A Chegada dos Húngaros

Extraído da edição 42 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.

Muito antes do recurso ‘360º’ do Facebook para visualizar fotos e filmes panorâmicos, o pintor húngaro Árpád Feszty pintou um painel cíclico chamado A Chegada dos Húngaros. A colossal obra de 1760 metros quadrados foi finalizada em 1894 e está exposta hoje no Ópusztaszer National Heritage Park (uma espécie de Inhotim húngaro). A pintura retrata o momento da invasão dos Magiares, a tribo-líder da aliança húngara, no território que viria a se tornar o país que conhecemos hoje, por volta do ano 900. Link da coisa toda aqui.

[por Bolívar Escobar]

Lista: roupas, ornamentos e suas inspirações históricas

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Nehru jacket — Jawaharlal Neru

Mao suit / Zhongshan suit — Sun Yat-sen / Mao Zedong

Mao suit / Zhongshan suit — Sun Yat-sen / Mao Zedong

(E Blofeld, vilão de 007)

Galocha / Wellington boot — Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington

Galocha / Wellington boot — Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington

Galocha / Wellington boot — Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington

Blusão / Camicia Rossa — Giuseppe Garibaldi

Blusão / Camicia Rossa — Giuseppe Garibaldi

Blusão / Camicia Rossa — Giuseppe Garibaldi

Cardigan — James Brudenell, 7º Earl de Cardigan

Cardigan — James Brudenell, 7º Earl de Cardigan

Cardigan — James Brudenell, 7º Earl de Cardigan

Balaclava — Batalha de Balaclava / Vila de Balaclava

Balaclava — Batalha de Balaclava / Vila de Balaclava

Balaclava — Batalha de Balaclava / Vila de Balaclava

Colar elizabetano — Isabel I (Elizabeth)

Colar elizabetano — Isabel I (Elizabeth)

Colar elizabetano — Isabel I (Elizabeth)

Baú: Richard Hughes

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Existe uma história de uma célebre dançarina russa, a qual foi perguntada por alguém sobre o que significava determinada dança. Ela respondeu com alguma exasperação: ‘se eu pudesse dizê-lo em tantas palavras, você acha que eu teria todo o trabalho de dançar?’.
Richard Hughes, prefácio de The Sound and the Fury (William Faulkner).

Silvio Demétrio: Luto pela poesia

Coluna de ombudsman extraída da edição de dezembro de 2016 do Jornal RelevO, periódico mensal impresso. O RelevO pode ser assinado aqui. Nosso arquivo – com todas as edições – está disponível neste link. Para conferir todas as colunas de nossos ombudsman, clique aqui.


Este resto de epílogo de um ano cruel e tortuoso parece demonstrar um esgotamento do sentido em todos os níveis. Para muito além de qualquer polarização política ou partidária, todos se sentem traídos: seja pelo destino ou pelo acaso com a exorbitante tragédia que solapou as vidas de quem estava a bordo daquela aeronave que levava a equipe da Chapecoense (não há como não falar disso), seja pela decadência exposta de todos os parâmetros aceitáveis para a política em condições democráticas que se demonstrou com as manobras torpes, tanto do Senado com a aprovação da “PEC da morte”, quanto nas “10 medidas para acabar com a corrupção”, que o Congresso transformou a seu bel prazer e conveniências. Daqui em diante são vinte anos de inércia. Uma glaciação tropical. Não há bálsamo para uma ferida assim, especialmente quando o jornalismo é instrumentalizado como dispositivo que arranha a carne exposta do real, pervertendo a dor e a comoção nacional numa passividade bovina da população que se esquece de Brasília, do Brasil e de si mesma. A repetição até a exaustão para que o sentido entre em colapso também.

É aí que se percebe o momento ideal para avaliar o quanto existe de valoroso num jornal que se define pela “linguagem como notícia”. Um jornal de poesia e literatura. Um jornal como ágora estética — encontro de poéticas. Algaravia. Murmúrio do mundo. Glossolalia. É só assim, quando acontece na página uma epifania, que se revela a perspectiva do tempo como via de restauração do sentido. A poesia assim como toda a arte é uma forma de cura. É pelo engenho das palavras que se recupera a fé num mundo, seja ele qual for. Existem vários e eles não se excluem uns dos outros.

O RelevO acerta quando apresenta uma salada dos miolos dessa diversidade. E isto acontece de maneira constante. As páginas da publicação são pluralistas, sempre dando espaço para uma pletora de talentos de diferentes origens, estéticas e recursos de expressão. O periódico não é uma aventura paroquial e incestuosa. Mesmo quando regional, é recomendável a um jornal sempre ser cosmopolita. Mesmo que encrustado na mais febril das províncias. E o RelevO é um cidadão do mundo nesse sentido, basta percorrer suas páginas. A edição de setembro, por exemplo, acertou ao ir do chorinho ao heavy metal. Os textos de Luís Pellanda, Flavio Jacobsen e Karen Debértolis numa mesma edição faz lembrar, e isso é inevitável, os melhores momentos do saudoso Nicolau. Uma publicação de Curitiba para o mundo.

Na edição de outubro um grande acerto foi a publicação do texto do jornalista Diego Antonelli sobre um Paraná que não é nem um pouco pacato. A história da Revolução Federalista e o Cerco da Lapa nos mostram que, tal como no mundo inteiro, por detrás do silêncio de uma paisagem bucólica sempre há o grito sufocado de quem pagou com o próprio sangue o preço da história. E é necessário desmistificar o Paraná. Especialmente quando se cria uma aberração ideológica como a “República de Curitiba”.

Em alguns momentos de vulnerabilidade, o jornal pode pecar talvez por essa vocação paroquial que não é sua, mas do próprio Paraná. Estamos todos imersos no mesmo espírito do tempo e acabamos por contrair suas contradições. Talvez seja hora de expandir o alcance não só da circulação, mas também da abrangência do que se mostra em suas páginas. Existe toda uma cultura subterrânea para além do Paraná e que está ávida para encontrar espaço de expressão. O RelevO pode se tornar essa bússola continental. Encontrar interlocução com uma literatura e uma poesia que são estrangeiras dentro do próprio país, como a verve crua e cortante do maranhense Nauro Machado. O trabalho valoroso do editor Gabriel Cohn com sua Azougue no Rio de Janeiro, assim como a Editora Sete Letras e, porque não, até a Revista Cult. Não existe concorrência nesse meio, senão confluência. Vamos nos juntando até nos tornarmos atlânticos.

Escrevo esse texto para exorcizar as sombras desse mórbido fim de novembro na história do jornalismo e do esporte, assim como na política brasileira. Precisamos nos reinventar. Sempre. Não dá para esperar vinte anos. O avião pode cair a qualquer momento. Do luto, lutemos.

Silvio Demétrio: Krig-ha, Bandolo!

A primeira vez que tive de explicar o que era um ombudsman foi numa prova de proficiência em inglês. Foi na ECA em São Paulo, meados da década de 1990. A prova apresentava um texto sobre a legislação sueca referente à função do “ouvidor” em um jornal. Na época isso era uma novidade relativamente recente no jornalismo brasileiro. A Folha de São Paulo havia começado há algum tempo com a coluna que mantém até hoje. O primeiro ombudsman foi o jornalista Caio Túlio Costa, que foi o primeiro também a lançar um livro explicando o que era um ouvidor dos leitores de um jornal.

Quando me convidaram para assumir essa função no RelevO considerei interessante o desafio, uma vez que essa função é tradicionalmente vinculada ao jornalismo diário, o que se chama popularmente de “hard News”. Um ombudsman traça um arco crítico sobre a cobertura que um jornal realiza. Transpor isso para o contexto de um jornal de poesia e literatura requereria algum engenho. Foi aí que encontrei o desafio que me motivou.

É que desconheço algum exemplo de ombudsman que tenha trabalhado com um material estético e não noticioso.

O RelevO inovou ao implantar os mandatos dos que me antecederam. Em conversas com o editor do jornal, Daniel Zanella me explicou que cada um seguiu uma linha própria, independente, dando-me total liberdade para desenvolver meu trabalho. Parti, então, dos seguintes referenciais como modelo crítico: o ensaio Forma É Poder, que Paulo Leminski publicou no saudoso Folhetim publicado pela Folha de São Paulo em 1982, a concepção do que é uma teoria crítica segundo Max Horkheimer e de uma noção que é cara à linha da Semiótica da Cultura, a intertextualidade, muitas vezes atribuída à Bakhtin, mas que na verdade é desenvolvida de fato por Julia Kristeva.

De Leminski extraio as seguintes afirmações: “Uma prática do texto criativo, coletivamente engajada, tem a função de desautomatizar. De produzir estranhamento. Distanciamento. É desmistificação da “objetividade”inscrita no discurso naturalista. Essa objetividade é falsa. Ela apenas reflete a visão do mundo de dada classe social, de determinada civilização. Sua pretensão a “discurso absoluto” é totalitária”. Essa era sua concepção de uma linguagem crítica dentro do jornalismo cultural. Não há, portanto, segundo esse parâmetro, como ser “objetivo” no jornalismo cultural, a menos que não se queira ser acrítico (coisa que se vê em larga escala nesse modelo de jornalismo cultural como “prestação de serviço”, agenda, que vigora nas mazelas do mercado).

Ainda do poeta paranaense sigo o raciocínio do aforismo seguinte de seu ensaio: “Violação. Ruptura. Contravenção. INFRATURA. A poesia diz “eu acuso”. E denuncia a estrutura. A estrutura do Poder, emblematizada na “normalidade” da linguagem”. Poesia, portanto, é caso de exceção. Aquilo que foge às normas. Uma linguagem fluxo. Descodificação. Desterritorialização. Esse “eu acuso” de Leminski brilhantemente embutindo no enunciado a referência ao famoso Caso Dreyfus que marcou a história do jornalismo europeu a partir da leitura que Emile Zola fez dele.

Como a poesia realiza essa tarefa, então? Na minha concepção, exatamente pela dinâmica da intertextualidade, o terceiro parâmetro de nosso modelo crítico aqui para o RelevO. Intertextualidade é conversa entre textos culturais.

Nada que se escreve e publica é independente. Nada nesse sentido nasce de uma tábula rasa. Um grau zero da escrita, como diria Barthes. Existe toda uma rede de enunciados sobre o mesmo tema e de outros referentes afins que precede o corte que será feito pelo enunciado que antecipa e reage com este último. Aquilo que se pode chamar seguramente de historicidade.

É daí que entra a concepção de Horkheimer do que vem a ser uma teoria crítica. Em seu célebre texto Teoria Tradicional e Teoria Crítica, o filósofo alemão explica, entre outras coisas, que o que caracteriza uma teorização crítica é a possibilidade de se infletir uma perspectiva histórica sobre o objeto da crítica. Fazer crítica é, sobretudo, percorrer os agenciamentos do objeto em suas relações dadas pela perspectiva histórica. Aquilo que se percebe do objeto tal como ele se apresenta no quadro histórico no qual ele emerge e as linhas de derivação pelas quais esse objeto se desloca no devir do tempo.

Meu objeto é o RelevO como um todo. Não me sinto autorizado para realizar alguma crítica sobre a poética dos textos aqui publicados. Não poderia analisá-los como se notícia o fossem. Afinal, um ombudsman não faz crítica literária, senão uma espécie de media criticismo. Como tal, penso que minha função é colocar o que se constitui como publicação em relação à historicidade. Jamais eleger minhas convicções políticas como verdades, uma vez que não acredito ter convicção nenhuma sobre nada. Convicção só tem quem já parou de pensar.

Quero agradecer aqui, no corpo do texto mesmo, pelas observações do leitor Alexandre Cunha, especialmente a comparação com Gregório Duvivier. É isto que nos enche não de convicções, mas de um afeto que nos indica que estamos no caminho certo. Agora com relação ao fato de algum comentário sobrepor-se ao campo político, vamos pensar assim: desde que o oxigênio é uma necessidade comum a todo ser humano e não humano também, o próprio ato de respirar é um ato político. Só não existe política onde não existe mais vida. Xô, uruca!

Torcedor amaldiçoado

Extraído da edição 41 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.

Chicago, Estados Unidos. Noite de 14 de outubro de 2003. No tradicionalíssimo Wrigley Field, o segundo estádio mais antigo da liga americana de beisebol, uma bola rebatida pelo dominicano Luis Castillo, dos Florida Marlins, voava rumo ao canto esquerdo do campo. No chão, o domenico-americano Moisés Alou, dos Chicago Cubs, se posicionou para pegá-la no ar.

A matemática era simples: se Alou agarrasse a bolinha sem que ela caísse, Castillo estaria eliminado da rodada; o time da casa estaria muito próximo de encerrar o jogo – que vencia tranquilamente por 3 a 0 – e de acabar com a série melhor-de-sete-jogos conta os Marlins – a qual venciam por 3 a 2. Se ganhassem aquela partida, os Cubs finalmente avançariam às World Series, a grande final do certame em que não chegavam desde 1945, e teriam uma chance de ganhar o campeonato (o que acontecera pela última vez quase um século antes, em 1908).

A bola ainda estava no ar, e se aproximava de uma das arquibancadas lotadas. Moisés Alou pulou para agarrá-la, com a certeza de um título que se aproxima. Porém, algo ocorreu: três torcedores da primeira fila também tentaram pegá-la, algo que todo torcedor tenta fazer. Um deles chegou a espalmá-la. Com o toque, a bolinha de couro branco e costuras vermelhas escapou de sua trajetória rumo à luva de Alou e foi caprichosamente ao chão da arquibancada. Alou esbravejou contra o torcedor; o juiz julgou que a bola poderia, sim, ser agarrada pelo jogador dos Cubs e deu a jogada como favorável ao time adversário. (Vídeo)

Dali pra frente foi uma catástrofe. O incidente deve ter mexido com o emocional dos Cubs que, nas últimas jogadas, sofreram uma virada espetacular e perderam a partida por um surpreendente 8 a 3. As TVs espalhadas pelo estádio e por todo o país não paravam de reprisar o lance patético em que um homem de boné azul, blusa verde, óculos e fone de ouvido, em meio a outros torcedores, falha em agarrar a bola e a tira do alcance do jogador.

Para a multidão nas arquibancadas, de uma hora para a outra o campeonato parecia perdido e aquela derrota tinha um responsável bem definido: Steve Bartman, nome que o povo se encarregou de descobrir. A hostilidade começou ali mesmo, e o sujeito teve de ser escoltado para fora do estádio. (O incrível apagão técnico dos jogadores que permitiram a virada passou praticamente despercebido por torcida, comentaristas e câmeras). Na noite seguinte, os mesmos times voltaram ao mesmo campo para o jogo de desempate, os Cubs perderam e foram eliminados, e quem era o responsável? Steve Bartman, claro.

Descobriram o endereço da casa de Bartman e ela foi depredada. Bartman virou alvo de toda a sorte de piadas, esquetes humorísticas e xingamentos raivosamente apaixonados. Para fugir dos holofotes, Bartman nunca mais voltou ao estádio e recusou absolutamente todos os pedidos de entrevistas – inclusive para um tocante documentário da ESPN sobre o caso. Também foi sondado para patrocínios de vários tipos, chegando a dizer não para uma proposta de seis dígitos para um comercial do Super Bowl.

A bola do incidente foi leiloada por mais de 110 mil dólares. O comprador foi o dono de um restaurante que, após explodir a bola publicamente, ferveu o que restou e usou o vapor na produção de um molho (!). Até hoje, a cadeira em que Bartman estava sentado é conhecida como “The Steve Bartman Seat”. A família teve de se mudar e trocar o número do telefone para escapar das ligações em tom ameaçador.

Com o passar dos anos, muitos saíram em defesa de Bartman – entre estes, as crianças que jogavam no time infantil treinado por ele. O próprio Moisés Alou chegou a afirmar em uma entrevista que não conseguiria agarrar a bola, mas desmentiu a afirmação posteriormente. Seja como for, no dia 22/10, os Cubs derrotaram os Los Angeles Dodgers e finalmente se classificaram para a grande final do campeonato americano de beisebol. E, no dia 8/11, o time de Chicago venceu os Cleveland Indians no último jogo da série melhor-de-sete e conquistou o título. Steve Bartman não estava no estádio para ver essas façanhas.

[por Felipe Gollnick]

O Banho Turco

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Banho Turco, do pintor francês Jean-Auguste-Dominique Ingres, é um perfeito exemplo da corrente Orientalista, popular no século 19 na Europa após a invasão do Egito por Napoleão. Era muito comum nessa época o interesse de artistas pela estética do oriente-médio, até então uma região exótica e pouco conhecida pela alta classe europeia. Essas representações não deixam de ser romantizações paternalistas, tratando o oriente como um mundo subdesenvolvido e estático, mas nos ateremos aqui ao seu valor artístico.

Pintada quando Ingres já tinha seus 82 anos de idade, em 1862, a tela mostra um harém segundo a descrição de Lady Mary Montagu de uma viagem ao império otomano: “acredito que ali havia duzentas mulheres. Mulheres lindas e nuas em várias poses. Algumas conversando, outras tomando café ou tomando sorvete, e muitas espreguiçando-se despreocupadamente, enquanto suas escravas (geralmente lindas garotas de 18 anos) arrumavam seus cabelos em formas fantásticas“.

A produção da Enclave contou apenas 23 moças na figura, mas o efeito que se tem é de muito mais corpos. Provavelmente pelas voluptuosas curvas das musas, que se confundem e se repetem  no espaço, inclusive no formato do quadro (que originalmente era retangular, mas foi cortado pelo artista após sua execução).

A obra é também repleta de autorreferências, já que Ingres frequentemente pintava cenas desse tipo. A Grande Odalisca e A Banhista de Valpinçon são dois exemplos de pinturas citadas no processo criativo do Banho Turco.

 

 

 

 

 

 

A figura em primeiro plano no Banho Turco é praticamente uma releitura da Banhista de Valpinçon (esq). A Grande Odalisca (dir) é a obra mais infuente de Ingres e o inspirou a seguir a estética oriental

 

 

 

 

 

 

 

Elefantaria

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Você provavelmente já ouviu o termo “vitória pírrica”, aquela conquista excessivamente custosa, cujos resultados se tornam pouco compensatórios. Isso porque Pirro, rei da Macedônia e grande pedra no sapato de Roma – não confundir com Pirlo – ganhou notoriedade pelo estado acabado de seu exército após vencer a Batalha de Ásculo, na Guerra Pírrica. Vamos, no entanto, tratar de apenas uma característica de Pirro e seus comandados: a elefantaria, que significa exatamente o que parece.

(Essa ilustração não representa nenhum exército de Pirro, mas de Aníbal)

Se hoje existem tanques de guerra, drones e textos de Facebook, os elefantes já foram utilizados como excelentes artifícios bélicos. Alguns séculos antes de Cristo, tem-se registro do manuseio militar dos portadores de tromba mais famosos desse planeta. Razões não são difíceis de apontar. Como explicou sucintamente o historiador Adrian Goldsworthy: “eles são grandes, cinza, fazem barulhos estranhos e fedem: eles assustam pessoas!”. Apesar de grandalhões, os elefantes costumam ser rápidos, podendo atingir aproximadamente 40 km/h. No caso dos conflitos, eram protegidos por armaduras e acolhiam mais de um soldado montado.

Se persas e cartagineses fizeram uso desses mamíferos – nessa pintura de Charles Le Brun, Alexandre retorna com um elefante do derrotado Dario III –, a Batalha de Heracleia, pontapé inicial das Guerras Púnicas, consolidou-se como um dos momentos mais marcantes da elefantaria. Isso porque Pirro, defendendo a Magna Grécia, comandou a vitória de 35 mil homens e 20 elefantes contra 45 mil da República Romana, embora esses números não sejam muito exatos. Os romanos, que nunca haviam visto aqueles animais gigantes com trombas, sofreram um estrago.

A adoção da pólvora desestimulou o uso dos elefantes, dado que, afinal, matá-los se tornou uma tarefa muito mais fácil. Contextos militares mais recentes contam com esses mamíferos em transporte de carga ou cruzamento de terrenos específicos. Ah, sim: a aproximação do homem com o animal em questão também gerou o esmagamento por elefantes. Isso, porém, fica para outro dia.

Lista: vencedor do Prêmio Jabuti ou filme pornô?

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1. Sonhos Tropicais
2. Imaginações Pecaminosas
3. Ana em Veneza
4. Laços de Família
5. O Casarão
6. A Festa
7. Um Outro Olhar
8. O Jardim Selvagem
9. O Sexo Começa às Sete
10. As Velhas
11. Canalha!
12. Menina a Caminho
13. A Noite Escura e mais Eu
14. Reprodução
15. Ah, é?
16. Endiabrados
17. Luisa
18. O Fruto do Vosso Ventre
19. A Idade da Paixão
20. O Enterro da Cafetina
21. A Saga do Cavalo Indomado
22. O Braço Direito
23. A Mão Esquerda
24. Amor?
25. O Buraco na Parede

 

Jabuti: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 21, 22, 23, 24, 25. Pois é.

Baú: Theodore Sturgeon

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Usando os mesmos padrões que classificam 90% da ficção científica como lixo, bobagem ou cagada, pode ser dito que 90% de cinema, literatura, bens de consumo etc é lixo. Em outras palavras, a afirmação (ou fato) de que 90% da ficção científica é lixo não é, no fim das contas, informativa, porque a ficção científica obedece as mesmas tendências de qualidade que outras manifestações artísticas.

Theodore Sturgeon, 1958, no que ficou conhecida como a Lei de Sturgeon: 90% de tudo é um lixo.

Enigma May Day

Extraído da edição 40 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.

Enigma May Day (The May Day Mystery, no original) é um desses mistérios eternos da internet, do tipo que a gente nunca sabe até que ponto são verdadeiros, ou quando é que serão solucionados. Essa loucura toda consiste numa série de anúncios esquisitíssimos, codificados, que são veiculados no mesmo jornal há mais de trinta anos e até agora não foram compreendidos.

O primeiro anúncio, impresso em 1981.

De 1981 para cá, em todo dia primeiro de maio, uma mensagem criptografada dessas aparece no Arizona Daily Wildcat, o jornal dos estudantes da Universidade do Arizona, em Tucson, EUA. Essa esquisitice chamou a atenção de Bryan Hance, que cursava jornalismo e passou a trabalhar para o periódico na segunda metade da década de 1990. Com acesso a todo o acervo do jornal e à internet – coisa rara na época –, Hance resolveu pesquisar mais a fundo essa história bizarra. Criou uma página para incluir as informações reunidas e subir todos os anúncios publicados, desde o primeiro até os últimos. No site dele também existe a possibilidade de comentar as imagens e as outras evidências, então é óbvio que pessoas do mundo todo vivem lá, tentando ajudar a decifrar o mistério.

O conteúdo varia bastante, mas a grande maioria dos anúncios tende a usar alguns elementos comuns. Exemplos:

  • O acrônimo SR/CL, até hoje inexplicado;
  • Um “leitmotiv” (o tema central de cada mensagem);
  • Referências a um prêmio, oferecido a quem solucionar o quebra-cabeças;
  • Citações a datas;
  • Citações de grandes pensadores;
  • Frases em línguas estrangeiras;
  • ESSA CARINHA:

Aí o bagulho começou a ficar mais louco. Tanto Hance quanto os frequentadores mais assíduos passaram a receber e-mail de pessoas que se autodenominavam “The Orphanage” (“O Orfanato”), que seria uma sociedade secreta, responsável pelos anúncios. O pessoal d’O Orfanato fez algumas correções – parece que se ofenderam um pouco com o fato de Hance tratar os anúncios como um jogo –, disseram que os curiosos estavam no caminho certo, mas ainda muito longe. O jornalista chegou a receber algumas cartas, com moedas estrangeiras, bolinhas de gude e algumas outras coisas por correio, em casa e no trabalho – o que mostra que eles sabem muito bem quem ele é.

O anúncio de 2015 trouxe até uma citação a Carlos Drummond de Andrade. Vai vendo.

É difícil precisar quanto disso é real e quanto é apenas uma brincadeira fabricada por gente que não tem muito o que fazer. O fato é que, quem quer que esteja por trás disso, está investindo muito tempo: Hance explicou que a mensagem mais antiga registrada é de 1981 porque os arquivos do jornal só vão até lá, mas existem indícios de que o mistério pode ter começado lá em 1973. Além disso, se trata de gente rica ou poderosa, porque anunciar no Atlanta Daily Wildcat não é barato.

Se quiser colaborar com a solução do enigma, entender mais sobre o assunto, ou só conhecer gente maluca, você pode entrar no grupo do Facebook do May Day Mystery, ou na página do Reddit. Além disso, tem tudo no site oficial do cara. É user friendly? Longe disso, mas é uma página realmente completa. Quem sabe você não encontra o prêmio?

Museu Livre de Glúten

Extraído da edição 40 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.

Se você gosta de artes e é celíaco, tem alergia ao trigo ou simplesmente acha que não comer glúten é uma opção mais saudável (não é), não deixe de conferir o Museu Livre de Glúten, um tumblr que retira tudo que contém glúten de várias obras de arte – não só de pinturas –, deixando-as mais palatáveis a quem sofre de intolerância a cereais como trigo, cevada e centeio.