Editorial extraído da edição de agosto de 2023 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos editoriais, clique aqui.
Na condição de reféns e adoradores dos ciclos de 30 dias em que vivemos, chegamos em agosto, delimitando, assim, a última edição do ano 13. Na condição de limpadores de calhas que somos, de tentar desentupi-las enquanto o tempo está firme, estamos na lida há quase uma década e meia. De fato, os nossos anos editoriais se encerram no mês 7 por conta da fundação do Jornal, em 3 de setembro de 2010, uma data um tanto convencional, pois não sabemos dizer com tanta precisão assim quando publicamos a primeira edição.
Como falamos muito de passado e de dificuldades do presente, o que esperar de nós para o futuro, além de seguir publicando e enfrentando ciclos? Pode parecer banal, mas, dentro da lógica dos hábitos que circundam um periódico de circulação mensal, surgem sempre novas ideias ou simplesmente novos jeitos de fazer (para evitarmos a monotonia). Esta edição que você tem em mãos é um exemplo visual disso e ilustra bem nossos propósitos.
Desde a primeira edição, o RelevO aposta em publicar artistas pouco óbvios e que possam ser adaptados à nossa plataforma, isto é, o papel-jornal – que tem suas especificidades e, vamos lá, suas manias. Gostamos muito de traços mais minimalistas, por exemplo, não porque seja a corrente que nos conecta com o Sublime…, e sim por motivos de impressão, que tende a escurecer os traços originais. Também não somos um jornal em p&b somente por acharmos bonito: o custo é consideravelmente menor.
Pela mesma via, fugimos da fotografia, ou melhor, usamos com parcimônia pelo potencial de desfoque, de apagamento e de perda de intensidade da imagem na mudança do digital para o analógico. Foram raras as edições em que ficamos realmente contentes com a migração de plataforma. Por outro lado, também recebemos pouco material fotográfico interessante, que atenda às nossas fugas da obviedade imagética. Em 2023, recebemos fotos de cachoeiras, um ensaio de pets, retratos de missa e alguns nudes que não eram nudes convencionais, pois classificados como intervenção sensorial-artística pelo performer.
Nesta edição, resolvemos voltar ao tempo que nos enovela e capturar alguns artistas de um período sem filtros tão potentes a partir de comandos direcionados. Perguntamos, procuramos, observamos, achamos imagens boas em alta resolução. Foi uma resposta à IA (não foi) auxiliada pela própria IA, que nos guiou. O resultado são pinturas que se conectam aos textos por intervalos de mais de 400 anos e conferiram ineditamente um peso singular ao nosso projeto. Elas têm como eixo o flamengo (não o do Rio). Talvez façamos mais vezes, mas sem regularidade definida. Se você for pintor, gravurista, quadrinista, entre outras modalidades possíveis de expressão pela imagem, nos encaminhe seu material, mesmo.
Por fim, quase de passagem, estamos, mês a mês, voltando à distribuição pré-pandemia do RelevO —para se ver o efeito do período em nossa logística. Em agosto, estamos novamente retornando para Santa Catarina, com a abertura (e reabertura) de 15 livrarias e pontos culturais, que distribuirão gratuitamente o nosso periódico. Quem banca isso? Você, assinante, que, com seu aporte acima da assinatura básica (R$ 70), permite que realoquemos recursos para outros espaços. A partir de uma parceria local, também começamos a distribuir exemplares para toda a rede de escolas municipais de Curitiba, com mais de 180 unidades. Em virtude disso tudo, subimos nossa tiragem para 4 mil exemplares, assimilando um prejuízo um pouco acima do nosso habitual.
Sonhamos, entre o nosso cobertor mensal de entradas e saídas e a nossa busca desvairada por tocar nas vestes do paraíso, com cinco direções:
- Mandar o RelevO para todas as bibliotecas públicas e comunitárias do Brasil.
- Enviar o Jornal para ao menos 15 pontos culturais de cada estado. Hoje, conseguimos fazer isso em apenas quatro.
- Participar mais ativamente do circuito de feiras para ampliar a distribuição direta do periódico.
- Ter apenas 1 (UM!) financiador que nos perguntasse “com este valor aqui vocês realmente conseguirão ser o jornal de literatura com maior distribuição do Brasil?”. Sim, acredite. E este valor não chega nem ao triplo do que gastamos hoje.
- Seguir publicando o que gostamos.
Uma boa leitura a todos.