Varg Vikernes

Extraído da edição 42 da Enclave, a newsletter do Jornal RelevO. A Enclave, cujo arquivo inteiro está aqui, pode ser assinada gratuitamente.

Eis um conjunto de histórias bastante conhecido entre os fãs de black metal norueguês – eles são vários, aliás. Poucas bandas, afinal, incluem em sua linha do tempo [SPOILER] não só um suicídio de reações mórbidas, mas também um assassinato entre integrantes. Falemos, então, do Mayhem, cujas lendas tomaremos todas como verdade absoluta nesta pequena introdução.

Entre as décadas 1980 e 1990, o líder do grupo era o sueco Per Ohlin, mais conhecido como Dead, cuja infância havia sido marcada pelos minutos em que esteve clinicamente morto graças a uma ruptura do baço. Para entrar no Mayhem, Dead enviou à banda uma fita acompanhada por uma carta e um rato crucificado. Ele usava camisetas com anúncios de funeral, raramente se alimentava e visava, nos shows, a parecer o mais próximo possível com um cadáver.

O vocalista não só enterrava as roupas antes de usá-las, como chegou a pedir para ser enterrado antes de uma apresentação. Dead guardava um corvo morto consigo, além de pássaros igualmente sem vida embaixo de sua cama. Cortar-se no palco restava como mera extensão, e arremessar cabeças de porco no público servia para afastar os fãs que lá estavam de pagação.

Em 1991, três dos quatro integrantes do Mayhem dividiam a moradia de uma casa na qual costumavam ensaiar. Conta-se que Euronymous, guitarrista – guarde este nome –, atiçava as ideias suicidas de Dead, bem como as corriqueiras automutilações. Em dado momento, Dead cortou os próprios pulsos e deu um tiro de shotgun na própria face. Dead deixou um recado em que pedia desculpas por dar um tiro dentro do lar – “perdoem o sangue” era a primeira frase.

As consequências realmente perturbadoras estão apenas começando: antes de comunicar a polícia, Euronymous rearranjou alguns elementos daquele cenário e o fotografou com uma câmera descartável. Também utilizou partes do cérebro de Dead em um ensopado – com o crânio, fez colares, os quais foram entregues a outros músicos como presente.

As reações do guitarrista se tornaram grotescas até para o padrão da banda: Necrobutcher, o baixista, afirmou que foi informado do suicídio de Dead com uma ligação de Euronymous, que se limitou a narrar que “Dead fez algo muito legal! Ele se matou. Relaxa, eu tenho fotos de tudo”. Necrobutcher deixou o grupo. Anos depois, uma das fotografias do suicídio foi utilizada como capa de um álbum bootleg, não lançado oficialmente pelo próprio Mayhem. Não direcionaremos à imagem: se você fizer questão, procure no lamaçal da internet.

Com apenas guitarrista e baterista remanescentes, Euronymous fundou uma loja de discos e gravadora em Oslo, na qual costumava se reunir com outros nomes da cena, dentre os quais Varg Vikernes, do Burzum, o qual viria a se notabilizar pelas acusações de queimar igrejas. Apesar de não ter sido oficialmente culpado, uma onda de incêndios a igrejas norueguesas no início dos anos 1990 foi atribuída a ele. Foram mais de 50 depredações até 1996 por parte de um grupo que não ia muito com a cara do cristianismo. Uma das igrejas queimadas chegou a ser capa do EP Aske (cinzas), do Burzum.

A relação entre Euronymous e Vikernes se fortaleceu, este último surgindo como um pupilo na vida do primeiro. Vikernes foi convidado para participar de um reformulado Mayhem, enquanto Euronymous colaborava com as gravações do Burzum. Aparentemente, ambos competiam para ver quem era o mais cabuloso.

Em 1993, Vikernes conseguiu exponenciar a atenção dada ao black metal: ao conseguir uma entrevista com o jornal BT, ele assumiu responsabilidade pelas igrejas queimadas, bem como anunciou que, enquanto adorador do diabo, o mau estava apenas começando. A entrevista ocupou a primeira página do periódico em 20 de janeiro. O músico, que manteve o intuito de meramente tocar terror, foi preso logo em seguida. “[A prisão] é completamente ridícula. Eu pedi para a polícia me jogar em um calabouço de verdade e também os encorajei a usar violência”. Por falta de evidência, foi solto ainda em março.

Essa não seria a única passagem de Varg Vikernes pela prisão, o que nos leva ao desfecho dessas narrativas ramificadas. Após a repercussão da entrevista, Euronymous fechou sua loja de discos. Enquanto isso, cresciam as tensões entre a dupla, a ponto de, em agosto, Vikernes visitar Euronymous e, bom, assassiná-lo com 23 facadas (duas no rosto, cinco no pescoço e 16 nas costas). Nesta entrevista, ele se justifica. O documentário Until the Light Takes us (2008), aliás, acompanha todo esse período de exposição do black metal norueguês.

Ao todo, foram 15 anos de encarceramento, entre 1994 a 2009. Com seu projeto Burzum, Vikernes lançou dois discos na prisão, Dauði Baldrs (1997) e Hliðskjálf (1999). Apenas sintetizadores foram utilizados: ele não tinha acesso a guitarras, baixos ou baterias. Varg Vikernes ainda compõe músicas e tece comentários políticos. Ele vive com esposa e filhos em uma fazenda e, tecnicamente, pode ser considerado um youtuber.

Highbury

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Em 1992, o Arsenal, clube londrino de futebol, reformava o Highbury, seu estádio. O North Bank, setor norte do lar do clube, deixava de ser um standing terrace – onde torcedores ficam em pé, apoiados em algumas barras de metal – pra dar lugar a confortáveis cadeiras dispostas em dois andares. Enquanto a obra acontecia, a seção foi desativada e foi montado um painel pintado que simulava a torcida, transformando a área de trás de um dos gols num paredão, como mostra a foto a seguir.

Além do efeito visual curioso em um estádio de futebol, o conteúdo do painel se mostrou bastante controverso: primeiro, foi criticado por não ter negros o suficiente (o Arsenal era o time com a maior torcida entre negros na Inglaterra). A pintura foi então alterada para corrigir o erro. Pouco depois foi levantada a questão de que havia crianças aparentemente sozinhas, ou perto de adultos que não pareciam ser seus pais. Assim, todas as crianças foram colocadas perto de adultos e pintadas da mesma cor do adulto mais próximo. Mas notaram que nenhuma criança estava perto de mulheres, e que mulheres estavam sub-representadas no geral.

Mil mulheres foram adicionadas, incluindo moças portando sarisburkas e vestimentas tradicionais africanas. Quatro freiras foram inseridas, sendo que uma delas foi atingida no rosto por um chute de Lee Dixon no primeiro jogo. Cinquenta sikhs também foram adicionados, com suas tradicionais espadas cerimoniais, que foram mais tarde retiradas por recomendação da polícia.

Mais tarde, houve rumores de que a pintura tinha sido alterada novamente, para adicionar mais homossexuais. Embora isso não tenha sido feito, chegaram reclamações de que gays haviam sido colocados perto de mulheres e crianças. O clube, junto a organizações de direitos homossexuais, soltou uma nota dizendo que nenhuma alteração tinha sido feita, e que gays não têm aparência diferente das outras pessoas, e não são uma ameaça a mulheres, crianças ou partidas de futebol.

Steve Bould, ícone do Arsenal durante os anos 1990, conta um pouco de sua experiência com o painel em uma entrevista: “o mural era esquisito: todas aqueles rostos pintados, em silêncio, olhando pra você. No primeiro jogo com ele, estávamos ganhando do Norwich de 2 a 0 e perdemos de 3 a 2 no fim. Isso resume bem como era o sentimento de jogar em frente àquele painel”. Um trecho de uma partida com o paredão pintado pode ser visto aqui.

O mural veio abaixo no ano seguinte, com a conclusão das obras. Não deixou saudades.

David Toschi

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David Toschi

No cinema, uma mesma pessoa viva serviu como base para três personagens diferentes, em três filmes diferentes, com três atores diferentes, em três décadas diferentes. Trata-se de David Toschi, tido como inspiração direta e indireta para Steve McQueen, em Bullitt (1968), Clint Eastwood, em Dirty Harry (1971), e Mark Ruffalo, emZodíaco (2007). Nada mal.

Toschi, hoje com 85 anos, foi policial em São Francisco entre 1952 e 1983. Nesse meio tempo, recebeu McQueen para ver imortalizada, mais do que qualquer outra coisa, a posição de seus coldres, iconicamente apoiados no ombro – vide a fotografia acima. Frank Bullitt, protagonista interpretado pelo descoladíssimo Steve McQueen, logo ganharia notoriedade pelas cenas de perseguição automobilística que fazem de Velozes e Furiosos uma Via Calma. A trilha sonora que Lalo Schifrin compôs para o longa-metragem de Peter Yates também é de se admirar.

O que nos leva a Dirty Harry, ou Perseguidor Implacável, de Don Siegel e com Clint Eastwood, cujo protagonista Harry Calahan parte de Dave Toschi, àquela época já ocupado com o caso do Zodíaco. O assassino, até hoje alvo de discussões, também serviu como base para o vilão Scorpio. A trilha sonora, coincidentemente também assinada por Lalo Schifrin, não coincidentemente é também extraordinária.

Zodíaco, de David Fincher, por sua vez, foi o primeiro deles a retratar o próprio Dave Toschi, justamente durante o caso que dá título à película. No filme, um Mark Ruffalo menos rústico que McQueen e Eastwood não só se utiliza dos coldres nos ombros, como também assiste a Dirty Harry no cinema, em uma cena que faz referência direta às extrapolações de representação na ficção. O policial chegou a auxiliar a produção da obra: ele foi oficialmente listado como consultor técnico.

[Obrigado, Cassio Oliveira!]

A Chegada dos Húngaros

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Muito antes do recurso ‘360º’ do Facebook para visualizar fotos e filmes panorâmicos, o pintor húngaro Árpád Feszty pintou um painel cíclico chamado A Chegada dos Húngaros. A colossal obra de 1760 metros quadrados foi finalizada em 1894 e está exposta hoje no Ópusztaszer National Heritage Park (uma espécie de Inhotim húngaro). A pintura retrata o momento da invasão dos Magiares, a tribo-líder da aliança húngara, no território que viria a se tornar o país que conhecemos hoje, por volta do ano 900. Link da coisa toda aqui.

[por Bolívar Escobar]

Lista: roupas, ornamentos e suas inspirações históricas

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Nehru jacket — Jawaharlal Neru

Mao suit / Zhongshan suit — Sun Yat-sen / Mao Zedong

Mao suit / Zhongshan suit — Sun Yat-sen / Mao Zedong

(E Blofeld, vilão de 007)

Galocha / Wellington boot — Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington

Galocha / Wellington boot — Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington

Galocha / Wellington boot — Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington

Blusão / Camicia Rossa — Giuseppe Garibaldi

Blusão / Camicia Rossa — Giuseppe Garibaldi

Blusão / Camicia Rossa — Giuseppe Garibaldi

Cardigan — James Brudenell, 7º Earl de Cardigan

Cardigan — James Brudenell, 7º Earl de Cardigan

Cardigan — James Brudenell, 7º Earl de Cardigan

Balaclava — Batalha de Balaclava / Vila de Balaclava

Balaclava — Batalha de Balaclava / Vila de Balaclava

Balaclava — Batalha de Balaclava / Vila de Balaclava

Colar elizabetano — Isabel I (Elizabeth)

Colar elizabetano — Isabel I (Elizabeth)

Colar elizabetano — Isabel I (Elizabeth)

Baú: Richard Hughes

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Existe uma história de uma célebre dançarina russa, a qual foi perguntada por alguém sobre o que significava determinada dança. Ela respondeu com alguma exasperação: ‘se eu pudesse dizê-lo em tantas palavras, você acha que eu teria todo o trabalho de dançar?’.
Richard Hughes, prefácio de The Sound and the Fury (William Faulkner).

Torcedor amaldiçoado

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Chicago, Estados Unidos. Noite de 14 de outubro de 2003. No tradicionalíssimo Wrigley Field, o segundo estádio mais antigo da liga americana de beisebol, uma bola rebatida pelo dominicano Luis Castillo, dos Florida Marlins, voava rumo ao canto esquerdo do campo. No chão, o domenico-americano Moisés Alou, dos Chicago Cubs, se posicionou para pegá-la no ar.

A matemática era simples: se Alou agarrasse a bolinha sem que ela caísse, Castillo estaria eliminado da rodada; o time da casa estaria muito próximo de encerrar o jogo – que vencia tranquilamente por 3 a 0 – e de acabar com a série melhor-de-sete-jogos conta os Marlins – a qual venciam por 3 a 2. Se ganhassem aquela partida, os Cubs finalmente avançariam às World Series, a grande final do certame em que não chegavam desde 1945, e teriam uma chance de ganhar o campeonato (o que acontecera pela última vez quase um século antes, em 1908).

A bola ainda estava no ar, e se aproximava de uma das arquibancadas lotadas. Moisés Alou pulou para agarrá-la, com a certeza de um título que se aproxima. Porém, algo ocorreu: três torcedores da primeira fila também tentaram pegá-la, algo que todo torcedor tenta fazer. Um deles chegou a espalmá-la. Com o toque, a bolinha de couro branco e costuras vermelhas escapou de sua trajetória rumo à luva de Alou e foi caprichosamente ao chão da arquibancada. Alou esbravejou contra o torcedor; o juiz julgou que a bola poderia, sim, ser agarrada pelo jogador dos Cubs e deu a jogada como favorável ao time adversário. (Vídeo)

Dali pra frente foi uma catástrofe. O incidente deve ter mexido com o emocional dos Cubs que, nas últimas jogadas, sofreram uma virada espetacular e perderam a partida por um surpreendente 8 a 3. As TVs espalhadas pelo estádio e por todo o país não paravam de reprisar o lance patético em que um homem de boné azul, blusa verde, óculos e fone de ouvido, em meio a outros torcedores, falha em agarrar a bola e a tira do alcance do jogador.

Para a multidão nas arquibancadas, de uma hora para a outra o campeonato parecia perdido e aquela derrota tinha um responsável bem definido: Steve Bartman, nome que o povo se encarregou de descobrir. A hostilidade começou ali mesmo, e o sujeito teve de ser escoltado para fora do estádio. (O incrível apagão técnico dos jogadores que permitiram a virada passou praticamente despercebido por torcida, comentaristas e câmeras). Na noite seguinte, os mesmos times voltaram ao mesmo campo para o jogo de desempate, os Cubs perderam e foram eliminados, e quem era o responsável? Steve Bartman, claro.

Descobriram o endereço da casa de Bartman e ela foi depredada. Bartman virou alvo de toda a sorte de piadas, esquetes humorísticas e xingamentos raivosamente apaixonados. Para fugir dos holofotes, Bartman nunca mais voltou ao estádio e recusou absolutamente todos os pedidos de entrevistas – inclusive para um tocante documentário da ESPN sobre o caso. Também foi sondado para patrocínios de vários tipos, chegando a dizer não para uma proposta de seis dígitos para um comercial do Super Bowl.

A bola do incidente foi leiloada por mais de 110 mil dólares. O comprador foi o dono de um restaurante que, após explodir a bola publicamente, ferveu o que restou e usou o vapor na produção de um molho (!). Até hoje, a cadeira em que Bartman estava sentado é conhecida como “The Steve Bartman Seat”. A família teve de se mudar e trocar o número do telefone para escapar das ligações em tom ameaçador.

Com o passar dos anos, muitos saíram em defesa de Bartman – entre estes, as crianças que jogavam no time infantil treinado por ele. O próprio Moisés Alou chegou a afirmar em uma entrevista que não conseguiria agarrar a bola, mas desmentiu a afirmação posteriormente. Seja como for, no dia 22/10, os Cubs derrotaram os Los Angeles Dodgers e finalmente se classificaram para a grande final do campeonato americano de beisebol. E, no dia 8/11, o time de Chicago venceu os Cleveland Indians no último jogo da série melhor-de-sete e conquistou o título. Steve Bartman não estava no estádio para ver essas façanhas.

[por Felipe Gollnick]

O Banho Turco

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Banho Turco, do pintor francês Jean-Auguste-Dominique Ingres, é um perfeito exemplo da corrente Orientalista, popular no século 19 na Europa após a invasão do Egito por Napoleão. Era muito comum nessa época o interesse de artistas pela estética do oriente-médio, até então uma região exótica e pouco conhecida pela alta classe europeia. Essas representações não deixam de ser romantizações paternalistas, tratando o oriente como um mundo subdesenvolvido e estático, mas nos ateremos aqui ao seu valor artístico.

Pintada quando Ingres já tinha seus 82 anos de idade, em 1862, a tela mostra um harém segundo a descrição de Lady Mary Montagu de uma viagem ao império otomano: “acredito que ali havia duzentas mulheres. Mulheres lindas e nuas em várias poses. Algumas conversando, outras tomando café ou tomando sorvete, e muitas espreguiçando-se despreocupadamente, enquanto suas escravas (geralmente lindas garotas de 18 anos) arrumavam seus cabelos em formas fantásticas“.

A produção da Enclave contou apenas 23 moças na figura, mas o efeito que se tem é de muito mais corpos. Provavelmente pelas voluptuosas curvas das musas, que se confundem e se repetem  no espaço, inclusive no formato do quadro (que originalmente era retangular, mas foi cortado pelo artista após sua execução).

A obra é também repleta de autorreferências, já que Ingres frequentemente pintava cenas desse tipo. A Grande Odalisca e A Banhista de Valpinçon são dois exemplos de pinturas citadas no processo criativo do Banho Turco.

 

 

 

 

 

 

A figura em primeiro plano no Banho Turco é praticamente uma releitura da Banhista de Valpinçon (esq). A Grande Odalisca (dir) é a obra mais infuente de Ingres e o inspirou a seguir a estética oriental

 

 

 

 

 

 

 

Elefantaria

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Você provavelmente já ouviu o termo “vitória pírrica”, aquela conquista excessivamente custosa, cujos resultados se tornam pouco compensatórios. Isso porque Pirro, rei da Macedônia e grande pedra no sapato de Roma – não confundir com Pirlo – ganhou notoriedade pelo estado acabado de seu exército após vencer a Batalha de Ásculo, na Guerra Pírrica. Vamos, no entanto, tratar de apenas uma característica de Pirro e seus comandados: a elefantaria, que significa exatamente o que parece.

(Essa ilustração não representa nenhum exército de Pirro, mas de Aníbal)

Se hoje existem tanques de guerra, drones e textos de Facebook, os elefantes já foram utilizados como excelentes artifícios bélicos. Alguns séculos antes de Cristo, tem-se registro do manuseio militar dos portadores de tromba mais famosos desse planeta. Razões não são difíceis de apontar. Como explicou sucintamente o historiador Adrian Goldsworthy: “eles são grandes, cinza, fazem barulhos estranhos e fedem: eles assustam pessoas!”. Apesar de grandalhões, os elefantes costumam ser rápidos, podendo atingir aproximadamente 40 km/h. No caso dos conflitos, eram protegidos por armaduras e acolhiam mais de um soldado montado.

Se persas e cartagineses fizeram uso desses mamíferos – nessa pintura de Charles Le Brun, Alexandre retorna com um elefante do derrotado Dario III –, a Batalha de Heracleia, pontapé inicial das Guerras Púnicas, consolidou-se como um dos momentos mais marcantes da elefantaria. Isso porque Pirro, defendendo a Magna Grécia, comandou a vitória de 35 mil homens e 20 elefantes contra 45 mil da República Romana, embora esses números não sejam muito exatos. Os romanos, que nunca haviam visto aqueles animais gigantes com trombas, sofreram um estrago.

A adoção da pólvora desestimulou o uso dos elefantes, dado que, afinal, matá-los se tornou uma tarefa muito mais fácil. Contextos militares mais recentes contam com esses mamíferos em transporte de carga ou cruzamento de terrenos específicos. Ah, sim: a aproximação do homem com o animal em questão também gerou o esmagamento por elefantes. Isso, porém, fica para outro dia.

Lista: vencedor do Prêmio Jabuti ou filme pornô?

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1. Sonhos Tropicais
2. Imaginações Pecaminosas
3. Ana em Veneza
4. Laços de Família
5. O Casarão
6. A Festa
7. Um Outro Olhar
8. O Jardim Selvagem
9. O Sexo Começa às Sete
10. As Velhas
11. Canalha!
12. Menina a Caminho
13. A Noite Escura e mais Eu
14. Reprodução
15. Ah, é?
16. Endiabrados
17. Luisa
18. O Fruto do Vosso Ventre
19. A Idade da Paixão
20. O Enterro da Cafetina
21. A Saga do Cavalo Indomado
22. O Braço Direito
23. A Mão Esquerda
24. Amor?
25. O Buraco na Parede

 

Jabuti: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 21, 22, 23, 24, 25. Pois é.

Baú: Theodore Sturgeon

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Usando os mesmos padrões que classificam 90% da ficção científica como lixo, bobagem ou cagada, pode ser dito que 90% de cinema, literatura, bens de consumo etc é lixo. Em outras palavras, a afirmação (ou fato) de que 90% da ficção científica é lixo não é, no fim das contas, informativa, porque a ficção científica obedece as mesmas tendências de qualidade que outras manifestações artísticas.

Theodore Sturgeon, 1958, no que ficou conhecida como a Lei de Sturgeon: 90% de tudo é um lixo.

Enigma May Day

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Enigma May Day (The May Day Mystery, no original) é um desses mistérios eternos da internet, do tipo que a gente nunca sabe até que ponto são verdadeiros, ou quando é que serão solucionados. Essa loucura toda consiste numa série de anúncios esquisitíssimos, codificados, que são veiculados no mesmo jornal há mais de trinta anos e até agora não foram compreendidos.

O primeiro anúncio, impresso em 1981.

De 1981 para cá, em todo dia primeiro de maio, uma mensagem criptografada dessas aparece no Arizona Daily Wildcat, o jornal dos estudantes da Universidade do Arizona, em Tucson, EUA. Essa esquisitice chamou a atenção de Bryan Hance, que cursava jornalismo e passou a trabalhar para o periódico na segunda metade da década de 1990. Com acesso a todo o acervo do jornal e à internet – coisa rara na época –, Hance resolveu pesquisar mais a fundo essa história bizarra. Criou uma página para incluir as informações reunidas e subir todos os anúncios publicados, desde o primeiro até os últimos. No site dele também existe a possibilidade de comentar as imagens e as outras evidências, então é óbvio que pessoas do mundo todo vivem lá, tentando ajudar a decifrar o mistério.

O conteúdo varia bastante, mas a grande maioria dos anúncios tende a usar alguns elementos comuns. Exemplos:

  • O acrônimo SR/CL, até hoje inexplicado;
  • Um “leitmotiv” (o tema central de cada mensagem);
  • Referências a um prêmio, oferecido a quem solucionar o quebra-cabeças;
  • Citações a datas;
  • Citações de grandes pensadores;
  • Frases em línguas estrangeiras;
  • ESSA CARINHA:

Aí o bagulho começou a ficar mais louco. Tanto Hance quanto os frequentadores mais assíduos passaram a receber e-mail de pessoas que se autodenominavam “The Orphanage” (“O Orfanato”), que seria uma sociedade secreta, responsável pelos anúncios. O pessoal d’O Orfanato fez algumas correções – parece que se ofenderam um pouco com o fato de Hance tratar os anúncios como um jogo –, disseram que os curiosos estavam no caminho certo, mas ainda muito longe. O jornalista chegou a receber algumas cartas, com moedas estrangeiras, bolinhas de gude e algumas outras coisas por correio, em casa e no trabalho – o que mostra que eles sabem muito bem quem ele é.

O anúncio de 2015 trouxe até uma citação a Carlos Drummond de Andrade. Vai vendo.

É difícil precisar quanto disso é real e quanto é apenas uma brincadeira fabricada por gente que não tem muito o que fazer. O fato é que, quem quer que esteja por trás disso, está investindo muito tempo: Hance explicou que a mensagem mais antiga registrada é de 1981 porque os arquivos do jornal só vão até lá, mas existem indícios de que o mistério pode ter começado lá em 1973. Além disso, se trata de gente rica ou poderosa, porque anunciar no Atlanta Daily Wildcat não é barato.

Se quiser colaborar com a solução do enigma, entender mais sobre o assunto, ou só conhecer gente maluca, você pode entrar no grupo do Facebook do May Day Mystery, ou na página do Reddit. Além disso, tem tudo no site oficial do cara. É user friendly? Longe disso, mas é uma página realmente completa. Quem sabe você não encontra o prêmio?

Museu Livre de Glúten

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Se você gosta de artes e é celíaco, tem alergia ao trigo ou simplesmente acha que não comer glúten é uma opção mais saudável (não é), não deixe de conferir o Museu Livre de Glúten, um tumblr que retira tudo que contém glúten de várias obras de arte – não só de pinturas –, deixando-as mais palatáveis a quem sofre de intolerância a cereais como trigo, cevada e centeio.

Codex Leicester

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Codex Leicester, também batizado de Codex Hammer, é o mais famoso caderno científico de Leonardo da Vinci. No decorrer de 72 páginas, o manuscrito, que apresenta a característica escrita espelhada do autor, aborda temas como astronomia, as propriedades da água e de fósseis. Além disso, as observações são apoiadas por desenhos e diagramas do italiano.

Desde a morte de seu autor, em 1519, poucos foram os seus donos. Após mais de duzentos anos nas mãos da mesma família, o manuscrito foi adquirido em leilão por mais de 5 milhões de dólares pelo empresário Armand Hammer, em 1980. Hammer investiu na tradução do documento para o inglês, contratando para o projeto o historiador italiano Carlo Pedretti, que precisou de sete anos para finalizá-lo.

Em 1994, novamente, o documento foi colocado à venda em leilão. Dessa vez, acabou vendido por mais de 30 milhões de dólares, fazendo do manuscrito o mais caro da história. O comprador? Bill Gates. Três anos após comprá-lo, o fundador da Microsoft o escaneou e o tornou acessível ao público. Partes do códice podem ser folheadas aqui, e é possível comprar uma versão digital por 20 euros aqui.

Lista: ópera francesa ou cavalo medalhista olímpico?

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1. Rahotep de Toscane
2. Qing du Briot
3. Pelléas et Mélisande
4. Piaf de B’Neville
5. Robert Le Diable
6. Le Prophète
7. Voyeur
8. Lakmé
9. La Juive
10. Rêveur de Hurtebise
11. Samourai du Thot
12. L’Amant Jaloux
13. Nino des Buissonnets
14. Noblesse des Tess
15. Le Déserteur
16. Cendrillon
17. Vindicat
18. Le Domino Noir
19. L’Africaine
20. Diva Royal

Cavalo: 1, 2, 4, 7, 10, 11, 13, 14, 17, 20.
Ópera: 3, 5, 6, 8, 9, 12, 15, 16, 18, 19.