-lírico do jornal gasta quase todo o papel tentando se compreender, impe­dindo o leitor de também tentar compreendê-lo, ou compreender a si mesmo.

Alguns poderão afirmar ser uma tendência natural dessa forma de arte e citar uma infi­nidade de autores consagrados com propostas similares. Antes que o façam, concordarei pre­viamente com o argumento, poupando-lhes o trabalho. Mas quando o único leitor a encon­trar um ponto de identificação no texto é seu próprio autor, temos um inescapável problema de autoreferência. Apesar de literário, somos um jornal. Se relegarmos o diálogo com o lei­tor, ele reciprocamente recusará a sua leitura.

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Na edição de janeiro, Daniel Osiecki comen­ta uma crônica de Renato Vieira Ostrowski, publicada em uma coletânea que o primeiro analisa e, coincidentemente, republicada na mesma edição do jornal. Uma informação que somente o leitor atento é capaz de captar, pois o próprio periódico em nenhum momento o informa sobre ela. Cabe ao editor promover um diálogo interno entre os autores, apontan­do complementações, proximidades e debates sempre que eles existiram. Pode (e deve) inclu­sive intervir com pequenos textos que atentam para uma leitura comparada. É a mesma pro­cura de unidade que defendo no trecho acima.

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Na edição de dezembro, o mesmo Daniel Osiecki escreveu um pequeno ensaio sobre a produção editorial no Paraná. Sua posição pro­vocou certo burburinho no Facebook e iniciou um pequeno e saudável debate na mídia social. Um jornal mensal não consegue acompanhar a velocidade desses acontecimentos, mas é im­portante não deixá-los soltos na webesfera. Um convite a escrever réplicas e tréplicas, con­solidando opiniões que acabam ficando soltas na rede, ajudaria a manter a discussão num bom nível de embate de ideias.

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Autores desta seara, agridam-se com mais virulência.

 

Nota do editor:

É propósito do periódico promover maior diálogo entre seus conteúdos internos e trazer para o papel as discussões suscitadas em outras plataformas, fundamentais para o crescimento e consolidação de nosso trabalho. Buscaremos com mais rigor este tipo de conexão, evidente­mente precária nos casos acima citados.