2023: logo ali

Editorial extraído da edição de dezembro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Chegamos à última edição de 2022. Neste ano de pós-pandemia, eleições e Copa do Mundo (e do primeiro Encontro Ufológico de Joinville), o RelevO continua imprimindo ininterruptamente, seguindo sua sina de ser de papel e de literatura desde setembro de 2010. Provavelmente, quando esta edição chegar às suas mãos, já saberemos que fim teve o Brasil na maior competição monoesportiva do planeta. Em novembro, para lembrar, fizemos uma edição especial com a literatura dos 32 países que disputam a Copa do Mundo. Não é segredo que gostamos muito de futebol e, em dezembro, nos aproveitamos das analogias esportivas para refletir sobre os últimos 12 meses.

Se o Jornal fosse uma seleção, seria, quem sabe, o Irã – organizado e aplicado, mas limitado e distante de uma grande liga? Temos uma equipe de apenas seis pessoas. Ou então a Croácia, com um futebol equilibrado e rompantes técnicos, mas com poucos recursos humanos para dar aquele passo adiante e se tornar grande? Temos, como fonte de renda, apenas assinantes e anunciantes privados. Seria alguma seleção que não foi pra Copa? Nunca nos sentamos nas principais mesas do meio literário.

2022 foi um ano desafiador sob muitos aspectos, com aumento de 23% de custos operacionais em uma ponta, diminuição do nosso corpo de assinantes em 15% em outra ponta e aprimoramento da nossa comunicação interna, com a circular, a Enclave e a Latitudes unidas em uma única base de controle (Substack). Conseguimos, enfim, centralizar toda a nossa produção de conteúdo digital, ajustar questões estruturais tão importantes quanto entediantes do nosso site e deixar cada vez mais evidente as vantagens de alguém nos assinar por apenas 70 reais ao ano.

Buscamos convencer nossos novos e velhos assinantes pelo trabalho contínuo em prol do que consideramos o melhor da literatura brasileira contemporânea. Não conseguimos competir em preço, mas nos esforçamos editorialmente – e não devemos favores. Somos uma defesa forte que busca aproveitar suas poucas chances de gol. Se subirmos demais ao ataque, seremos amassados. Assim, crescemos lentamente, adaptando-nos às intempéries naturais da vida. Estamos distantes das maiores competições do planeta, mas sobreviveremos até a festa de encerramento.

Uma boa leitura a todos.

“Não sei. O amor é assim”

Editorial extraído da edição de novembro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Desde 2014, o RelevO produz uma edição especial da Copa do Mundo de Futebol. Gostamos muito de futebol, até mais do que gostaríamos. Também gostamos muito de literatura, mais discretamente. Como qualquer esporte (menos o beisebol), o futebol, em sua duração entre 90 e 100 minutos, carrega todos os elementos necessários para a criação de boas histórias: jornada do herói, imprevisibilidade, drama, beleza, técnica, envolvimento emocional.

Sabemos que nem todos os jogos de um Campeonato Paranaense são dignos de epopeias de Camões. Mas a Copa do Mundo é diferente. Ali se encontram os melhores praticantes do dito esporte, todos na busca pela consagração — e o futebol é um dos raros esportes em que as Olimpíadas não se configuram como “o momento sublime”. Mesmo com jogos considerados menos empolgantes, sabemos que a Copa é outra coisa; é outro modo de estar no mundo, a potência máxima da célebre frase da crônica de Rachel de Queiroz sobre o seu amor pelo Vasco: “Não sei. Amor é assim”.

A edição de novembro do RelevO — maior, com 40 páginas— é toda dedicada à literatura dos 32 países envolvidos no maior espetáculo monoesportivo do planeta. Buscamos trazer escolhas que fugissem da obviedade, ou mesmo veicular autores e autoras nunca publicados no Brasil. Contrariando um tanto a nossa aversão a bios, entendemos que, nesta edição, contextualizar cada escolha editorial é um processo pedagógico necessário.

Aliás, para que esta edição especial viesse à tona, contamos com a parceria do curso de Jornalismo da Universidade Positivo (UP). Mais de 50 estudantes de todos os períodos se envolveram, por quase dois meses, na pesquisa, produção e curadoria de conteúdo, desde a seleção de autores e autoras à captação de imagens e informações históricas. Também tivemos o aporte do nosso corpo de anunciantes e assinantes, que aderiu ao projeto, auxiliando em uma edição mais robusta e com uma tiragem três vezes maior que a nossa média. Em virtude do projeto especial e da redistribuição de conteúdo, as cartas dos leitores e as sessões Brazilliance e Enclave retornam em dezembro, assim como a prestação de contas. O ombudsman Nuno Rau fecha a presente edição, ao passo que nossas galhofas temáticas a abrem.

Boa leitura a todos. E boa Copa!

De um futuro analógico

Editorial extraído da edição de outubro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


O nosso futuro será analógico.

Em virtude do caráter forjado na regularidade, o RelevO reforça com certa frequência a importância dos hábitos e de seu pacto com o real. Acreditamos nos rituais, nas repetições, nas buscas individuais por espaços que fujam da pressão e da volatilidade de ser contemporâneo. De fato, folhear papel parece tão… século 20, assim como todas as coisas que possuem dimensões táteis, como um sapato. E não parece muito sustentável (assim como os sapatos). Contudo, folhear papel é uma experiência real, mensurável.

Não somos o que se pode chamar de conservadores e não somos o que se chama de progressistas. Ao nosso modo, buscamos participar das discussões que mobilizam nosso cotidiano, em um cruzamento entre o novo e a tradição, entendendo o humor como uma força norteadora de nossa existência. Por apostarmos em novos autores e autoras, almejamos oferecer um recorte do que é produzido na atualidade, sem desconsiderar, por exemplo, uma tradução de Emily Dickinson que chega à nossa caixa de entrada. Não existe o novo sem uma interlocução com repertórios anteriores.

Entendemos que ser um jornal de papel e literatura em 2022 é promover um espaço de diversão (e alguma reflexão, vá lá) fora da tela. Somos pela produção de presença: o viés digital é apenas uma ferramenta de que fazemos uso moderado por conta de seu potencial de abrangência e distribuição. Nosso leitor ideal está procurando experiências off-line – também por isso nos solidarizamos com os leitores que não prosseguem com a assinatura por falta de tempo. De fato, deve ser frustrante investir 70 reais ao ano para uma leitura de aproximadamente uma hora e não conseguir ler no intervalo de 30 dias; é melhor gastar em outra coisa que produza presença – como uma pizza, mais ou menos nesse valor.

É possível argumentar que é melhor passar uma hora mensal nas redes sociais (sabemos que a média de vida que o brasileiro passará na internet é de 40 anos, com potencial de aumento de tempo), porque não se gasta. Mas aí temos uma diferença para um produto físico que custa 70 reais ao ano: em muitos casos, o produto nas redes é o próprio consumidor, imerso em uma rede alucinante de publicidade e recolhimento de dados. Assim, pela identificação dos hábitos (quem diria), o consumidor é avaliado pelas plataformas e o consumidor, então, compra ou vira audiência (que vira dinheiro). É a máxima recente: “se você não está pagando por isso, você não é o cliente – você é o produto”.

Acreditamos que o futuro será analógico não porque os cabos subterrâneos de internet serão cortados e voltaremos a usar lampião de querosene. Não somos luditas, muito menos saudosistas que acreditam que os egípcios de três mil anos atrás faziam intervenções dentárias melhores. Quando dizemos “nosso futuro”, nos referimos a uma parcela de pessoas que não aguentará mais a linearidade do consumo cultural e pagará para receber uma experiência em casa, longe de banners, pop-ups, comerciais indesejados, novos links, cookies, WhatsApp Web aberto, Craque Neto. E isso que nem estamos falando dos smartphones como intensificadores de ansiedade e depressão.

Um cínico de carteirinha pode apontar que o leitor de jornal de papel e de literatura que posta seu hábito analógico no Instagram é uma fraude. Pois nós não concordamos. Este nosso leitor ideal apenas está em busca de sua comunidade analógica, que pode desconhecer os benefícios (não é nossa função, mas agradecemos se houver) de simplesmente parar e ler algo aleatório – algo, sobretudo, tangível e não produtivo.

No RelevO, você recebe o que paga. Buscamos oferecer o que consideramos serem os mais interessantes textos contemporâneos. E nós pagamos aos colaboradores. Pouco, é verdade, mas em proporção infinitamente maior que a do Spotify para pagar aos músicos catalogados, por exemplo (com orçamento infinitamente menor). Outro fator que não desconsideramos é o simples aspecto egoísta de ter um produto de arte em mãos e poder fazer o que quiser com ele, como levar a uma cachoeira ou a um café, ou somente aproveitá-lo para forrar os copos diante da imediata mudança de casa.

Uma boa leitura a todos.

12 + 1: o que nunca fizemos

Editorial extraído da edição de setembro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Cento e sessenta edições.

O RelevO completa 12 anos e chega a um número redondo de circulação, quase como um acaso beneficente: 12 anos de circulação ininterrupta e mais de 5 mil assinantes diferentes (hoje, somos pouco mais de 1050 assinantes regulares). Embora tenhamos feito um pouco de tudo ao longo desse período, seguimos virgens em algumas atitudes. Por exemplo, nunca fizemos:

  1. Acordo com escritor em troca de assinatura ou privilégio editorial.
  2. Acordo com editora em troca de resenha ou espaço preferencial.
  3. Concessões humorísticas por conta de assinantes que cancelaram assinaturas em função do nosso humor. Jamais deixamos de publicar textos considerados impróprios para uma parcela de nossos assinantes e anunciantes. Também nunca…
  4. Servimos de palanque político-partidário para qualquer figura naturalmente transitória.
  5. Alegamos que somos a salvação da literatura brasileira ou o maior jornal de literatura do Brasil.
  6. Agredimos idosos na FLIP.
  7. Escondemos nossas dificuldades, pontos cegos ou limitações.
  8. Deixamos de apresentar nossas melhorias, aprimoramentos e evoluções logísticas.
  9. Mimamos o artista/escritor/poeta, tratando-o como sujeito sagrado e removido da sociedade. [Sempre respeitamos quem tem contas a pagar – e torcemos o nariz para quem não tem.]
  10. Deixamos de publicar ofensas, críticas agressivas, reações exacerbadas, violências originais e todo tipo de insulto de que, muitas vezes, fomos merecedores ou que simplesmente nos entreteram muito.

Por fim, também (11) nunca deixamos de, em alguma medida, nos divertir. Parece besteira, mas é o vício inerente capaz de nos manter operacionais. Acreditamos na leveza e, seguindo a lógica habitual, o desafio para os próximos 12 anos é existir. Que venha o 13.

Uma boa leitura a todos!

“Hoje pavão, amanhã espanador”

Editorial extraído da edição de agosto de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Um impresso de literatura vive de pequenas conquistas não simbólicas. Por exemplo, a gráfica. Pagar a gráfica não é alegórico. Não temos como permutar a gráfica ou convencê-los de que os preços subiram e “esse mês tem como pendurar?”. O mesmo vale para todos os nossos insumos: itens de papelaria, envelopes, combustível, manutenção do carro do jornal — o prestidigitado RelevOMóvel. Estar em dia, para nós, equivale a continuar em circulação. Portanto, é um sintoma de nossos acertos.

Nesse cotidiano em que a logística é muito importante – e, certamente, o coração operacional do Jornal –, às vezes deixamos certos vácuos editoriais sem solução (ou apenas com sistemas de continuidade duvidosos). Como já relatamos em editoriais recentes, sempre tivemos muita dificuldade de estar em dia com as leituras dos textos encaminhados para avaliação ao nosso Conselho Editorial. A situação já foi tão desesperadora que chegamos a ter dois mil textos não lidos. Na pandemia, o drama se acentuou.

Pois bem: em julho, conseguimos, enfim, zerar a caixa de entrada, ou ao menos encaixá-lo no que a nossa própria política de publicação alega ser o ideal: “Tentamos, mas não conseguimos acusar recebimento. Se você não receber retorno em 60 dias, não utilizamos o material. Se o aprovarmos depois deste prazo – estamos em constante atraso –, evidentemente entraremos em contato. Textos selecionados têm sua aprovação comunicada antes do fechamento da edição”. Em suma, os textos não lidos (menos de 40) agora se encontram na margem de retorno.

Além das leituras, retornamos individualmente para cada autor ou autora não selecionada. Reforçamos que o material não será utilizado pelo nosso Conselho Editorial e que isso não significa, de modo algum, que o trabalho não tem potencial literário: apenas não se encaixa na linha editorial das próximas edições. “Fique à vontade para submeter outros materiais quando quiser” foi o tom que buscamos apresentar, entendendo que estamos em um circuito interligado, o dito meio literário. [Nós mesmos publicamos textos que hoje não publicaríamos apenas porque… mudamos, como tudo na natureza.]

O RelevO não é um periódico de um banco ou de um órgão público. Nossa equipe é enxuta, regular e preza por transparência (talvez até com um certo grau obsessivo). Assim como trazemos a público a satisfação de, depois de mais de três anos, estar com a caixa de entrada em um nível decente, também dividimos os melhores-piores retornos dos recusados, curiosamente todos homens. Você pode conferir tudo na nossa seção de cartas, em que apenas mudamos os nomes dos autores porque é justamente dessa união entre ego frágil e tempo livre que nascem alguns processos.

Reiteramos aquilo que consta nas nossas orientações há anos: “Tentamos, mas não conseguimos acusar recebimento. Se você não receber retorno em 60 dias, não utilizamos o material. Se o aprovarmos depois deste prazo – estamos em constante atraso –, evidentemente entraremos em contato. Textos selecionados têm sua aprovação comunicada antes do fechamento da edição. Uma recusa absolutamente não impede novas tentativas. Não tome a avaliação como pessoal. Se você não tem preparo emocional para receber um não – todos nós já recebemos vários –, por favor, não nos envie seu trabalho”. Também sabemos há muito tempo que autointitulados não leem edital algum.

Nada do que recebemos como retorno negativo nos surpreendeu. Sabemos que uma parcela significante do meio literário sofre de egoesclerose ou da mera dificuldade de compreender que qualquer veículo toma decisões não inclusivas. Ao mesmo tempo, a imensa maioria dos temporariamente recusados foi gentil, cortês e estreitou vínculos conosco. Dentro da nossa miudeza de projeto e do nosso lastro de quase 12 anos de publicação, não somos nada mais do que atravessadores, que tomam emprestado textos que julgamos bons.

Tudo nesse mundo é emprestado, como relembra a canção.

Boa leitura a todos.

Não existe jornal sem conflito / não há motivos para existir jornal sem humor

Editorial extraído da edição de julho de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Não existe jornal sem conflito.

Uma das principais noções de existência que carregamos da nossa inserção no meio literário é que fazemos escolhas o tempo todo, principalmente do que não queremos. Partícipe da natureza analógica, não podemos (nem queremos) escolher todos. Não podemos escolher metade. Não vamos escolher nem 2% do que recebemos.

À primeira vista, pode parecer um exercício de prepotência – e um método criativo de carteiraço – antes de o(a) escritor(a) manifestar seu descontentamento com a falta de retorno do material enviado em 2020. Mas definitivamente não se trata de salto alto. Não temos qualquer anseio de cânone, muito menos de ilusão de importância (“o jornal que você precisa ler para entender o mundo hoje”).

Em média, recebemos 400 textos por mês, portanto cerca de cinco mil textos por ano. Temos 24 páginas e no máximo dez colaboradores por edição, desconsiderando colunas fixas, da casa, como as centrais, o ombudsman, a Enclave e a Brazilliance. Quem sabe, um formato especial da Latitudes (nossa newsletter exclusiva para assinantes, voltada a concursos literários, editais e cursos de literatura) também comece a circular no impresso. Então, com o espaço que temos, publicamos apenas 120 autores e autoras por ano.

Não escolher 98% dos textos que recebemos gera ruído. Deste percentual de 100% de não escolhidos, temos: assinantes do Jornal; escritores que fazem questão de reforçar que estudaram na USP; indicações de amigos; nóias; antigos colaboradores com potencial; gente nova em busca de espaço no ecossistema literário; picaretas conhecidos desde o início da nossa circulação etc.

Para evitarmos mais ruído (e também por falta de braço), não damos retorno específico, detalhando a recusa. Há alguns anos, tentamos isso – não durou dois meses (principalmente por falta de braço). Hoje, com um processo mais maduro, nem achamos que deveríamos fazê-lo. A presente edição, de julho de 2022, por exemplo, está repleta de textos sobre morte e misticismo, com um viés de humor estranho em textos nos arredores deste eixo temático. Não faria sentido dizer: “Pena que o seu texto sobre escritor corno fumando em um bar não foi selecionado agora”.

[Em nossa seção Publique, do site do Jornal, ainda manifestamos nossa preguiça geral com “escritor triste escrevendo sobre escrever”, “poema sobre o valor da poesia” e “meu amor não correspondido acaba de sair pela porta”. Isso não significa que materiais dessa natureza serão automaticamente piores e/ou recusados].

Não há motivos para existir jornal sem humor.

Para o RelevO, é o humor que acende a vela necessária para sobreviver aos espasmos de escuridão. É o humor que mantém acesa a loucura e a impossibilidade. O humor desarma, desprende, pisa nas convicções. Rir de modo inesperado é uma das únicas experiências ainda válidas em qualquer modo de convivência humana. O humor, inclusive, nos auxilia a lidar com o próprio meio em que estamos inseridos.

Gabriel García Márquez dizia: “Todo mundo tem três vidas: a vida pública, a vida privada e a vida secreta. A vida privada é só para convidados. A vida secreta não é da conta de ninguém”. O RelevO, em seu protocolo institucional gauche, faz o possível para transparecer suas ações. Mas sabemos de nossos segredos. Por exemplo, não divulgamos quem pertence ao nosso Conselho Editorial de avaliação de textos. Podem ser quatro, podem ser três, podem ser dois, e pode ser que um dia não seja ninguém — um dia que esperamos que demore para chegar. O que queremos, ao fim e ao cabo, é entregar um jornal interessante de se ler (sem desconsiderar todas as implicações disso).

Uma boa leitura a todos.

Sensos e generosidades

Editorial extraído da edição de junho de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


O RelevO sempre se diferenciou de uma organização com fins lucrativos – não só pela desorganização de seus primeiros anos e pela incapacidade de lucrar, contínua – e se assemelhou a uma instituição, operacionalmente. Não entendemos, de forma alguma, que o nosso impresso mensal de literatura desenvolva atividades como as de hospitais, universidades e igrejas (sequer temos crenças). Todavia, acreditamos que temos alguma relevância (com o perdão do trocadilho) tanto em quesitos editoriais como de acessibilidade ao nosso trabalho, que busca apresentar novos autores e descentralizar perspectivas do meio literário (o que também não sabemos se conseguimos, dada a nossa limitação logística). De fato, muito do que fazemos é pelo senso livre e particular de gostar do que fazemos – e de primar absolutamente por continuidade.

Nesses quase 12 anos de existência, apostamos muito em nosso senso de comunidade, promovendo a autocrítica constante, criando o cargo de ombudsman, abrindo ao leitorado as cartas mais negativas possíveis e divulgando o nosso balanço financeiro mensalmente. Não temos vergonha de nossos índices e práticas, que até poderiam ser chamadas de modelo de negócio caso tivéssemos certeza que chegamos até aqui com um plano.

A transparência é um pilar do nosso projeto editorial e não negamos que utilizamos desse expediente para a publicidade de nossas ações. Pagamos os autores e autoras e divulgamos isso. Confiamos em nosso corpo de assinantes para superar crises. Esforçamo-nos para entregar, todo mês, o melhor periódico que conseguimos.

Se não apelamos diretamente para o slogan “Não deixe o RelevO morrer”, não deixamos de reconhecer que sempre expomos nossas fragilidades e dificuldades em busca de compreensão e de suporte financeiro. Também por isso, entendemos como necessário agradecer a cada um que ouve nossos chamados nas circulares mensais direcionadas aos assinantes, que nos escrevem depois de nos encontrar numa biblioteca do interior, gente que manifesta generosidade genuína e se compadece da nossa situação de busca simples por continuidade,. E é apenas isso que buscamos: continuar.

Obrigado. Boa leitura a todos.

Pedintes

Editorial extraído da edição de maio de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Ao longo de quase 12 anos de existência & suas consequências, o RelevO fez algo além de circular mensalmente e colaborar para o desmatamento de reservas de reflorestamento: pedir.

Desde o dia da criação mental do Jornal, o que mais fazemos é pedir. Foi assim em agosto de 2010, quando conseguimos dois anunciantes para custear a impressão (quando conseguíamos imprimir 1000 jornais com R$ 200). Quinze dias depois, o Jornal começava a circular em não mais do que dez lugares do Paraná, diversos exemplares soltos no banco de passageiros do mesmo Gol 1994 que ainda hoje transporta os fardos coletados na gráfica (com custos que agora aumentam a cada três meses).

Em 2012, ambicionando a estabilidade e o fim da dependência exclusiva de anunciantes, começamos a vender assinaturas, que custavam, então, R$ 50 ao ano. Em pouco mais de dois meses de prospecções, tínhamos 100 assinantes e a esperança de que conseguiríamos mesmo imprimir um jornal de literatura com alguma regularidade. Neste período, demos alguns saltos que podemos considerar, hoje, como excessivamente arrojados para o nosso perfil de investimentos em mais de uma década.

A entrada de assinantes nos levou a tomar medidas de cunho organizacional. Precisávamos entregar os jornais e justificar a confiança daqueles que adquiriam 12 edições antes mesmo de receber a primeira. Ali, aprimoramos nossas planilhas, ampliamos nossa rede de distribuição para angariar mais leitores e chegamos a ter 25 anunciantes em 2015, com edições de 32 páginas e seis mil exemplares de tiragem.

Aí percebemos nosso teto de produção. Com fechamentos confusos e altos índices de erros de checagem, vimos que 32 páginas eram um excesso; também enxergávamos de maneira mais notória os efeitos da crise de formato, com o predomínio do digital e o fechamento de diversas marcas conhecidas da dita mídia tradicional. Tínhamos alguns sinais oscilantes: crescíamos, mas também gastávamos mais energia.

Em 2015, com o aumento de diversos custos (pois veja), como combustíveis e gráfica, começamos campanhas mais agressivas para ampliar o nosso fluxo de caixa. Não foram poucas as noites em que o editor do periódico escreveu para amigos, conhecidos, contatos e qualquer ser humano que pudesse gostar do nosso projeto editorial. “Que acha da ideia de assinar o Jornal RelevO?”. Foi em 2018 que chegamos a 1000 assinantes e pensamos: será possível ter mais assinantes? Acreditávamos que sim – e ainda acreditamos, hoje, com pouco mais de 1100 assinantes (patamar que não conseguimos ultrapassar desde 2019 e que não sofreu quedas severas com as permanentes crises econômicas).

Desde então, o cenário mudou muito. Os custos cresceram ainda mais, os hábitos de leitura mudaram — nos chamam de “experiência offline” —, tivemos uma pandemia, os índices de renovação caíram, as reclamações aumentaram. Ao mesmo tempo, solidificamos nossos processos, nos tornamos ainda mais antifrágeis e convivemos com alguma resiliência com o nosso cinismo, sem fazer clima de terra arrasada, mas também sem deixar de considerar os desafios do nosso meio de atuação.

A pandemia, sem dúvida, foi o momento em que mais pedimos, em que mais apelamos para o nosso senso de comunidade. Ao diminuir a tiragem, cessar a distribuição em pontos físicos e ter os custos aumentados em cadeia, temos cada vez mais dificuldades para abrir novos mercados e dependemos sobremaneira de nossos assinantes.

Não temos vergonha de pedir. Em nossas circulares, destinadas apenas a assinantes e colaboradores, contamos os nossos percalços e os esforços para manter em circulação o periódico que gostamos de seguir produzindo. Não são poucos os dias em que nos perguntamos se não estamos exagerando no drama. E 2022 está mesmo complicado.

Enquanto interessarmos como produto e como projeto literário, pediremos. Quando não for mais possível manter a Operação RelevO, ainda assim seremos gratos por tantos anos e anos em que os nossos pedidos viraram o pagamento de contas, a edição seguinte, a manutenção de nossa circulação. Somos mesmo muito gratos.

Uma boa leitura a todos.

De mudanças e sobrevivências

Editorial extraído da edição de abril de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Conforme havíamos antecipado, a anuidade do RelevO finalmente subiu. Os R$ 60 que nos acompanhavam desde o fim de 2019 deram lugar a um pagamento anual de R$ 70. Os demais planos (apoiador e patrocinador) também tiveram reajustes proporcionais. Não estamos contentes, mas também não queremos ser repetitivos diante do que já descrevemos a respeito do aumento de custos para a operação do Jornal. Não podíamos seguir com os mesmos patamares de cobrança na medida em que os custos dispararam nos últimos três anos.

Neste espaço do editorial, geralmente tratamos dessa mesma operação. É a nossa oportunidade de comunicar mudanças maiores — ou simplesmente ideias fixas. Também temos o hábito de contextualizar nosso meio, com seus vícios e virtudes. Muitas vezes nos repetimos, afinal nossa existência não é tão emocionante. Somos uma espécie de relógio com algum defeito de fábrica não suficiente para a sua inviabilização funcional.

Recentemente, disponibilizamos todos os textos de nossos ombudsman no site do Jornal. Também migramos todas as nossas edições para lá, sem depender mais de domínios alheios. Elas constam em PDF, diagramadas, em suas versões finais. Porém, ao contrário do que às vezes se deduz de nosso ofício — hoje menos do que antes —, não temos interesse em migrar todo o conteúdo do RelevO, separadamente, para o nosso site. Isto é, cada texto, cada poema, cada contribuição enviada, mapeando a informação e disponibilizando-a por meio de endereços únicos.

Embora essa atitude pudesse aumentar o nosso tráfego (e, consequentemente, converter-se em assinaturas), o passo adiante na grande rede aproximaria nosso peculiar impresso de um ponto desconfortavelmente digital. Entendemos que o Jornal é um espaço de ampliação de vozes escritas do contemporâneo e de diversão para os envolvidos, o que nos leva a evitar a repetição de colaboradores. De modo paralelo, apostamos na mudança regular de ombudsman, cargo que aponta para outra direção importante: a transparência e a legitimidade do nosso senso de comunidade a partir de nossas características. Tudo isso nos afasta da individualidade e de certos mapeamentos da informação.

Sobrevivemos à era de blogs e à euforia (assumida) com as redes sociais. Esse é o nosso “antes”. Curiosamente, hoje nos questionam muito menos sobre a possibilidade de transformar o RelevO em uma “revista digital”. Também curiosamente, a experiência do Jornal como um veículo intrinsecamente impresso parece mais valorizada hoje do que há dez, oito, seis anos. Ao longo desses anos, sabendo exatamente quem somos, vimos muitos projetos, revistas digitais e demais páginas prioritariamente associadas à internet sumirem. Não somos um projeto que ambiciona ser o maior de seu segmento, tampouco aceitamos nossas limitações como desculpa para os nossos gaps (sobretudo logísticos e que não estão sob nosso controle na maior parte do tempo).

Por outro lado, se alguém resolvesse essa questão sem transtornos e de graça, não nos oporíamos. Enquanto houver esforço de nossa parte, porém, a ideia não entra em pauta. Podemos mudar de opinião a qualquer momento — nossa existência não é tão emocionante.

Uma boa leitura a todos.

De custo-Brasil e codependências

Editorial extraído da edição de março de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todos os nossos editoriais, clique aqui.


Nos últimos seis meses, o custo de gráfica do RelevO aumentou três vezes. O custo de itens de papelaria aumentou 20%. A conta de luz quase dobrou em relação ao mesmo período de 2020, ainda antes da pandemia. Lembramos, dia desses, uma época em que fazíamos a distribuição do Jornal em oito cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) com R$ 100 no tanque — o litro da gasolina saía por R$ 2,50 em 2016 e já reclamávamos de uma alta recente do período. Não bastando, os Correios, em fevereiro, aumentaram a nossa modalidade de envio, a MDPB, em 30%. Um envio simples para Curitiba, que antes custava R$ 1,60, hoje não sai por menos de R$ 2,10. Em uma escala de 1150 assinantes, trata-se de um custo a mais considerável – e que impacta diretamente nossas margens de lucro.

Não especialistas que somos, aqui não nos interessa discutir o contexto geopolítico que torna o Brasil cada dia mais caro (embora determinados fatores sejam o óbvio ululante rodrigueano), nem a própria questão dos recursos envolvidos. Acontece que este é o Brasil que se apresenta e onde queremos continuar fazendo o que fazemos. Não podemos negar que a realidade está mais complicada para projetos como o nosso por fatores que também complicam a vida de outros negócios – muito mais importantes – espalhados pelo país. Sabemos que alguns fatores estruturais dos quais somos codependentes fogem ao nosso controle, e ao menos temos a opção de pular fora de tudo isso sem comprometer a renda de famílias.

O primeiro impacto de vários aumentos simultâneos de custo é a dificuldade de manter os valores de assinatura. Carregamos a anuidade de R$ 60 da assinatura básica desde o final de 2019. Para comparação, em setembro de 2019, o litro da gasolina circundava R$ 4,50, cerca de 55% menos caro que a média atual da Região Sul, mais especificamente de Araucária, sede logística do RelevO. Aliás, foi nessa época que começamos a oferecer a possibilidade de adquirir assinaturas de patrocinador (R$ 80 e R$ 105), que contribuem para o custeio do envio a bibliotecas comunitárias e pontos culturais nacionais.

Em suma, quando aperta, transferimos nossos custos para quem nos compra. Não existe nenhum segredo nisso. Não temos um megainvestidor. Não somos ricos. Não temos cargos públicos. Não aproveitamos nosso capital simbólico para nos aparelhar no Estado. Contudo, nossa comunidade de leitores, formada principalmente por sujeitos de Humanas, não tem sido capaz de assimilar a contento o aumento da vida como um todo. Historicamente, nossa média de não renovações de vínculos sempre foi de R$ 20%. Hoje, oscila de 30 a 35%, com tendência de piora em meses de férias escolares, como janeiro e julho. Pode ser que isso também tenha relação com o nosso produto em si, mas acompanhamos em planilhas rotineiras as justificativas da não continuidade. Não é impressão nossa, mero achismo. O RelevO é um projeto cultural com uma malha de números.

Pretendemos seguir com o valor congelado da anuidade básica no mínimo até o meio de 2022, mas sabemos que, em breve, precisaremos reajustá-lo. Como sempre enfatizamos por aqui, vivemos, basicamente, de assinantes e de anunciantes. Não utilizamos ou buscamos dinheiro público, tampouco vendemos anúncios travestidos de espaço editorial. Em linhas gerais, estamos conectados ao que acontece no país e sofremos o impacto de uma crise que se estende por muitos anos – e que, naturalmente, arrasta com mais facilidade os peixes menores. Sobrevivemos ao auge da pandemia, mas a escalada de aumento de custos nos preocupa muito.

Afinal, o que estamos fazendo? Primeiro, evitamos voltar ao patamar de distribuição anterior à pandemia, quando distribuíamos em mais de 450 lugares do Brasil todo sem custo para os espaços que nos abriam as portas. Estamos com ações mais direcionadas, como a ampliação da distribuição em nosso raio de ação, e mantendo o foco na captação de novas assinaturas a partir de nossos canais digitais. Não é muito, mas é o que sempre acreditamos desde o início do Jornal, lá em agosto de 2010: ações direcionadas, contínuas e mensuráveis. Esperamos continuar.

Uma boa leitura a todos.

Saber ser novo, saber ser atual

Editorial extraído da edição de fevereiro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Todo começo de ano, buscamos aprimorar, modificar ou nos esquivar de determinados comportamentos típicos da nossa estrutura. Refém de ciclos como sempre fomos — isso de ser mensal nos conecta ao tempo do calendário —, vamos, ao longo do ano, empurrando alguns problemas. Por exemplo, a dificuldade de manter em dia a leitura dos originais que nos são enviados, bem como a aversão (ou simples inaptidão) notória que temos das redes sociais.

Com relação ao nosso primeiro déficit histórico, começamos o ano lendo quase mil textos, retirando no mínimo 50 que podemos ler, reler, olhar para o lado e dizer: “aí sim, aí sim”. Ainda temos aproximadamente 500 leituras pendentes. Em 2021, tivemos um aumento de 30% nas submissões de textos, o que consideramos um excelente fator de interesse — e um dado angustiante. Mais textos lidos (e aprovados) indicam a possibilidade de prover edições mais coesas, tanto editorial como graficamente.

Entretanto, há duas questões crônicas nas não leituras. A primeira refere-se ao tamanho do nosso Conselho Editorial, atualmente composto apenas por editor, editor-assistente e um terceiro editor-leitor do meio literário, fora da nossa redação, consultado em casos de dúvidas mais complexas sobre o material submetido para análise. Somos dois (mais um, eventualmente) diante da vida e de uma pasta chamada “[0] Avaliar”, crescendo diariamente como a sede ao longo de fevereiro. Podíamos ser mais? Sim. Sem remunerar? De forma alguma.

O segundo aspecto é que recebemos muitos, muitos, muitos textos absolutamente ruins, equivocados, crus, fora das nossas normas básicas; textos que fariam corar estudantes do 4º Ano do Ensino Fundamental. São textos de política partidária mais afeitos ao cotidiano dos portais; textos sobre a primeira gestão do presidente de uma associação médica de Curitiba; textos escritos literalmente para o jornal da faculdade; textos que os autores queriam enviar para o outro jornal de literatura que também começa com a letra R; textos em que a bio (a qual sempre enfatizamos não ser necessária) parece ser mais importante que o texto.

Você deve saber por intuição ou por execução: ler diversos textos ruins, na sequência, um atrás do outro, é como caminhar descalço no asfalto; os cinco segundos intermináveis do cotonete do exame PCR no seu nariz; a sensação de acordar sem sentir o braço; o prelúdio turvo da sentença “quer ouvir algo desagradável agora ou conversamos depois?”.

Temos orgulho e medo da pasta “[0] Avaliar” e nunca negamos que somos um jornal de base. Muitos escritores e escritoras começaram suas trajetórias publicando em nossas páginas. Muitos sequer tinham passado pela experiência de ser remunerados por ligar uma palavra à outra, embora seja plenamente possível fazê-lo nos maiores jornais de literatura do Brasil sem receber um centavo. Enfim, sabemos que somos cancela de pesagem.

De modo algum negamos a satisfação de, em meio às trombadas desleais e aos jogos de corpo com vantagem para a defesa, encontrar aquele texto matador, redondo, que para em pé; o texto divertido, envolvente, estranho, porém “belo como o encontro fortuito de uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecação”, tal qual alegava o Conde de Lautréamont perante o que consideramos a ideia máxima de afetividade. São os textos bons que nos fazem esquecer que somos editores, que emulam a nossa velha vontade de simplesmente ler algo prazeroso (com todos os subjetivismos implícitos) e de dizer “olha isso aqui, olha isso aqui”.

Acerca da nossa aversão às redes sociais, damos alguns passos na direção de aproveitar mais os benefícios e as facilidades das novas ferramentas, mesmo que sintamos certo desconforto em ser insider daquilo que nem queremos conferir tão de perto. Paralelamente, temos algumas ressalvas em relação ao VAR. De todo modo – e mais importante que isso, ao menos para nós –, subimos todas as edições da história do RelevO em nosso próprio site. Também estamos subindo todos os textos dos diferentes ombudsman.

Antes de tudo, somos um jornal impresso, envolvido na materialidade do ciclo mensal, com custos físicos, datas-limite. Não somos um projeto paralelo ou um hobby. Temos muitas informações sobre o nosso meio e nosso público e planejamos a nossa continuidade de acordo com as intempéries que se apresentam. Em meio a isso tudo, tentamos ser novos sem ser efêmeros, tentamos ser atuais sem abrir mão da nossa forma de ser e estar no mundo. O problema do VAR continua sendo os operadores.

Boa leitura a todos.

11 anos e um segredo

Editorial extraído da edição de janeiro de 2022 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.


Nos últimos dias de 2021, o RelevO solucionou uma dor de cabeça distante, daquelas que insistem em latejar no canto direito da testa e sequer têm relação com a ressaca ou com o dia seguinte de ser estapeado na cama perante o devido consentimento. Pois bem, concluímos o processo de migração de todo o acervo de edições. Em outras palavras, todos os nossos PDFs agora estão disponíveis no site do Jornal, sem depender de qualquer elemento externo. Qualquer um pode verificar agora mesmo em <jornalrelevo.com/edicao/arquivo>. São mais de 150 edições, desde as ordinárias até aquelas que fizemos e realmente não lembramos como ou por quê.

Trata-se de um passo estrutural importante, pois valorizamos nosso próprio trabalho e facilitamos o acesso ao material. Também organizamos informação – o que é inerentemente prazeroso – e a centralizamos em um espaço nosso. Aos poucos, subiremos todas as colunas de ombudsman e os editoriais. Eventualmente, as centrais. Tudo devidamente catalogado (data, autor, edição) e pronto para receber visita, com seus links individuais, visando a uma espécie de panorama digital de nossa produção impressa em pouco mais de uma década. Não podemos dizer que ficaremos com saudades do Issuu, embora ele tenha sido útil enquanto o direcionamento durou.

Para 2022, queremos continuar imprimindo. É a meta primordial – todo ano, sem exceção. No nosso meio, perder de vista a própria existência é o primeiro passo para deixar de existir. Estamos sempre no limite, mas com cautela e segurança; somos o limpador de janela sobre o banquinho de madeira no arranha-céu, com a pele invariavelmente em jogo. Dez anos atrás, queríamos concluir nosso segundo ano; agora, bem mais estruturados (isto é, cascudos), queremos chegar ao 12º – e por aí vai. Não somos o time que classifica para a Sul-Americana e acha que pode pagar salário de Flamengo. Cada novo investimento é uma planilha esmiuçada em detalhes.

Subindo na pirâmide de Maslow institucional, precisamos de metas mais claras para o RelevO como pessoa jurídica. Até que ponto a formalização do Jornal é vantajosa? Existem benefícios suficientes para compensar o tempo e o dinheiro gastos com burocracia? Definir em que ponto nossa brincadeira pode chegar no futuro será determinante para agirmos hoje. Queremos ter um talk show? Um selo de música eletrônica? Promover uma festa com ofurô gigante preenchido por vinho australiano e com dois tigres jovens e mansos para serem montados pelas pessoas mais audaciosas? Sonhamos em ser maiores que a piauí ou nos contentamos em manter distribuição no Piauí?

Enquanto isso, tentamos expandir nosso bolo. Mais leitores, mais assinantes, mais acessos, mais anunciantes: em consonância, esses quatro elementos reforçam um ao outro, formando um círculo virtuoso que, além de permitir nossa referida existência, nos faz perder o medo de olhar para baixo à medida que o banquinho de madeira sobe o edifício envidraçado.

Boa leitura – e um grande ano a todos nós.